domingo, 22 de novembro de 2009

Dois de Costas.

O que passava-se por detrás daqueles verdes olhos era uma caixa de Pandora. Eram olhos curiosos, intrigantes, mas seus segredos, quando descobertos, poderiam fugir do controle. Era possuidora de um bom gosto homérico. Degustava dos melhores vinhos, punha para tocar os maiores clássicos, conhecia de cor as mais aclamadas obras literárias. Exibia-se ao público com aquele velho ar esnobe, desprezava qualquer quase todo o tipo de companhia. Quando em festas, checava seu relógio de pulso a cada dois minutos, até que somassem-se dez e ela sentisse-se no direito de retirar-se. Seguia até sua casa, com uma calma irritante, como se estivesse rumo a uma cadeira elétrica.
O que passava-se por detrás daqueles dourados olhos era como um artigo de jornal. Eram olhos explicativos, claros, mas seus erros, quando descobertos, poderiam fugir dos padrões. Era possuidora de um mau gosto mixo. Engolia as piores cachaças, punha para tocar as "melhores da semana", conhecia de cor a programação da televisão. Escandalizava-se para o público com aquele velho ar efusivo, aceitava qualquer tipo de companhia. Quando em festas, dava seu telefone a cada dois rapazes que pediam, até que somassem-se dez e ela sentisse no direito de entregar-se. Seguia até a casa dele, com um ânimo contagiante, como se estivesse rumo ao berçário.

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