tag:blogger.com,1999:blog-7395143221367401082024-03-14T06:24:19.969-03:00Concreto.http://twitter.com/ascartasnamesaJulianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.comBlogger786125tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-71295045282317759522016-04-05T12:08:00.002-03:002016-04-05T12:08:15.210-03:00a sensação dela <div class="p1">
<br /></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
que uma vez, depois de umas garrafas a mais de vinho, ela soltou o verbo e o sujeito e disse assim, que quando ela encostava nele, no sujeito ele, que ela soltou só para falar, verbalizar, que quando ela encostava nele, os dedos dos pés se contraíam e alguma coisa ia rastejando deles até a última ponta do mais longo fio de cabelo</div>
<div class="p1">
cabelo meio vermelho meio dourado meio cor de sol, meio cor de nada, até porque ele, ele mesmo, se negava a dizer ou a deixar que alguém dissesse que alguma coisa, que alguma qualquer outra coisa no mundo, se assemelhava a ela</div>
<div class="p1">
ele dizia assim</div>
<div class="p1">
- nunca vi coisa tão bonita no mundo</div>
<div class="p1">
e se prendia nela e se espremia nela e nela se enlaçava feito fosse bicho feito rastejasse feito fosse elástico e não tivesse ossos feito fosse só coração</div>
<div class="p1">
e nisso, ele um metro e noventa e dois puxados da família do pai emaranhados em um metro e cinquenta e seis estranhos dela que era a mais baixa entre os irmãos, faziam ele parecer tão menor tão frágil tão carente e tão necessariamente dela que dava dó</div>
<div class="p1">
dava dó porque parecia que quando ele precisava se soltar dela ou quando ela precisava se soltar dele - sim, o enlaçamento era recíproco - parecia que ele ia quebrar se partir ao meio ou em milhares de pedacinhos dele que já eram dela e pedacinhos-coração de quem pensa não precisar de nenhum outro órgão para se sentir vivo</div>
<div class="p1">
era tão bonito aquele quadro, aquela fotografia colagem pintura, aqueles dois juntos largados na cama no meio da tarde, com o sol batendo nas pontas dos dedos dos pés contraídos dele e dela e os lençóis manchados de água oxigenada cor-terra e as costelas dele sobressalentes e as costelas dela quase arrebentando a pele e aquela cena que parecia calar o barulho das ondas a rebentar na beira do mar e que parecia, também, um quadro do Portinari, porque os dois eram tão terra e avermelhados sujos e cinzentos de sol e de poluição e por causa do sol que refratava na janela e pelo jeito que se deve olhar</div>
<div class="p1">
um retrato esquálido de um sofrimento a se conjecturar</div>
<div class="p1">
retrato de uma miséria porque amor é muito muito muito muito muito de um tanto que ainda poder ser mais e mais e mais, mas não é soberba e portanto não pode sobrar e nem desperdiçar, amor tem que ser todo gasto e amor deles vinha contadinho moeda e moeda para se alimentarem os dois até o fim</div>
<div class="p1">
os dedos dos pés se contraíam, chegava a doer nas canelas de tanta força de tanto músculo que vinha sei lá de onde e ela que se segurava apertando os lábios com os dentes e apertando o que estivesse ao alcance com as mãos suadas e vezes ou outras sujas de areia ou cheirando a alecrim o corpo todo reagindo e a sensanção e a certeza de que alguma coisa ia rastejando da ponta dos dedos dos pés até a última ponta do mais longo fio de cabelo</div>
<div class="p1">
iam se arrastando, depois, os dias e a vontade de ficar junto e a vontade de ficar colado e a vontade de ficar por cima e por baixo e rolar pela orla da praia não se importando com a temperatura ou com a sujeira do asfalto e do calçadão não se importariam se bateriam de cara em alguém ou num coco abandonado, mas vontade de ir rolando dos prédios a beira-mar até a beira do mar onde se assustariam com a água gelada e o gosto de sal </div>
<div class="p1">
e se salgariam e se enrolariam e se sujariam e se adocicariam e seriam doces todos os dias ah! como eram doces os dias desde que haviam se encontrado e se cruzado e cruzado quando, enfim, foi o momento dela de conhecer esse lado da vida que falavam tão bem ao tempo que falavam tão mal e falavam algo sobre ir ou não ao céu, mas que ela por si só gostou e viu estrelas e era dia de céu encoberto e havia também o teto mas mesmo assim ela viu estrelas e permaneceu as vendo por muito tempo tanto tempo que depois já nem se surpreendia mais e passou a notar que o céu era sempre o mesmo e que ela nem o notava mais</div>
<div class="p1">
e continuavam se arrastando e a vontade de ficar grudado e a vontade de ficar separado um pouco e a vontade de ficar só um pouco e sair um para um lado e um para o outro e iam se arrastando e arrastando também a vontade de ficar e os anos</div>
<div class="p1">
e ele disse</div>
<div class="p1">
- não conheço muito bem o mundo</div>
<br />
<div class="p1">
e descobriu que certas coisas perdem a beleza e que certas coisas só tem a beleza que queremos dar a elas e que certas coisas acabam e que outras não</div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-86957397827501612152014-11-03T15:25:00.001-02:002014-11-03T15:25:41.441-02:00Pior ainda se eu dissesse que era poeta<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Me grudei nela. Assim que pus os olhos nos olhos dela. Fingi que ela acabava de nascer - e nascia, de certa forma, pra mim -, fingi que eu nascia grudado nela. Pelo coração. Eu e ela pra sempre. Escrevia nossos nomes nos quadros negros da escola em que eu trabalhava - arrumei até emprego pra sustentar os cochilos dela depois do almoço. Parei de escrever. Digo, de dizer por aí que era escritor. Ela não gostava. Pior ainda se eu dissesse que era poeta. Os amigos dela me pergunt</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">avam: onde compro teu livro? E meu livro era apenas um catálogo restrito que eu cultivava na memória. E as pequenas folhas grampeadas que eu conseguia vender entre os bares pela noite. Arrumei um emprego. Até cortei o cabelo. Continuei escrevendo, de madrugada enquanto ela dormia, como se estivesse cometendo um crime. E de manhã, às vezes, a acordava com uns pequenos poemas de amor e umas cartas com juras do eterno. Ela não gostava da minha poética. Mas disso ela gostava. Achava graça. Ria. Deitava com as pernas voltadas pro teto e as balançava enquanto lia em voz alta os meus versos. Ria sempre muito, quando ria. Nunca ria pouco. Mas era quase sempre séria. Quase sempre certa. Dizia que diziam por aí que escritores eram bons de cama. Que eram muito criativos, que fantasiavam. E que era por isso que achava graça dessa minha mania. Ela chamava de mania tudo quanto fosse meu. O café sem leite. Era mania minha. Fritar a cebola antes do alho. Era mania minha. Deixar os óculos pendurados no nariz. Era mania minha. Amá-la como se fosse a única coisa a fazer na vida. Era mania minha. Foi o que ela disse assim. Um dia, numa tarde. Eu tinha que parar com isso. Ela disse. De repente, eu e ela pra sempre virou um quadro escuro. As cores escorreram dele e e eu ela era mania e eu deveria desaprender a amá-la. Ela me disse assim. Como quem cospe o catarro escondido enquanto ninguém está olhando: apressada e de uma vez só. Me grudei nela. Assim que pus os meus olhos nos olhos dela e pedi que carregasse minha vida pra onde a vida dela fosse. Me grudei nela em silêncio. Ela dizia que diziam por aí que quem escreve é sempre muito silencioso. De repente perdi mesmo a voz. Me grudei nela e desconheci a capacidade que meus joelhos tinham em sustentar o restante do corpo. Desequilíbrio. Me grudei nela. E quando ela se foi, e eu a vi. Quando ela se foi. E eu a vi indo. Quando ela se foi, assim, se fondo. E foi assim, um foi indo bem fundo. Doeu. Doeu em mim e no restante do mundo. Tombei. Quando ela se foi, ficaram só os quadros negros, e agora, sem nossos nomes, tão mais escuros.<br /><br /><br /></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-65294398268222464152014-05-16T14:27:00.000-03:002014-05-16T14:27:39.090-03:00Lançamento do meu livro de poesia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWcM1r17FlVFZg5l0xxJBd6HGXffv2Kef3Pvk1pGCvZg54F6O9J7lwh0pPXN7LQ-YSLGQqJkUz8JvmUVUbtpHxnqREwz6a-L27PozCviFlScP7dIWWNUe6B0TKyeuu3Nrd4eyVnN7mFMD8/s1600/convite.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWcM1r17FlVFZg5l0xxJBd6HGXffv2Kef3Pvk1pGCvZg54F6O9J7lwh0pPXN7LQ-YSLGQqJkUz8JvmUVUbtpHxnqREwz6a-L27PozCviFlScP7dIWWNUe6B0TKyeuu3Nrd4eyVnN7mFMD8/s1600/convite.jpg" height="320" width="243" /></a></div>
<br />
<br />
Amanhã, 17 de maio. A partir das 17h. Senhoritas Café, 408 norte, Brasília.<br />
"De carne e concreto"<br />
<br />
<br />
Evento no Facebook: <a href="https://www.facebook.com/events/1487001968181412/?ref_dashboard_filter=upcoming">https://www.facebook.com/events/1487001968181412/?ref_dashboard_filter=upcoming</a><br />
<br />
Espero todos lá, com corações abertos!<br />
<br />
<br />
<br />Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-84850417592324681872014-03-30T18:53:00.000-03:002014-03-30T18:53:56.346-03:00Fragmentos de Marília<div class="MsoNormal">
I -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, algo em você me faz muito feliz, fico tentando
descobrir o que. Não sei, deve ser esse teu jeito certo de ser sempre tão
triste.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Chega uma hora dessas e eu só penso em teu nome, e o repito
em voz alta como se isso bastasse para acelerar as horas e amanhecer logo o
dia. É que eu sei que amanhã eu te encontro. É que eu sei que em ti eu me
perco. É que são muitas as curvas e eu nunca atravessei por essa tua estrada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, deve ser essa tua calma. Que balança sem querer os
dias e que insiste em me perturbar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nome de mulher, Marília, é esse o maior delírio dos homens.
