quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Defunto.

Assustei-me. Assustei-me quando enxerguei-te de pé. Parecia uma linha perpendincular ao horizonte. Quando foi que tornou-se tão magro? Assustei-me ainda mais quando enxerguei-te de perto. Nem uma máscara esconderia os buracos abaixo de teus olhos. Quando foi que tornou-se tão mórbido? Desde que lembro-me - e minha memória, sabes bem, nunca foi pouca -, seu corpo escandalizava em carne e vida. Diga-me, o que aconteceu? Caístes de um prédio ou caístes em si? O que mostras agora por fora, parece-me exatamente o que vi quando entrei um pouco em ti. Esquelético, ossos, só ossos, nada que batesse, nada que pulsasse, nada que valesse, ou que vivesse, ou que tentasse. Morto, é isso que sempre fora, é isso que sempre será. Levou bastante tempo para que percebesse. Tirou algum tempo para tentar levar-me contigo. O que levou foi um pouco de vida, de minha vida, em forma de tempo, em forma de coração.

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