sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Paternidade.

Quando pequena, sentada no colo de seu pai, sentia-se protegida de todos os males, como se nenhum monstro ou bicho-papão pudesse alcançá-la. Crescida, sentada ao lado de seu pai, sentia-se suscetível a todos os males, como se um raio só caísse com a certeza de cair duas vezes em um mesmo lugar. Seu pai tinha ganhado alguns traços de velhice prematura, perdido um pouco do ar protetor. Agora, parecia sabido e experiente, mas incapaz de carregá-la para sua cama quando ela acordava atordoada com um pesadelo. Os pesadelos, com os anos, tornaram-se mais frequentes, especialmente quando acordada. Antes, sentada no colo de seu pai, encostando sua cabeça na dele, imaginava a vida como um belo sonho, calculado e perfeito. Depois de conhecê-la mais de perto, via o quão devastadora poderia ser. Sentada ao lado dele, reparando em suas marcas de expressão, via marcas da vida. Não eram tão fortes os rastros de sorrisos, não tanto quanto os de preocupação. Tivera tanto medo de seus monstros infantis, que esquecera dos monstros alheios. Todas as vezes em que acordara aos prantos no meio da madrugada, estavam marcadas no rosto de seu pai. Que agora, ali sentado, procurava descanso. Sugerindo que ela deveria procurar outro lugar para proteger-se.

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