Sibilar todas as tuas letras, degustar cada uma de suas sílabas. É com isso que
a gente soa frio e sente tremer de cabeça em cabeça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É a maneira como me bastam suas consoantes. Como me apertam
suas vogais. Os seus fonemas, Marília. É como me explode e me escorrega pela
boca. Como se embaraça no meu peito e sai rouca na menor abertura dos lábios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, é como tu me acentua. Inquieta, como vai e vem sem
que eu nem perceba.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Chega essa hora e eu repito seu nome: uma prece cantada, um
mantra, uma canção de ninar, serenata de amor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília no céu e Marília na terra. Razão para os quatro
mares. Por quem pulo, todos os anos, as sete ondas. E jogo flores todo dia 31
de dezembro, vestido de branco. Por quem guardo os caroços das uvas, das romãs.
Por quem não passo por debaixo escadas e nem me visto de preto em sexta-feira.
Por quem não perco a fé no mundo. Marília, minha santa de colo farto, banquete
dourado debaixo de sol.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, minha sorte. Qualquer risco de te perder vive
encostado onde repousa sonolenta a morte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É te vivendo que eu vivo: não desvie os teus olhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando te vi sorrir pela primeira vez eu soube que o mundo,
na verdade, tinha o tamanho de uma caixa de fósforos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
II.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
As tuas pernas. Me derreto por elas. Teu jeito de ser sempre
janeiro, essa tua vontade de recomeçar do zero. Teu sorriso a esperar sempre o
carnaval. Teus sábados de sol. Teu mar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Queria ter te conhecido em outro tempo. Mesmo sabendo que o
tempo em que as coisas acontecem é o tempo certo. Nunca joguei tarô, Marília,
nem deixei que lessem minhas linhas, nem das mãos, nem dos escritos. Mas eu
acredito no destino, sabe. Eu acredito no tempo. E mesmo de vez em quando
perdendo o rumo, mesmo já tendo atravessado mais da metade do caminho, eu ainda
acredito na vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Queria ter te conhecido em outro tempo. Outro ano. Outra
época. Que por detrás da flacidez, o corpo é rígido. Que antes a pele era
grudada na carne e a carne era grudada no osso e era tudo em cima e era tudo
duro, mas se amolecia ao menor toque. O toque, Marília, eu perdi a capacidade
de sabê-lo. Quando vem e por onde. E de que maneira. Se é cafuné ou se é um
tapa. Marília, olha bem agora pra minha cara. Esse rosto já não é meu. Ele cai,
quase se desmancha pelos lados. Mas é duro. Duro como meu peito. É que a vida
deixa os movimentos circulares de dentro relógios nos endurecerem de dentro pra
fora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Queria ser mais forte. Tu sabe, Marília, que já não te
aguento nos braços. Tu sabe que tomo remédio pras dores fortes nas costas. Que
já chorei mais do que deveria. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tu sabe, Marília, que a pior coisa que pode acontecer na
vida, é a vida acontecer pra gente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
III.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Chega essa hora e eu não deixo de repetir seu nome. E se me
falta saliva, eu continuo te escrevendo no guardanapo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não é só pelo drama, mas o amor é um tipo de morte. Eu me
morro por você. Eu me montanha. Eu me topo do mundo. Eu quase me encosto no
céu. E é por sua causa. É por sua causa...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Que eu caio, de repente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E é de asfalto o mundo. É de pedra. É de concreto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tuas sílabas, Marília, tuas letras...a maneira como você me
escorrega até o estômago e eu sem saber se te acho doce ou azeda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
IV.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Que saudade dela, Marília. E que saudade de mim. Foi amor.
Eu sei, porque é essa uma das coisas que o amor faz, faz com que a saudade dela
me traga uma saudade de mim. Que saudade da vida, Marília, dos anos. Que
saudade de ti. E de quem eu fui. Nos braços dela. De quem eu era. De quem era
ela. De quando eu era dela. De quando eu era.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, depois dela só tu. Depois de ti, de tu, de tudo,
mais nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
V.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu quero te descrever cada uma das flores, te contar como me
lembro delas. Eu quero te falar do quintal dos meus avós maternos, de como eu
amava um pedaço de bolo de fubá quentinho depois de rolar na lama a tarde
inteira. Eu quero te descrever os dias sentados à beira do Rio São Francisco.
Marília, eu quero que você veja tudo que eu vi.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se isso não for, de alguma maneira, amor, Marília, então
deve ser pecado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
VI.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Meu amor por Marília, como um floco de neve, era de esperar
que fosse muito mais que água. Muito mais que uma quase solidez insossa. Vindo
do céu, meu amor por Marília, como um floco de neve, era de esperar que tivesse
ao menos um pouco de carne. Ao menos um pouco de sabor. Ao menos um pouco de
pulso. Meu amor por Marília, como um floco de neve, era de esperar que não se
tratasse de uma dessas decepções sustentadas pelos sonhos da infância. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Meu amor por Marília, como um floco de neve, me fez tremer
de frio só de vê-la.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
VII.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, tu não tem ideia de como o amor dói, porque tu não
tem ideia da forma como o corpo responde à ausência dele. Marília, a ausência
do amor, no corpo amado, é uma coisa que realmente alcança a alma. O desamor,
ele desarma qualquer um. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu descobri da pior maneira. Achando que o mundo esperaria
eu dar minhas voltas pra que depois desse as dele. Eu deixei que o tempo
percorresse por vias e artérias, ininterrupto. Eu descobri partindo, e olhando
pra ela depois de todos aqueles anos. Eu descobri que era preciso partir pra
saber voltar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E pior do que olhar para ela depois de todos aqueles anos e
constatar o tanto que havia mudado, foi olhar para ela, depois de todos aqueles
anos, e constatar que ela havia me mudado dali, de onde eu era nela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu descobri que o mundo dá suas próprias voltas. E que nem
tudo tem sua própria volta no mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
VIII -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu peço a Deus todas as noites pra poder te assistir
entrando no ônibus. É tarde. Eu sei só pelo barulho dos carros lá fora. Fica,
não me deixe, não me abandone. Não precisa voltar, é só não ir. Marília, vá.
Não sei se hoje chove, mas vá, antes que chova. Antes que eu chore. Marília,
esses comprimidos me deixam louco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
IX -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quantos amores, Marília, serão os últimos até que algum seja
verdadeiro? Quantos amores, Marília, até a gente aprender a amar? Estou ficando
velho. E cansado. E ainda mais velho, isso a cada nova palavra. E rarefeito. E
fraco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, será se hoje o céu chora? Eu juro, era feliz até
logo agora. Mas de repente, me deu uma vontade de me chover inteiro...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
X -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu tenho medo de dormir, Marília. E não pelos pesadelos. Eu
pouco me lembro, eu pouco me sei, e eu já nem sei se sonho. O negócio é que
tenho medo de que qualquer sono seja o último. Medo de me entregar. Marília, eu
não estou pronto para morrer de uma vez por todas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XI -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, tu é mulher pra jantar todo dia. Pra comer com
arroz, feijão e muita pimenta, lambendo os beiços, te deixando escapulir pela
beira do prato, só pra pegar com os dentes. Marília, tu é mulher pra quem se
escreve cartas enquanto expatriado, no meio da guerra. Mulher pra carregar foto
na carteira, e beijar cheio de saudade. Marília, tu é mulher pra prender os
olhos e o rabo de qualquer um. Pra comer de colher. Com as mãos. Pra se perder
sem querer voltar. Pra apresentar aos pais. Entrar de braços dados na igreja.
Deixar flores na janela. Pra esquecer do carnaval, do resto do mundo inteiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, tu é mulher demais pro pouco de homem que sou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XII -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, se tu realmente existe como existe na minha
imaginação, se tu realmente é a mulher que eu quero que seja. Marília, se tu
realmente for - Marília, por favor, fique...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XIII -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, eu tô sozinho. E de repente me deu saudade da tua
voz. De repente, no meio da manhã. E hoje, eu sabia, você não viria. E horas
depois, quase como piada, alguém disse teu nome. "Marília", feito
cuspe. Como o mundo deixa que te pronunciem assim? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, eu te vejo, mas não te enxergo. Será se teus
cabelos já passaram dos ombros? É estranha a forma como as coisas se
transformam. Uma hora você era tudo, na outra já não sei mais nem se tu ainda
se lembra de mim. Tu ainda se lembra de mim? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, eu sou sozinho. Tenho sido assim a vida inteira. Eu
sou humano. E só me dei conta agora, perto da hora do jantar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XIV -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, todo dia deito pra dormir com tua ausência. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu quase não durmo, Marília. Eu quase quase quase não passo
disso, de quase, uma possibilidade. Eu tô vivo, mas não me sinto. Eu vivo e
todo dia morro, e desabo sem nem precisar de vento, sem nem precisar de chuva.
Eu morro abaixo por qualquer coisa. Marília, ontem eu fui falar com o Zé. O Zé
que tu não conhece. Eu fui falar teu nome. E o Zé que também não te conhecia.
De repente, ele me disse, Marília, que queria dar rosto ao teu nome, que já te
sentia bem próxima. Marília, eu quero te esconder do mundo. E eu nem te vejo.
