quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Pesadelo Favorito.

O que passava-se na cabeça dos dois era um dos mistérios da vida. Quando em um mesmo espaço público ignoravam a presença um do outro, riam escandalosamente e erguiam suas taças de vinho seco frutado. Ela punha seu tronco para frente, insinuando-se para outros rapazes. Ele encostava-se na parede, cruzava os braços e deixava sua voz soar o mais grave e suave possível. Fingiam não saber, mas todos sabiam de seu passado. Tinham sido amigos, depois amantes, depois inimigos, depois amantes, e então, tornaram-se conhecidos. Disfarçavam dando um a outro um pseudônimo. João era Pedro, depois Henrique, Fernando, André. Fernanda era Gabriela, depois Maria, Júlia, Larissa. E seus fins de semana sempre tinham sido festa, viagem para Paris, curso intensivo de pilates. Quando em quatro paredes, exploravam todo o espaço, desafiavam as leis da gravidade. Elevavam-se à altura do céu, flutuavam. Depois trocavam olhares. Sentavam-se longe. Partilhavam o silêncio. E então era feita a promessa de ser a última vez. E trocavam os olhares por ofensas. E terminavam ali o que não sabiam como havia começado. E despediam-se com frieza, querendo apreender o calor de seus corpos. E exibiam-se em público. Negando sua vontade. E esbarravam-se na entrada do banheiro. E esbarravam seus olhares. E sem querer, esbarravam suas bocas. Esbarravam suas vontades. Esbarravam seus caminhos. E iam parar no meio das mesmas quatro paredes. Negavam a existência do mundo fora delas. E faziam um mundo para eles. Impunham suas próprias regras, quabravam-nas logo depois. E punham seus corações à mostra, quebravam-nos logo depois. E começavam. E terminavam. E toda vez em que começavam, amavam-se. E toda vez que terminavam, voltavam. E quando voltavam, amavam.

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