segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Passaporte.

Escreverei-te uma carta, esperando não ser de definitiva despedida. Falarei sobre os campos cobertos de girassóis pelos quais passei, e de como quis vê-los contigo, de como imaginei seus olhos atados àquela paisagem intimidadora. Reparando naquela mescla de cores, visualizei seu sorriso infantil ao vê-la. Comentarei sobre o tempo frio, que tornou-se de impossível convivência. Direi o quão bobo pareço coberto de inúmeras camadas de lã e algodão, e imaginarei-te imaginando-me desta forma, sei que há de gargalhar ininterruptamente por alguns segundos, e depois encerrará as gargalhadas com um suspiro, voltando seus olhos para minha letra descuidada. Levará um susto quando minhas letras anunciarem a proximidade de meu corpo a outro, e esperarei que saibas que, no fundo, foi apenas uma maneira de fazer-te preocupada. Direi estar, no momento em que escrevo, bebendo uma taça de um belo vinho, cujo aroma frutado lembra-me de seu perfume, mas nas entrelinhas deixarei claro que tal perfume nunca escapou-me da lembrança. Contarei como a foto tua que carrego, traz-me saudade, escondendo outras sensações. Terminarei dizendo-te que em breve estarei de volta, que sinto saudades de casa. Esperarei que lembre-se de que não tenho uma, e ofereça-me a tua. Aí então eu largaria a máscara por detrás do envelope selado, compraria uma passagem, e apareceria na tua porta, ajoelhado.

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