Marília, o amor consegue ser totalmente egoísta. Mas eu não consigo ser nada
sem ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, se eu não te amasse, que mais na vida eu faria?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XV -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Essa fome, Marília, essa incompletude, tudo isso uma hora
passa. O coração, um dia, desacelera, Marília. E o relógio passa a girar mais
rápido que o mundo. E a gente sente vontade de puxar uma cadeira e sentar na
varanda pra assistir a vida passar. Um dia o apetite diminui, Marília, um dia
ele quase some.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XVI -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, querem te saber, mas eu não quero que te saibam.
Toda hora me perguntam de você. Me olham tristes por causa do meu olhar de
tristeza e me colocam as mãos nos ombros, nas costas, e me perguntam: como
estão as coisas?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De que coisas as pessoas todas tanto falam?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E ainda continuam: como estão as coisas? E a tal moça, a
Marília?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, eles ainda te pronunciam como se tu não valesse um
minuto a mais de salivação. Marília, eles te pronunciam sem antes te bochechar,
sem nem mesmo te gargarejar. Eles te pronunciam como se tu fosse palavra,
Marília. E palavra não vale nada!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XVII - <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marília, te esconde do mundo!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estava olhando pela janela e descobri que ele é feio. E que
ele não te merece. Marília, te esconde aqui debaixo do lençol. Hoje eu tenho
certeza de tudo, e mais tarde chove. E quando chover, Marília, me abrace forte.
Que seu medo de trovão me dá medo que troveje.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
XVIII -<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sei por onde te amar, Marília. Estou todo do avesso. Não
sei onde a gente se encosta. Não sei de que maneira te encontro. Tu sabe a
maneira como quase sempre me escorrega. Me escapole pelas mãos. Tu sabe como me
escapar quando bem quer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sei por onde te amo. Marília. Com as mãos, às vezes, eu
não enxergo quase nada. E tu se afasta. E teu caminho é quase sempre o meu
contrário. E às vezes, tu nem aparece. Às vezes tu nem me liga. Tu nem se
importa quase sempre, né, Marília?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>JA</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
<w:UseFELayout/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="276">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<!--EndFragment--><br />
<div class="MsoNormal">
E eu te amando pelas beiras. Pelo que me sobra de ti.
Marília, tu sabe que é só abrir a porta e ir embora. Tu tanto sabe que quase
sempre vai. Marília, por favor, sempre que for volte. E sempre que voltar finja
que fica. A vida não é tão macia quanto parece...<o:p></o:p><br />
<br />
<br /></div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-33470391130495348432014-02-03T23:27:00.001-02:002014-03-30T18:57:29.034-03:00Não-conto<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;">Eu associei a felicidade a ela de tal maneira que era impossível ser feliz depois que ela se foi. No meu imaginário, eu só podia - e poderia - ser feliz ao lado dela. Sem ela, a felicidade era um ser arredio, traiçoeiro. Que preciso fosse, se punha de pé sobre um par carnudo de pernas, por detrás de um batom cor de sangue, ou dentro de um exagero de copos. Sem ela, eu fugia disso. Se a felicidade me vinha, eu catava todas as minhas coisas e mudava de calçada.</span><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;">Não aconteceu de ser da maneira como precisamos acreditar que acontecerão os amores. Olhei e na hora que os olhos dela me alcançaram, virou o rosto. Quando entrelaçamos os dedos, soltou minha mão. Não aconteceu de ser assim, uma história que valha recordar. Nos conhecemos do nada, e de repente, eu a reconhecia em tudo.</span><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;">Se a lua estava cheia a ocupar o sol. Se o dia amanhecia azul. Se fazia frio. Se aparecia um filme novo nos cinemas. Se fazia calor. Se a temperatura pouco se fazia perceber. Se faltava lua no céu. Se amanhecia dia cinzento. Se abria um pote de palmitos. Se derramava sabão em pó no chão. Se olhava para os dois lados antes de atravessar a rua. Se atravessava sem olhar. Se olhava e não a via. Se ela me atravessava. Ela sempre me atravessava.</span><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;">Eu associei o universo a ela de tal maneira que era impossível até que os astros orbitassem em sua ausência.</span><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;">Órbita é a trajetória que um corpo percorre ao redor de um outro, influenciado por alguma força. Órbita também é o nome da cavidade, do buraco, do vazio na face do esqueleto humano, onde se assentam os olhos e toda a sua parafernália. Orbitar é estar ligado a algo, de maneira a ter seu movimento submetido apenas àquela existência, por uma força que pode vir do além. Órbita, eu concluo, é o lugar a partir do qual os olhos veem. É onde precisam estar para enxergar. E assim eu a vi, com meus olhos bem assentados, e veio daí uma força sabe Deus lá de onde, e órbita passou a ser, para mim, também a trajetória ininterrupta que passei a fazer em torno dela.</span><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><br style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;" /><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;">Orbitando, assim me ocorreu o amor. De maneira a, depois, se tornar um vazio. Longe dos olhos, mas apertado no peito. Afetado pela gravidade de tal maneira que era impossível seguir um novo trajeto sem a leveza dela. Impossível segurar os ombros por demais atraídos pelo chão. Os olhos também, desorbitados, a partir do momento em que não mais a viram.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.309091567993164px;"><br /></span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-44587146860821443492014-01-17T11:46:00.002-02:002014-01-17T11:47:09.695-02:00Esboço para construção do outro I<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Estou vento e não vôo. Eu até tento, mas não vou. Eu fico. E
com isso, trago de volta a memória daquele tempo: sem datas, só imagens e um
cheiro. De erva-doce. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">E sua sombra na beira do mar. E a moça na varanda do quarto
andar do prédio seguinte, sempre com as pernas para o alto, lendo, tomando um
café ou chá, com ou sem leite, não sei se adoçado com mel ou açúcar, ou mesmo
puro, mas com muito gosto, lambendo os beiços, com as pernas sempre para o alto,
agitando os pés como se regesse uma orquestra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">A lembrança das ervas-daninhas, que crescem em torno e por
dentro dos jardins mais bonitos, rapidamente, antes mesmo que se pense em
pensar, antes mesmo que não se pense e se pisque. Num piscar de olhos. As
pernas postas para o alto. As pernas. O azul do céu. O óbvio, clichê. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Se eu não te enxergasse você nem mais me veria. Seus pés
cheios de areia. Atados ao chão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Estou vento e nem assim vôo. Fico. A pensar nos beiços
melados dela, com suas pernas para o alto, quase encostando o azul do céu que
ela era.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">A orquestra que ela regia em mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu chego a ficar sem ar. Estou vento, mas me sufoco. Os
beiços dela se avermelhavam debaixo do sol. E quando pareciam quase sangrar, se
envergonhavam, ainda apurando o tom. Me barganhavam e eu ficava roxo, a custa
de nada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Nosso amor morria, já ali, e morreria, já mais na frente,
por inanição. Eu não disse em voz alta, mas mesmo negando, você sabia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Que eu te olhava e você me olhando não me via.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Estava vento e sem nem bandeira você se levantava. E desembaraçava
os fios de cabelo, conferia a bolsa, pegava o elevador, e saía para passear. E
passavam horas, quase dias, quando voltava, os braços presos, as mãos quase
roxas de tanto segurar sacolas. Os lindos vestidos que vestia à noite, para
entornar duas garrafas de espumante e então me despir da minha própria
virilidade, depois colocar o pijama e dormir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">A nossa vacuidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Vá com cuidado<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- me
disseram ainda, antes mesmo que te amasse. Antes mesmo, digo, que tivesse
qualquer noção desse amor possível. Que, na verdade, foi de cara e tanto que eu
te amei bem antes, amei assim, mesmo sem nunca nem te amar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Amor que nasce no primeiro instante. Nasce assim que a
presença aponta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu achava que era culpa das suas pernas muito longas. É bem
isso, o conselho a ser dado: não ame mulheres com as pernas muito longas,
porque se abrem na mesma rapidez com que se levantam para ir embora e nunca
mais voltar. Mulheres de pernas longas, quando se vão, dificilmente voltam. Eu
li no jornal. Ou escrevi, com a borra de café.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Estou vento e não vôo. Até briso, mas não decolo. E bem
fecho os olhos, e te vejo, e não te culpo. E quase que, ainda, te tenho. Me
culpe mas, por favor, me desculpe. Quando angustiado, o amor se enrola pelas
pernas e se pendura pelos braços e te sacode pelos ombros: era você e não
outra. A gente custa a entender. E a vida cobra caro. Era você e não ela, mas
nem isso me impediu de me debruçar sobre a janela e assistir o amanhecer: e
assistir a ela. E me enrolar pela língua e me pendurar pelas coxas e me sacudir
pelas cabeças: era eu e ela. Se pudesse, até mares-ia, mas já estou marejado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Nosso amor morria, já ali, e morreria, já mais na frente, e
mesmo sabendo com certeza disso, eu não podia acreditar. É que eu não estava
nunca pronto para me vestir de preto e nos chorar. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nunca pronto nem para nos morrer e nem para
nos matar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">As pernas...são sempre as pernas. E as dela ficavam lá
apontando para o alto, bem quando meu rosto, para te encontrar, vivia olhando
para baixo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Me culpe. Me desculpe. Primeiro foram as suas pernas. Muito
longas para acompanhar. Nos matei com ela, dos pés fáceis de alcançar. Bastava
