segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ela X Cidade

Ela poderia passar toda a sua vida caminhando pela cidade. Via-a como um organismo em constante mutação, estava sempre a crescer, respirar, engasgar, adoecer. A cidade era sua pior parte e sua melhor amiga. A cidade que deixou-a assim, imponente. O humor de uma, dependia do céu da outra. Quando o céu da menina ameaçava uma chuva forte, a cidade aquietava-se. Intimidade era silêncio, e no vazio de graves e agudos, a menina e a cidade sintonizavam-se. Choravam juntas as lágrimas que produziam sozinhas. E iam vivendo assim, nos dias em que a cidade era caos, a menina embriagava-se até cair, de joelhos, pelas suas calçadas, como se implorasse por um sorriso. Nos dias em que a cidade era festa, a menina saltitava atravessando seus sinais verdes. A menina e a cidade andavam de mãos dadas. Vez em quando degostavam-se, mas nunca desentrelaçavam seus dedos. Apesar das oscilações de humor, das buzinas estressadas, da fumaça mal-cheirosa, da baixa umidade, eram tudo o que tinham. A menina amava a cidade por sê-la em diminutivo. A cidade amava a menina por ser um ser irracional.

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