quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cansa.

Era a tristeza que tornava-a tão sorridente. Era a intimidade que tornava-os tão silenciosos. Era a partilha dos males que tornava-os tão próximos. Era ela sabendo da existência dele. E ele tentando dar, em seus sonhos, uma feição a ela. Era a vontade de acreditar, e a dificuldade de acreditar com vontade. Foram as idas solitárias ao cinema, a pipoca ficando sempre na metade, os dois canudos para uma boca só. Foram os sussurros em forma de música, os sussurros em forma de gente. Foram eles olhando para a gente, e a gente olhando um para o outro. Era a nossa tristeza que tornava-nos tão sorridentes. Era a falta de intimidade que tornava-nos tão falantes. Era a partilha dos bens que tornava-nos tão distantes. Era eu sabendo da sua presença. E você tentando dar, em seus pesadelos, um fim a mim. Era a vontade de desacreditar, e a facilidade de acreditar sem vontade. Foram as idas acompanhadas ao cinema, a pipoca acabando, um canudo só para duas bocas. Foram os sussurros em forma de grito, os gritos em forma da gente. Foi a gente olhando para eles, e eles querendo olhar um para o outro. Foi a tristeza que tornou-me tão sorridente. Foi a intimidade que tornou-me tão silenciosa. Foi a partilha de coisa alguma que tornou-me imóvel. Fui eu sabendo da inexistência de alguém. E alguém, em meus sonhos, tentando dar existência a mim.

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