olhar na direção do céu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Estou vento e não vou. Sentado, assistindo da varanda, o
tempo passa. E ainda a assisto com os beiços melados tentando fingir para mim
que a vida pode ser doce. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Estou vento e tudo o que vejo eu arrasto. Que assim eu te
mato em mim me morrendo de saudade. </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-20805467310127530132013-12-02T09:55:00.001-02:002013-12-02T10:11:27.396-02:00Algo mais sobre o amor<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">6h15</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">Eu me levanto. Mas ainda não me sinto de pé. Corro para o banheiro, onde lavo meu rosto de duas a três vezes, antes que ele me veja, às 6h20, quando se levanta. É que acordo cheia de remela ao redor dos olhos. E a pele toda seca, quase rachada, especialmente em volta do nariz e da boca. Há uns dois anos, a</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">cordo com essa dor de cabeça de quem chorou por horas. De quem secou por dentro e paga o preço por fora. Há cerca de seis meses descobri que a dor de cabeça era mesmo de quem havia chorado por horas. E pior, era mesmo minha. Havia um diagnóstico para minha dor, mas não para o meu choro.<br /><br />Eu me deito todo dia um pouco antes das 23h, às vezes me empolgo com um livro e durmo lá perto já de 00h. E sempre acordei já lá pras 7h. Assim que ele batia a porta de casa e saía para o trabalho. Mas todo dia, há seis meses, acordo antes, às 6h15, corro para o banheiro e me limpo. Ele nunca foi de me amar tanto ao ponto de me assistir dormir. Então tenho quase absoluta certeza de que nos primeiros um ano e seis meses desses dois anos em que acordo com dor de cabeça de quem chorou por horas - e chorei -, ele nunca tinha me olhado dormir e tinha me visto toda coberta de lágrimas e remelas. Mas nesses últimos seis meses, desde que descobri, tenho tomado cuidado para que ele nunca perceba. Vai que, um dia, ele resolvesse me olhar em sono. Acordo, portanto, cinco minutos antes que ele acorde e me recomponho - fica só a dor de cabeça como prova do sono em choro.<br /><br />Não faço barulho enquanto choro e durmo. Fiz o meu médico passar a gravação sete vezes para termos certeza. As lágrimas caem aos montes, mas o único barulho que elas me causam e o delas mesmas escorregando por minha pele já cheia de relevos.<br /><br />Eu acordo mais cedo e me lavo e me limpo porque não quero que ele me veja devastada da maneira como acordo. Não quero que ele se assuste. Porque não vou saber localizar geograficamente em mim de onde vêm essas lágrimas. Estamos há quase dez anos juntos, e eu ainda vivo cercada pelo medo de que, um dia, ele me olhe e se assuste.<br /><br />Esse medo constante do qual quase todos sofremos: de que quem nos ame vá embora.<br /><br />- Ah, mas quem ama não se assusta e, simplesmente, vai embora. Isso não é amor.<br /><br />Isso não é amor. Mas o que é amor, se não isso? Os dias tem 24h, e nós nos conhecemos, com sorte, antes dos vinte e cinco, e nos casamos antes que eu engravidasse. Não engravidei, aliás. O que aumentou, consideravelmente, o perigo eminente de um susto seguido de uma partida.<br /><br />Não parta, senão serei partida.<br /><br />Não sei, de coração, o que choro toda noite enquanto durmo. Eu já sofri demais, mas nada que não fosse característico da vida: sofri com a efemeridade das coisas, a comprovação de que tudo se desfaz, tudo se acaba, tudo se morre, tudo se termina.<br /><br />Há seis meses eu sofro com o medo de que ele se assuste e me deixe. Nos um ano e seis anteriores, eu só sofria com a dor de cabeça. As dores físicas são, certamente, mais fáceis de lidar. Claro que para tê-las existiram antes as dores de alma - e quais, afinal?<br /><br />Não sei o que me faz chorar toda noite, em sono. Deve ser algo que me faz chorar todo dia, mas que não vejo no reflexo das janelas dos ônibus, nem nas poças d'água que se acumulam debaixo dos aparelhos de ar-condicionado dos prédios.<br /><br />Não sei qual caminho percorro. Não sei por qual caminho me sofro.<br /><br />Eu não posso deixar ele partir, porque eu mesma serei a partida. E aí eu vou ser só choro em sono ou só sono em choro. Se ele me deixar eu não sei...vai que de repente eu começo a sorrir. E acorde com dores na bochecha de tanto riso.<br /><br />Há seis meses eu fujo de mim para fugir dele.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: inherit;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><br /></span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-48822452814184141162013-11-28T00:36:00.003-02:002013-11-28T00:48:13.681-02:00A vida é uma história de amor<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu olho para essa página e tenho absoluta certeza do que ela
é: uma página em branco, e nada mais. É uma folha em branco, mas sem precisar,
para isso, sê-la fisicamente. E o propósito é que eu vá, devagar, preenchê-la
com minhas palavras. Que não são propriamente minhas - pela universalidade das
coisas quando significam e encontram seus próprios signos -, mas é o que tenho.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">A verdade é que gostaria de escrever numas palavras só
minhas, da maneira como tudo está escrito aqui dentro. Isso porque queria que
só eu pudesse lê-la, e assim comprovar materialmente, para mim mesmo, o nosso
pertencimento mútuo. Ao mesmo tempo, quero que partilhem dessa leitura, para
que eu tenha certeza de que ela existiu. De alguma forma, o que eu quero aspira
por eternidade.<br />
<br />
Não adianta. É impossível. Não vou conseguir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu nunca fui de escrever dessa maneira, tão presa. Pontuando
tão incisivamente meus pensamentos. E usando umas palavras que, normalmente, eu
nunca usaria. “Incisivamente” só me lembra os dentes. Eu nunca fui de escrever,
é por isso que estou travado. Nunca estivesse nesse lugar antes, e estou transformando
tudo num drama. Nessa página, folha, espaço em branco, eu não me reconheço. Mas
meu objetivo é a liberdade. É me libertar. E liberdade tem a ver com se perder,
não tem? Ou deixar de se encontrar, ir do quadrado para a assimetria. Expansão,
não é isso? Meu Deus...estou louco! Mas preciso disso, porque também quero,
aliás, quero principalmente deixá-la ir, para que eu cesse de tentar
materializá-la de novo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Não adianta mais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Estou aqui para deixar de insistir. Acredito sim, aliás,
tenho certeza: há um pouco de razão em qualquer estado de loucura. Mesmo que
dure pouco, quase nada, até menos que um segundo, mas há sim, em um dado
momento: aquele precioso momento de sanidade. É preciso que haja. Eu precisei
que houvesse. Só dessa forma pude enxergar as coisas com a clareza que tento
exprimir agora: ela se foi. Ela se foi e não vai mais voltar. O teor dramático
dessa última frase coloca em questão essa sanidade na qual, supostamente, me
encontro agora. Mas não é exagero, é a verdade. É a verdade fazendo da vida o que
ela precisa fazer: exagero.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Minto se disser que me lembro exatamente de cada detalhe.
Mas não me esqueço de algumas coisas, sei que estávamos em meados de dezembro,
pois chovia com frequência, dia 12, pois eu tinha acabado de sair do encontro
do grupo de leitura – e todos são no dia 12. Estávamos no café mais antigo da
cidade, e isso porque todas as histórias de amor precisam ter um café incluso,
seja no começo, no meio ou no final. Minto, eu lembro de tudo. Ela vestia um
vestido tão preto quanto seus olhos de jabuticaba. Com uma sapatilha...ah,
dane-se! A maneira como nos vestíamos, e a hora em que nos falamos pela
primeira vez – 19h32 quando ela se afastou da minha mesa -, a música que tocava
na hora – Endless Cycle, Lou Reed. Nada disso importa. Nada disso importa. E
nem assim eu me esqueço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Parece que minha cabeça se esvaziou totalmente só para que
ela coubesse. Só para que ela coubesse tanto e tão confortavelmente que nunca
mais precisaria sair, que nunca mais procuraria abrigo em outro lugar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">A gente primeiro percebe que ama e só lá bem depois se dá
conta de que o amor tem sede de posse, né? Uma dependência, um desejo egoísta
de propriedade. E não se contenta com um puxadinho na lateral não. Amor quer
fazenda com um número tão grande de hectares que nunca será visitada por
completo. Amor quer apartamento em Copa com vista pra praia, cobertura, de
preferência. Amor quer viajar de primeira classe e se servir de champagne –
champagne mesmo, não espumante – quando chegar em Paris. Amor quer tudo, tudo,
tudo. E quase sempre acaba com nada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Amor quase sempre acaba em nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Amor quase sempre acaba como nada. Como se fosse um nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu digo quase sempre porque vai que. Vai que, né?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Ela tinha um sorriso engraçado, e foi a primeira coisa que
notei. Que ela tinha uma maneira engraçada de achar graça. Mas era bonito, uma
maneira bonita de me fazer rir, porque toda vez eu me lembrava desse primeiro
pensamento e achava graça. Que foi a primeira coisa dela que percebi, e que com
o tempo mudou de graça. Antes, engraçado. Depois, gracioso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Toda vez que penso nela eu sinto vontade de arrombar cada
porta de cada casa para ver se em algum lugar ainda a encontro me esperando na
sala. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Da primeira vez que fomos para a cama, foi no sofá. Saímos
para um bar, um happy hour, ela que me convidou. Não esqueço de sua voz
falhando ao telefone, dizendo que não queria se antecipar, nem parecer
oferecida, que só queria trocar umas palavras e beber alguma coisa. Foi a
primeira vez que saímos depois do dia no café. Toda história de amor precisa de
um café e de um bar. E de vinho. Tomamos vinho, portanto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Tínhamos muita pressa, percebo agora, por não ter analisado
isso antes. Estranho que pensei e revi tudo tantas vezes na cabeça. Tínhamos
muita pressa em tornar aquilo logo um amor. E bebemos duas garrafas e meia de
vinho. Eu fingi que sabia escolher a uva. Ela fingiu que gostou. Mas todo o
resto era feito de verdade. Tanto e com tanta força que, de início, eu não
reconhecia o toque.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Toda vez que penso nela eu sinto vontade de revirar cada
sala de cada casa para ver se em algum lugar ainda a encontro me esperando
atrás da porta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Bebemos todo aquele vinho e de uma coisa, ao menos, eu tinha
certeza: o vômito sairia roxo e azedo. E daria trabalho limpar todo o banheiro.
