segunda-feira, 16 de novembro de 2009

1996.

Ele amava a delicadeza com a qual ela depilava as pernas, a delicadeza com a qual roçava suas pernas na dele. Ele amava dormir abraçado em seu corpo pequeno e quente. O ápice de seus dias, acontecia pela manhã, quando ela dava seu primeiro sorriso. Nada, para ele, era mais belo do que seus olhos estrábicos depois de algumas doses de tequila. Via graça em sua mania de mordiscar o canto esquerdo do lábio enquanto dedilhava o violão. Ela tinha sido seu presente na madrugada do Natal de 1996. Não tinha sido entregue pela lareira, tinha caído diretamente do céu. Na queda, machucou-se um pouco, feriu suas asas. Sua cicatriz debaixo do queixo doía nele mais do qualquer outra coisa. Era a partilha da dor que tornáva-os tão próximos. Ele via beleza em todos os seus defeitos, especialmente naqueles que, de alguma forma, machuvam-no. Ela não poupava palavras na hora de fazê-lo menor. Nada em seu amor era-lhe suficiente. Ela repudiava a forma como ele assistia-a escolher um vestido, adorando cada pedaço de seu corpo. Dava-lhe ânsia saber que não bastava a realidade, que ele ainda fazia questão de tê-la em seus sonhos. Não que não amasse-o, pois amava. Amava-o com a obrigação de não deixá-lo só como estava na madrugada em que conheceu-o. Perdido, apoiando-se nas paredes. Acima de tudo, ele amava a forma como ela desgostava de seu amor. E por isso, amava-a mais.

Um comentário:

Hanna disse...

Muito bom, gostei.