sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Ou é impressão minha?

Eu sigo em tua direção até aparecer um poste.
E eu desvio um instante.
Eu sigo em tua direção até surgir um muro.
E eu hesito por um instante.
Eu sigo em tua direção até começar uma tempestade.
E eu aguardo um instante.
Eu sigo em tua direção até chegar ao oceano.
E eu penso por um instante.
Como o céu e o inferno, tem sempre algo entre nós. Ou é impressão minha?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Cidade grande.

Atordoada, senta-se no primeiro banco que seus olhos puderam alcançar e tenta recuperar o fôlego. O ar entra e sai como punhais em diferentes pontos de suas costas. Suas pálpebras se movem grosseiramente tentando clarear a vista. As pessoas vão e vem, mas ninguém a nota, ninguém ousa notar. O seu corpo pesa, suas mãos suadas escorregam do rosto para a nuca. O tempo passa, o tempo passa e isso dói, o tempo dói. O tempo tem um gosto amargo em sua boca.
A solidão invade cada um de seus milhares de poros e um vazio preenche o peito. Multidões vão e vem, desviando olhares, buscando conforto no tique-taque dos relógios de pulso, nas mensagens antigas de celular. A indiferença lhe corta a garganta, até que a dor do corte, já tão profundo, faz tudo se estourar em um grito, um grito que cala lá dentro e assusta lá fora. As pessoas ousam olhar. Olhares curiosos, desaprovadores, assustados. Olham com pena. Ela não buscava pena.
Um homem de terno e gravata joga-lhe uma moeda. Ela dá o troco, abre sua níqueleira e atira uma moeda canadense em suas costas. O homem, assustado, acelera o passo e se perde em meio a multidão. A última coisa que ela queria é que sentissem pena. Ela sabia que pena é como olham quando não compreendem, e ela buscava compreensão, que lhe faltou a vida inteira.
Perturbada, irritada, vulnerável, se deita no banco e deixa o braço cair. Os sentidos começam a se acalmar. Fecha os olhos e tenta se distrair com alguma música. Não há música. Ela sente alguém se aproximar, uma sombra fica entre seus pés e o sol. Se prepara então para ser expulsa do local, ou mais educadamente, para se retirar, com um discurso que visa dizer apenas que banco de praça no meio da nata da sociedade não é lugar para ficar vagabundeando.
Ela abre os olhos, um rapaz de cabelos grisalhos se senta na ponta do banco, e lhe oferece um copo de água. Ela balança a cabeça, recusando. Ele segura sua mão e tenta fazer com que ela se sente. Depois de muito insistir, ela cede, e os dois ficam sentados, lado a lado. O coração dela ainda bate agitado. Ela o observa minuciosamente. Até que seus olhos vão de encontro ao ombro dele, que a atraí ensandecidamente. Ele segue uma viatura da polícia com a cabeça, e nesse mesmo momento, a atração é tanta, que ela se deixa encostar a cabeça em seu ombro. Os olhos dele, sorridentes, se encontram com os dela, satisfeitos. Seu coração, agora se acalma, e o tempo passa na medida exata. É como se, finalmente, ela se encontrasse.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

De fundo de armário.

Andei cambaleando, entre o certo e o errado. Entre aventura e grupo de costura.
Coloquei minha cabeça na linha de tiro, tampei meus ouvidos e ameacei me jogar, correr riscos.
Baguncei minha rotina, fui de pediatra à bailarina.
Mas não passei da primeira etapa, temi ao colocar minha cara a tapa.
Corri do pára-quedas para a televisão.
Trocando as experiências, pela imaginação.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Na falta do que fazer.

Cada dia é um dia.
Dia de tristeza,
Dia de alegria.
Cada momento é um momento.
Momentos se perdem,
Não se vá com o vento.
Do pouco que conhece,
Tão perto do começo.
De certas coisas não se esquece,
Outras, vão ficando ao avesso.
Alguns acertam na mosca,
Alguns acertam no pé.
A vida, coisa louca,
Vai mudando como a maré.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Viver não tem receita certa (Auto-ajuda água com açucar)

Viver não tem manual, receita, ou livro de instruções. Viver não é só existir, há quem exista e não viva. O que é viver difere de indivíduo para indivíduo, assim como qualquer outra concepção.

A vida não é um jogo, não é possível repetir. Também não é como um bolo, não se mede como agir em colheiradas, como se mede o açúcar. O que foi já foi e o que vem está vindo, não há previsão, não há guia e também não há "replay". O pacote vida não vem acompanhado de controle remoto, muito menos de apagador. Viver implica riscos, e um aglomerado de desafios.

Viver é amar na visão de um indivíduo, é ganhar na de outro, é trair, é dançar, é apostar, são diferentes coisas, que diferem por vários aspectos, condições, opções, desde a classe social, até a nacionalidade.

Existir e viver são coisas completamente distintas. O poste existe, o rapaz vive. Existir é não aproveitar, não enfrentar, ficar apenas com o seguro, é perder emoções, experiências. Enquanto viver é mudar, arriscar, crescer aproveitar e até mesmo errar. Viver é.

A vida é um tiro no escuro, não se sabe se está, se foi certo ou não. Existir é ver com desdém a única chance, a única oportunidade que se tem.