E eu teria que avisar no trabalho que não apareceria no dia seguinte. Não vou
ser cínico, o sangue que me circulava ficava mais vermelho por conta dela.
Desejava que sim, mas não pensava que um desejo desse pudesse se realizar tão
cedo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Acabamos indo para a cama, o sofá. Não vou dizer que nunca
tinha feito amor daquela forma. Primeiro que não vou me permitir conjugar de
maneira alguma isso, de “fazer amor”. Amor a gente fazia, e fez. E não parecia
tão cafona. Segundo que ela me escorregava um pouco, sabe? Quando a gente até
quer, mas não encaixa? Não sei se por vontade demais, por pressa. A impressão
que eu tinha era de que, desde o início, era tudo tanto que era difícil colocar
em corpo – tão difícil quanto colocar em palavras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Isso não deveria importar, mas para que conste, nos
acertamos depois. Nos acertamos de um jeito que escorregávamos juntos. Nos
acertamos de um jeito que era difícil desgrudar uma pele da outra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Toda vez que eu penso nela eu sinto vontade de rasgar minha
pele pela cidade e ir em cada casa cada sala cada porta de mim para ver se eu a
encontro me esperando para ir com ela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Depois do sorriso, a primeira coisa que pensei dela foi: ela
não é daqui. Isso não mudou com o tempo, como sorriso. Começou como certeza e
foi assim sempre. Ela não era daqui. Eu sabia porque ficava sem saber como
aquela existência dela conseguia existir em mim daquele jeito. Eu nunca fui
muito de sentir. Com ela eu transbordava, para cima, para baixo, pelos lados.
Com ela até meu sorriso começou a ter graça, que eu ria até dele rindo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Toda vez que eu penso nela eu saio de mim e não penso em
mais nada. Não me encontro em casa, nem em sala, nem atrás de qualquer porta,
nem na cidade, e eu fico esperando até eu voltar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">É trágico, e eu sei e você sabe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Porque se eu disse que histórias de amor precisam de café e
de vinho elas, certamente, precisam de tragédia. Essas palavras são muito
fortes. “Forte” é uma palavra forte.<br />
<br />
Pareço estar na introdução de um livro de auto-ajuda.<br />
<br />
Que se foda! Toda vez que eu penso nela eu espero que se foda. Eu desejo que se
foda. Tudo, a casa, a porta, a cidade, a espera dela na sala. Tudo o que eu
procuro procuro procuro e que é o nada que vou encontrar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu quero foder com isso tudo. Era o que fazíamos eu e ela.
Não falei que fazíamos amor, porque era foda. Era de foder com tudo. O que a
pele dela fazia da minha era mais que amor. Ela fazia da minha pele mais
humana. E o toque dela tocava onde nada no mundo deveria tocar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Você deve estar sentindo o cheiro de gozo. Mas o que eu
sinto é cheiro de lágrima. E gosto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu me diluía...eu me eternizava...e não podia nem ser amor,
mas era. Não podia porque me parecia tão maior. Mas isso deve ser amor mesmo.
Eu só nunca tinha experimentado... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">As doses homeopáticas de amor que recebemos ao longo da vida
nos deixam paralisados quando recebemos um amor por inteiro. E dói.<br />
<br />
Amor dói. Mas muito por isso que é tão bom. É que nem puxar aquela pele solta
no lábio. Aquela pele solta na unha. Nadar contra a maré. Sentir o sol de
meio-dia queimando os ombros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Toda vez que eu penso nela eu dispenso o resto do mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Ela não era daqui. Ela veio de outro lugar. E trouxe luz,
onde era escuro. E foi clichê, onde eu era silencioso e mal-humorado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu a amei tanto que me recuso a aceitar. E é por isso que
escrevo agora. Porque preciso que alguém leia e me avise: ela foi embora, e
nunca mais vai voltar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">O tempo corre e é mentira se dizem que a gente acompanha.
Ninguém diz isso, ninguém diz nada. As pessoas só falam e falam e falam.<br />
<br />
Por que ela não falou comigo?<br />
<br />
Toda vez que eu penso nela eu falo com ela e ela me fala tudo, da casa, da
porta, da cidade, da espera na sala. Mas ela não se encontra mais aqui.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu gostava muito de relógios de pulso. Eu gostava tanto que
ela me dava um a cada Natal, um a cada Dia dos Namorados, aniversário...ela me
deu um até numa Páscoa. Foram mais de quinze – multiplicados por essas datas,
mais alguns extras. Foram mais de quinze, os anos. E toda vez que a via sorrir,
ainda sentia o mesmo gosto do café que tomava quando a conheci.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Toda vez que eu penso nela eu arrombo a porta da sala e a
encontro me esperando e a cidade toda se cala. E nada tem lugar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Que a vida era muito pesada eu sabia. A gente sempre sabe
desse peso-morte que a vida tem. Esse peso-se-morra. Esse peso-se-aguente até
uma hora que tudo se arrebenta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Toda vez que eu penso nela eu penso na sala do outro lado da
cidade na casa da gente e nos relógios que ela me deu e que eu esqueci todos em
casa naquele dia. Naquele dia eu fiquei sem hora. E coincidiu de ser bem a hora
dela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Ela não era daqui, e não a culpo se teve que partir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Ela me deixou anotado num papel uma frase que a deixava
sempre muito inquieta e que gostava de debater especialmente depois de umas
garrafas de vinho ou no meio da tarde tomando um café: na natureza, nada se
perde, tudo se transforma.<o:p></o:p></span></div>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>JA</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
<w:UseFELayout/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="276">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<!--EndFragment--><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Eu a perdi.<br />
Foi nesse momento que tive certeza, ela não era daqui...</span><o:p></o:p></div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-10905621631344370592013-11-26T11:41:00.004-02:002013-11-26T11:41:45.774-02:00Coletâna de fragmentos I - As mulheres<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;"><b>Fragmento I - Marília -</b><br /><br />Eu preciso rescrever Marília. De todas as mulheres do mundo, é justamente ela a quem preciso rescrever. E não por acaso. Só ela era ela e só ela seria quem só ela poderia saber. Sabe coisa do além? Pois é, ela ia além disso. Marília tinha aquelas bundas-mãe, aquele tipo de bunda-coração. Olhando a bunda despida, virando a cabeça pra baixo, se via um coração grande, ch</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">eio, polpudo. Sem contar como era incrível, também, a capacidade que tinha de sempre comportar mais um. Bunda-coração-de-mãe. Cabia sempre mais um. Sob ou sobre ela. Tipo de bunda que atravessa, é travessa e travesseiro.<br /><br />Eu preciso rescrevê-la porque da primeira vez que a escrevi não consegui relatar com precisão a graça que só Marília tinha. Que só Marília tem. Que só Marília terá. Eu a deixei um pouco para trás. É que ela me atrasa o tempo.<br /><br />(Marília, meu benzinho, se estiver me lendo agora, saiba que quando te vê, meu relógio biológico toca de um em um segundo o despertador).<br /><br />Eu a deixei um pouco apagada, como se a escolha das palavras valesse mais que Marília em si.<br /><br />(Marília, minha nega, se estiver me lendo agora, saiba que, para mim, brilha mais que céu de bêbado quando passa das 19h e ligam os postes de luz).</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 17.99715805053711px;">Ela era assim: para mim, coisa que só ela podia, pôde e poderia ser. E como? Ah, parecia aquela canção de amor saudoso com gosto de caramelo de doce de leite que toca, de repente, na rádio do carro, aliviando a insatisfação de estar preso por 3h em um engarrafamento, em um dia de chuva torrencial. Não sei o significado exato que isso tem. Mas Marília era as</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">sim para mim, significativamente sem significado. Dessa forma, ela me vinha: temporal que cai sem avisar no meio de uma tarde de segunda-feira e muda toda a sua semana. Ela me deixava sem reação, e sem saber se fugia, se me escondia ou se ficava: me molhava. Eu me encharcava todo dela. Era estranho, que eu olhava Marília e, por isso, olhava mar e ia.<br /><br />Olhava Marília. Olhava mar e lia, imagine. Imagine que era feito pudesse ler o que as ondas escrevem na praia. Ondas sim contam histórias, e por isso, livros são apenas bobagens. O mar, o mar todo, cada movimento dele é uma frase. E eu olhava Marília e sabia. Sabia dos afogados e que, logo logo, me afogaria. Marília era aceitar nadar por horas para depois morrer na praia.<br /><br />Ou não era nada disso. Mas uma coisa eu sei, aquela bunda...aquela bunda-coração dela desbundou meu coração.</span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></span>
<span style="font-family: inherit;"><b><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">Fragmento II - </span></span><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">das outras mulheres -</span></b></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">Ela me olha. E não sei por qual motivo me olha tanto. Mas me olha. Toda vez que me vê, fica de longe me olhando. Que passem horas, não se importa. Quiçá dias. Se por exemplo, nos encontramos no café que fica logo ali na esquina, ela me acompanha desde o começo, desgrudando o olhar vez ou outra para tomar um gole de seu cappuccino ou tentar se concentrar em um</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">parágrafo do livro que, supostamente, lê. Digo cappuccino assim com tanta certeza porque ela tem cara de quem toma cappuccino, sabe? Eu nunca perguntei, mas ela tem bem cara dessas. Com leite sem lactose, ou de soja. A xícara é sempre muito grande, e não seria um expresso duplo, nem longo, talvez chocolate quente, mas tem cara de quem já superou essa fase, de quem já deixou o chocolate em pó pela canela, e que usa lingeries bordadas, bordô – não consigo visualizar essa cor, mas pelo som, certeza que é essa.<br /><br />Fica a me olhar com seus cabelos avermelhados caídos nos ombros e não sei nem seu nome. Ela me penetra devagar e é, ao mesmo tempo, um silêncio estranho e uma voz macia cantarolando no pé do ouvido. Só a ouvi falar uma única vez, quando esqueceu seu livro e me levantei correndo para ir atrás e avisá-la: a voz quase não saiu, mas agradeceu timidamente. “Gratidão”, ela disse como quem mastigasse e engolisse cada uma das letras bem rápido para não ter que dividir com ninguém. Era Virginia Woolf, mas eu teria apostado em Jane Austen. “Gratidão”, a única palavra que ouvi dela me desce que nem nuvem quando repito em voz alta. Ela me olha como se fosse leve o suficiente para me atravessar. Não sei o que vê em mim, mas ninguém nunca me olhou assim.</span></span><div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><b><br /></b></span></span></div>
<div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 17.99715805053711px;"><b>Fragmento III - são muitas as mulheres -</b></span><br style="line-height: 17.99715805053711px;" /><br style="line-height: 17.99715805053711px;" /><span style="line-height: 17.99715805053711px;">Ela chegou e virou tudo de cabeça para baixo. Quando eu era pequeno, me lembro, uma das coisas que mais gostava era de plantar bananeira. Vivia com calos nas mãos, de vez em quando caía e batia de costas. Mas era uma das minhas coisas favoritas, logo em seguida aos jogos de memória – que disputava com vovô - porque acreditava estar mais próximo do céu. Em </span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">dias de céu florido de nuvens, se acertasse o ângulo, meus pés sujos de lama podiam encostar em umas, com muito esforço eu conseguia até segui-las na mesma direção que o vento. Quase sempre escorregava, ou perdia a força nos braços e caía de costas no chão. Às vezes até de cara.<br /><br />Mas é basicamente isso, ela veio. Em tempos onde nada nunca vinha. Veio e virou tudo de cabeça para baixo e eu tive fôlego para ficar plantado em bananeira, sem nem arriscar cair. Era uma coisa que só ela. Ela era uma coisa que só. Dessas coisas que você pensa que poderiam existir sozinhas, sem mais nada. Não que fosse completa, não era, mas seus vazios, suas ausências, suas rachaduras que lhe davam a leveza tão própria. Ela chegou, sem mais nem menos – como eu disse, ela tinha condições de existir por si só, então quando ela veio a luz do mundo ao redor se apagou por um instante para que somente ela viesse a mim e somente eu a recebesse e somente isso e mais nada, mais nada. Chegou e virou tudo de cabeça para baixo, e a vida daquela forma era muito mais bonita. Muito mais leve, eu pisava nas nuvens com ela e me ardia de sol.<br /><br />E o mundo assim, com ela, fazia muito mais sentido, porque era muito melhor ter o céu debaixo dos pés. E se sentir infinito. Porque não existia linha do horizonte, horizonte ali era tudo. Fora do alcance dos olhos. Tudo imensidão. Era muito melhor ter o céu debaixo dos pés e nunca mais precisar olhar para cima – só de vez em quando, que de vez em quando eu sentia falta de todo o concreto e da fumaça e dos ônibus lotados e do cheiro de pastel frito com caldo de cana na rodoviária. E de ver as nuvens escorrendo pela cabeça.</span></span></span></div>
<div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></span></div>
<div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 17.99715805053711px;"><b>Fragmento IV - são muitas, mas tantas, as mulheres -</b></span><br style="line-height: 17.99715805053711px;" /><br style="line-height: 17.99715805053711px;" /><span style="line-height: 17.99715805053711px;">Eu quero escrever, pai, sobre uma mulher que mudou o mundo, pai. Se não o mundo inteiro, ao menos o meu. Ela inverteu a rotação. Ou parou, indefinidamente. Essa mulher…você sabe, né, pai, espero que você saiba que cada um de nós é um astro um mundo melhor um planeta. Todo um universo! Ela veio assim, sim, todas elas vêm. Mulheres não brotam d</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">a terra, nem caem das árvores, eu não sou tolo e ainda as assisto porque não é possível, pai, isso que elas fazem, elas espalham sei lá o que é isso que mulheres têm, mas elas espalham por aí, por esses mundos astros universos, que fazem os dias de sol hipnotizantes e os dias de chuva de sol para serem hipnotizantes da mesma forma. E a melhor parte, pai, é que de vez em quando alguns homens têm a sorte de que uma venha para eles. E ela veio, como veio, veio vindo, assim de fininho, mas arrombando a porta sem nem descascar o esmalte de um dos dedos, sem nem pingar uma gota de suor. Sim, pai, não voltei. Parei, juro, pai, parei com o pó. Não, nunca mais, nem desodorante, pai. Cerveja sim, mas como sem cerveja? Como ser,-veja? Como ser sem ela? Ah, eu já não sei, porque ela se instalou em mim e nem fazia frio, ela se escondeu debaixo da minha pele e de vez em quando levanta meus pelos em calafrio. Ela gosta de silêncio. Eu juro, já faz mais de ano, pai, e nem deus sabe o tanto que suei. Se juro pela minha mãe? Mas ela já tá morta, pai, não acho que vá morrer de novo. Se bem que sei lá, a vida toda é tanta morte que a morte não deve acabar por ser vida não, só cerveja e buzina da alegria, pai, eu juro. Mas nada disso te interessa, eu estava falando dela e você vem e me interrompe e não é alucinação, deus quisesse que fosse e eu não me arderia tanto. Amor arde, pai. Queima o peito. No Carnaval, pai, buzina de alegria só no Carnaval. Sim, e a cerveja. Você pode abrir as gavetas e verificar, não vai encontrar nada, nem pó nem pedra nem nada. Eu sei, pai, você já me disse que quem se mete com essas coisas para de se aproveitar dos melhores prazeres do mundo: nem come e nem fode. E você pode ver, eu tenho comido e me fodido muito. Chega estou mole. Chega estou seco. Mas a vida toda é Carnaval, serpentina som alto cerveja praia sol pele dourada suor gozo gozada essa vida é muito gozada, pai. Você me disse para ser feliz, estou sendo. E tem felicidade maior que pular Carnaval todo dia, pai? Chega estou seco. Chega estou mole. A felicidade, uma hora, cansa. Além disso, perdi uns 10kg. É que lá em casa, desde que ela chegou, não tem mais nem panela. Minha fome só se mata no corpo dela.</span></span></span></span></div>
<div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><b><br /></b></span></span></span></span></div>
<div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 17.99715805053711px;"><b>Fragmento V - eram muitas as mulheres -</b></span><br style="line-height: 17.99715805053711px;" /><br style="line-height: 17.99715805053711px;" /><span style="line-height: 17.99715805053711px;">Nós não éramos. Eu era, ela também. Seríamos juntos desde que assim: eu e ela, ou ela e eu. Mas nunca nós. Até tentamos, mas os ossos perto da virilha dela me espetavam a barriga. E ela achava que eu roncava demais. Mas ainda assim, nada me deixava da mesma forma que ela. Que chegava e partia em menos tempo que uma piscada. E nada me deixava como ela – fal</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">o da forma como meu corpo ficava. Ele respondia como se tivesse nascido pronto para recebê-la. Como se só ela o pudesse despertar do cansaço da exaustão e do sono da vida quando tudo que ele mais queria era um instantinho de morte. Mas ela me espetava com os ossos a barriga. E achava minha respiração alta demais, mesmo acordado.<br /><br />A gente tentou. Um pouco mais do que normalmente tentariam. Porque ela gostava muito da minha voz e do meu cheiro. E das palavras que eu escolhia para dizer coisas que ninguém escolheria dizer. Ela me achava meio louco, e eu achava totalmente, mas dessa forma que era bom, que daí a gente nunca se perdia. A gente gostava de sair. A gente gostava muito de assistir a cidade e abordar estranhos para dizer coisas que ninguém diria. A gente gostava de sentar em restaurantes para assistir as pessoas e escrever a história delas em guardanapos.<br /><br />Ela me achava meio louco e eu era totalmente, mas por ela. Seus ossos me espetavam a barriga, mas era ainda pior, já que seus olhos me espetavam o coração. Eu lembro de uma noite quando saímos, eu e ela, era junho. Festa junina. Nós dois vestidos com o mesmo xadrez, usando umas botas maiores que nossas pernas e uns cintos de fivelas bem chamativas. A gente se divertia com nada e isso era, basicamente, tudo. A gente passou pela barraca de doces, e ela pulou para trás, e abriu bem a boca num grito tão agudo que me abaixei para escapar do tiro. Ela se aproximou do balcão e apontou. Voltou com uma maçã-do-amor, maior que seu rosto, espetada num palito, envernizada de açúcar nas mãos e um sorriso maior que toda a Austrália. E disse assim:<br /><br />- Eu adoro isso! Como é mesmo o nome? Disso aqui, desse amor duro de maçã?<br /><br />E eu nunca me esqueci, porque depois que ela falou, sem pensar, se riu que quase se borrou na vida. Quase se desfez em riso. E chega roncou. E seus ossos todos quase explodiram do tanto que ela não se cabia de risada. E foi mesmo engraçado, especialmente a cara que ela fez depois que se escutou. E ela ria que quase se caía e eu a segurei. Seus ossos da virilha me espetando a barriga. E ela maçã avermelhada brilhante se morrendo se vivendo de tanto rir. E de repente vi, que era exatamente aquilo ali que nós éramos, um avesso do que eu e ela éramos. Ela maçã e eu palito.<br /><br />Era um amor duro de maçã.</span></span></span></span></span></div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-46517700456811187772013-11-22T13:03:00.000-02:002013-11-22T13:03:09.056-02:00Fragmento IV - ou cartas para um corpo ausente <span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">Eu sinto muito. E muito do que sinto é só falta. Como uma parte que me foi arrancada de súbito. Um membro que perdi num acidente - e ainda sinto se movimentar. E foi mais ou menos isso. Não digo qual membro me foi arrancado porque precisaria confirmar ter sido o coração. E dizer isso me daria urticária. Falar do coração, como algo passível de ações</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"> de outros, como algo passível de trocas - inclusive na posse dele -, é uma coisa cafona. Diria até desnecessária. Pulemos essa parte. Mas é mais ou menos isso, como um membro mutilado em um acidente - odeio essa palavra "mutilação", é tão dramática. Mas é, é mais ou menos isso, fui acidentado. Atropelado pela vida. Que parecia uma senhora paciente a me assistir brincar no jardim, a me ajudar catar as pitangas nos galhos mais altos, a me ajudar a amarrar o cardaço a cada novo tropeço. Um dia, que parecia como outro qualquer, nem a vi se levantar da cadeira de balanço e quando abri os olhos de novo, no jardim não estavam mais os pés...nada de jabuticaba, nem de amora, jaca, manga...nem mesmo as pitangas! Nenhum pé. Nada mais ali me dava, e nem daria, pé. A grama toda queimada. E um jardim todo feito de vazio. A velha senhora, a vida, acabava de me dar um tapa. E o que escutei, antes de cair me dizia, dentre outras coisas, que a vida não deve ser só feita de flores. Abri os olhos, e olhei aquilo tudo. Por horas, dias, meses. E eu não podia me mover, me via cada vez mais preso ao chão. As cores todas tinham se perdido. E a coisa mais estranha, é que logo depois de abrir os olhos, me pegaram pela mão. Aquela senhora e alguns dos meus tios. Me pegaram pelas mãos e me levaram para um lugar claro, mas que me fazia me sentir escuro. Entrei por uma porta, e todos em volta me olhavam e não me viam. E eu sentia por eles, cabisbaixos, a quem não reconhecia. Entrei pela porta aberta que dava para uma sala toda branca, mas sem sê-la, revestida de granito acinzentado do chão ao teto. Nela, haviam flores. Muitas flores, principalmente brancas e amarelas. Amarradas em círculos, espalhadas. Circulando um caixote de madeira. Madeira feia, avermelhada, que brilhava cheia de...como é? Cera? Era uma presença de extremo mau gosto. Mas haviam flores, ao contrário do que a senhora havia me dito. Me aproximaram do caixote e quando fui olhar, continha dentro dela, além de flores, uma presença ausente, que me foi deixada, pela vida.<br /><br />E eu sinto muito, pela vida ter que atropelar, às vezes, dessa forma, para nos fazer perceber que nem tudo é feito de flores. Mas que flores são tudo. Dito e feito.</span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-63939366884846434992013-11-19T10:08:00.000-02:002013-11-19T16:03:57.392-02:00Um conto sobre o amor <span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">Se ficar bêbado fosse uma profissão, eu já estaria perto da aposentadoria. Não passo uma noite longe do bar. Isso é estranho? Mas não acho que eu seja alcoólatra. Eu só gosto desse ritual. De me assistir no processo, entre estar atado ao chão e começar a levitar. A verdade, é que me sinto meio à parte do que acontece no mundo. E quando bebo, qualquer</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"> lugar é mundo.<br /><br />Ontem eu me senti mal, porque entre os copos de vodka e o frio, começaram a falar de saúde doença câncer terminal avc hepatite pílula do dia seguinte anti-concepcionais hipotireodismo, e eu nunca nem fiz exame para saber se tenho alguma disfunção hormonal ou um sinal cancerígena na pele, ou sei lá...pressão alta! Eu não sei nem dizer em que andar vive a minha pressão. Não gosto de médicos. Semana passada eu saí correndo da sala de medicação por não aguentar mais tomar soro, e ver aquele branco todo.<br /><br />O que aconteceu foi que bebi tanto que passei cinco horas vomitando, depois dei um intervalo de duas horas para me deitar no chão do banheiro e encarar o teto. Nunca tinha percebido o quão feio e embolorado ele está. Dá uma sensação de sujeira, mas aqui em casa é tudo bem limpinho. Minha mãe lava as embalagens de tudo o que compramos, antes de guardar. Sim. Minha barba já está crescida há tanto tempo que logo já deve começar a cair, mas ainda moro com minha mãe. Não sei como deixa-la. Como deixar alguém que lava todas as embalagens antes guardá-las? E as seca. Ela as seca também. É uma coisa meio psicótica paranóica doentia, eu sei lá. Mas acho bom. Acho que é bom sim, de alguma maneira.<br /><br />Enfim, durante o meu intervalo, enquanto estava deitado no chão do banheiro pedindo a Deus para que por favor me levasse e deixasse essa minha dor esse meu vômito essa minha tontura para trás eu recebi uma mensagem de uma mulher que me ama lá de longe. Ela me ama lá do outro lado do oceano. Rodeada de uma língua que conheço, mas pouco compreendo. Ela me ama inclusive em mais de duas línguas. E eu não sei porque, mas ela simplesmente me ama. Como se nada lhe restasse fazer além disso. Me amar, me amar, mar mar, a distância que seja. Uma vez despencou de lá só para me dar uns beijos. Uns milhares. Na minha língua e nas dela. Foi legal foi lindo porque parecia coisa de cinema e tinha cheiro de pipoca, mas ela andava na ponta dos pés, e eu não consegui parar de odiar isso depois que comecei. Em alguns momentos, até cheguei a achar bonitinho, parecia que ela estava escalando as nuvens, mas aí eu me lembrava que ninguém faz isso, e eu tinha vontade de tirar fora os pés dela. Mas mesmo sem eles, não era, nem nunca seria ela. Entende? Ela pesava demais para pisar nas nuvens. E meu sonho sempre foi amar no céu.<br /><br />Mas é isso, enquanto eu estava naquilo de encarar o teto, tinha uma outra mulher dormindo quase desmaiada no meu quarto esparramada na minha cama. Ela vive aparecendo por lá, isso já faz uns dez anos. Talvez menos. Com certeza mais. Já mudei a cama de posição, já mudei de cama, mas ela continua indo parar lá. E isso quase toda noite. Ela me chama de amor, e ainda diz que sou dela. Me chama de meu amor mesmo sabendo que já fui amor de outras, enquanto era amor dela. E quando ela me pergunta quantas eu digo que não sei. E ela diz que mais de dez em cada ano. Talvez menos. Com certeza mais. Então deve ser amor mesmo, né? E eu devo mesmo ser dela.<br /><br />Quando consegui, finalmente, levantar do chão e voltar para o quarto, ela viu que a outra, a que fala mais de uma língua e me espeta com os lábios, apareceu nos meus olhos. Não sei como. Ela simplesmente vê através de mim. E me atravessa não importa a hora não importa o tempo não importa nada. E mesmo assim, vendo a outra em mim, viu primeiro minha palidez e meus joelhos trêmulos e meu cabelo com cheiro amargo e me levou até o hospital, onde ficamos por umas duas horas, sentados. Esperando, e ela sem falar nada. E eu gemendo mais alto que um cavalo – cavalos gemem? Se não, deveriam – para ver se ganhava um olhar dela. Um olhar dela no meu e meu coração pararia de disputar a dor no tapa com o estômago.<br /><br />Sabe que não sei em que ponto quero chegar. Hoje fomos ao cinema, eu e ela, como fazemos todos os domingos - é quando a gente se despede e se vê quando der -, e eu falei que acho esse troço de amar meio psicótico - pior, ainda, que lavar todas as latinhas. É claro que discutimos, a gente sempre discute. Porque ela sonha em constituir família, e eu só espero ter dinheiro para nunca faltar bebida na geladeira – que ainda é a da minha mãe. Ela é meu amor pão com ovo. A gente até finge que não, mas nada no mundo é mais gostoso.<br /><br />“Basta querer” é isso que ela me diz quando eu tento dizer que é ridículo tentar garantir que vai me querer para sempre. No começo, me dava vontade de vomitar, mas eu já me acostumei. Eu odeio a hora que ela vai embora, porque só ela sabe me deixar. E só ela volta depois que me deixa. Eu tenho muito medo de que um dia ela vá embora, e não volte no domingo seguinte. Vem muita pipoca no saco pequeno. Às vezes você não fica assustado pensando na possibilidade de nunca ser amado?</span></span>
<div class="fb-like" data-href="http://comascartasnamesa.blogspot.com.br/2013/11/um-conto-sobre-o-amor.html" data-layout="standard" data-action="like" data-show-faces="true" data-share="true"></div>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-72183413720418068102013-11-11T15:36:00.003-02:002013-11-11T15:36:59.459-02:00Mais um de amor/ mais de um amor<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">Era só um instante. Um instante que nos separava daquilo que éramos para algo muito maior. Eram alguns centímetros, entre meus lábios e os seus. Entre seu pescoço e a minha nuca, alguns a mais. E toda essa distância podia ser, era, muito maior. Questão de milímetros e quase, mas quase mesmo, poderíamos desafiar todas as leis da física da química da matemática as </span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">leis de todo o mundo e ocupar o mesmo espaço – mas ele não existia. Isso era quase. E eu tenho certeza. Entre nós, quando não nos encostávamos, quando ficávamos só a nos olhar com estranheza – afinal, éramos um estranho ao outro, por mais que uma luz se acendesse no fundo dos olhos nos dizendo que não -, quando ficávamos assim, nesse bem querer distante que se queria desde o cálcio nos ossos, parecíamos dois seres vivos em morte – de tanta vida que nos petrificava. E ficávamos, na distância entre nossos corpos, a nos olhar com estranheza naquela intimidade distante que, tão logo, se revelaria ainda maior. Porque éramos, afinal, um talhado de maneira a caber encaixar em cada ausência rigidez orifício do outro. E por sermos assim, já tanto e já tão depressa, as coisas desandariam um pouco – caminhariam no tempo próprio, onde não caberiam as palavras e só os olhares estranhos que ficariam a se estranhar e se querer nesse bem querer tão grande que se confundia. Ficávamos a nos olhar, os lábios se tocando mesmo distantes, e havia um espaço ali. Naquele espaço entre o meu corpo e o seu: o infinito. Era ali onde se encontrava. E quando nos encostávamos: o infinito escorria pelas nossas pernas, escapava pelos lados e subia, arrepiando os cabelos. Também subia. O infinito era em horizontal vertical e em diagonal. Transcendia, num sambinha meio mole, meio caído para o lado esquerdo, com os ombros encostados na poltrona, sonolentos, esperando só a hora, os pés querendo ir, querendo ser levados, sem nem se importar para onde.</span><br /><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;"><br />Isso tudo. Isso tudo é besteira. Isso infinito. Que nos possui de uma forma estranha. Onde, mesmo estranhos, nos beijamos a boca e lambemos as feridas. E por um segundo que seja, de uma noite fria de maio, parecemos feitos um para o outro, e nos desfazemos, por meia-hora que seja, um no outro. Isso infinito que se soma as miudezas dos dias e nos arrastam pelas ruas, a atravessar rapidamente enquanto os carros se embaralham, a segurar as mãos. Esse espaço infinito em que nos molham os lábios e eu só penso em algumas palavras para te dizer e espero que sejam ditas sem que eu precise abrir a boca. Essas palavras que nos saem pelos poros e eu te olho e você me entreolha – e na estranheza não lhe deixo mistérios, você me entra e nenhuma porta trancada, nem semi-aberta, nem nada. Eu deixo que entre e espero mesmo que nunca saia, por isso, essas palavras nunca ditas já dizem, imediatamente, que eu espero por algo infinito em tempo, mesmo sabendo que não existe. Ou querendo acreditar que sim, mas homem o suficiente para dizer que não. Não vamos nos assustar. Não vamos nos assustar. E eu te beijo os lábios e você me morde a língua. E nada nunca é tudo e tudo sempre é nada. Eu te beijo com essas palavras engasgadas. E nosso beijo tem gosto de verbo. Que saiba, eu conjugo, com a precisão de quem costura um peito aberto, num volume baixo quase afundado na terra, antes de dormir, e a cada vez que acordo, ao longo da noite, e te olho acordada em sonhos...</span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-82954081554687601972013-10-31T08:15:00.002-02:002013-10-31T08:18:23.547-02:00Irônica crônica sobre o tempo <div style="line-height: 1.5; margin-bottom: 24px;">
<div style="color: #444444; font-family: Georgia, 'Bitstream Charter', serif;">
<i>Postada, originalmente, no <a href="http://entreasvistas.web73.f1.k8.com.br/entre-linhas/ironica-cronica-sobre-o-tempo/" target="_blank">Entre-vistas</a>.</i></div>
<div style="color: #444444; font-family: Georgia, 'Bitstream Charter', serif;">
<br /></div>
<span style="font-family: inherit;">Maria todo dia acorda, olha para o relógio digital na cabeceira da cama, que sempre se diz entre 07h00 e 07h30, e liga o abajur. O quarto amanhece sempre anoitecido já que, de segunda a segunda, à noite, quando o relógio digital se diz entre 07h00 e 07h30, ela fecha as persianas, cujas frestas são tão pequenas que qualquer dia pode se tornar noite no mais simples do movimento – “só puxá-las da direita para a esquerda”, ela grita, em geral da sala, quando coincide de alguém passar pelo corredor por volta desse horário e ela estar com os ossos duros demais para se levantar da poltrona.</span></div>
<div style="line-height: 1.5; margin-bottom: 24px;">
<span style="font-family: inherit;">Depois de ligar o abajur, se senta com os pés para a fora – suas pernas curtas não permitem que os encoste no chão -, do lado esquerdo da cama de casal. O lado direito vive há dez anos vazio, e depois de sentada de seu lado, Maria olha para ele e constata, mais uma vez, as fronhas perfeitamente passadas de dois dos quatro travesseiros dispostos, igualmente, na cama. Se assusta, mas se lembra que já passou do susto, e então ajeita os cabelos, já quase todos brancos, passa a mão pelo algodão da camisola, e coloca o relógio de pulso, no qual checa, outra vez, as horas. Entre 07h00 e 07h30.</span></div>
<div style="line-height: 1.5; margin-bottom: 24px;">
<span style="font-family: inherit;">Tira uma roupa do armário. Todo dia uma camisa estampada de flores – Maria ama flores, especialmente as gérberas - e uma saia, geralmente em tons de cinza, que alcança os joelhos. Alcança um sutiã e uma calcinha – chama de “calçola” e ri, como Maria ri das coisas que só saídas dela tem graça – e entra no banheiro. Depois que tira a camisola e já está entrando no box do chuveiro, volta para a bancada – onde deixa seus colares, escapulário e o relógio de pulso – e olha, mais uma vez, as horas. Pouco passou de entre 07h00 e 07h30, mas ela olha e leva um susto, e diz só para ela: nossa, já são mais de (um horário entre esses dois)?</span></div>
<div style="line-height: 1.5; margin-bottom: 24px;">
<span style="font-family: inherit;">Abre o chuveiro, bem pouco, a água cai quente no seu corpo desenhado pelo tempo, o sol, e a gravidade. Aí se lembra que não gosta de banhos quentes – quem ocupava o, agora, vazio da cama é que gostava que ela lhe preparasse um banho quente -, e se lembra ter se confundido – pelo sono, é claro - e sai do chuveiro para chamá-lo. Se enrola na toalha e vai descalça até o corredor e grita: Zeca? Zeca? Zeca, homem? E se chateia, e faz aquele barulho típico de chateação com a boca e volta para o quarto, é quando olha a cama e vê metade dela intacta, a metade dos travesseiros com a fronha passada, e se lembra que esqueceu que ninguém mais ocupava aquele banho quente há dez anos.</span></div>
<div style="line-height: 1.5; margin-bottom: 24px;">
<span style="font-family: inherit;">Se assusta, mas se lembra que já passou do susto, e ajeita o cabelo já meio molhado, e se senta do seu lado da cama, o esquerdo, sem encostar os pés no chão, pelas pernas curtas, e então olha para o relógio digital e vê que já passam bem das 07h30, e vê as persianas fechadas, no escuro do quarto, o corpo quase todo molhado, lembra que esqueceu de se secar depois que saiu do banho, e se seca. Pega outra camisola de algodão no armário, olha as camisetas estampadas de flores e se lembra dos jardins da infância. Faz barulho de nostalgia com a boca e retorna ao banheiro, coloca a camiseta estampada de flores e a saia que vai até o joelho no cesto de roupa suja, pega o relógio de pulso e pensa em como já está tarde. Coloca ele na cabeceira, junto com os colares e o escapulário. E se deita para dormir.</span></div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-30485329334564104402013-10-27T19:06:00.003-02:002013-10-27T19:06:52.368-02:00Fragmento X - ou sobre perder as contas<div class="MsoNormal">
Eu descobri, há pouco, que já te olhava, há muito. E fiquei
sem palavras. Sem saber como dizer o que nunca imaginei que diria. E fiquei sem
rumo – não que tenha, em algum momento, imaginado um caminho. Mas fui me
arrastando, feito bicho, para perto. E me enrolei, feito bicho, em suas pernas.
E me emaranhei, feito folhas que caem das árvores com o vento, nos seus
cabelos. E era natural, nisso de ser seu, ser natureza. Pois é na natureza das
coisas, que as coisas realmente estão. Existem. Em essência, e depois se
alongam, em existência. É natural que, de alguma maneira, eu queira existir em
você. É natural que, essencialmente, e por natureza, eu queira ser, em fato –
corpo - e em essência, de alguma forma, algo que exista em você.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Porque – e eu sempre me justifico – ao te olhar, eu absorvo
o mundo. Acredite, quando eu digo – embora, vez ou outra, sendo humano, minto -
o mundo, em si, é um universo, dentro
desse universo maior - que a gente estuda nas maquetes da escola - e pessoas
são mundos, planetas, e a vida feita de galáxias, e as superfícies de contato
onde os corpos – e essências – se encontram, astros. Os toques são estrelas! E
por isso, caem – como luva ou se despedaçam. Fico nervoso quando te falo mas,
por favor, me escute – caso queira, ignore, mas não me conte. Eu te olho e
através desse olhar que eu te recebo mundo. Um que só eu vejo. Porque eu te
recebo, agora, de uma forma, e mais tarde te receberia de outra, e nunca como
teria sido antes, nem como outra pessoa te recebe, ou receberia – porque expandimos
e nos remoldamos junto a esses universos. E só eu te vejo assim, mas não por te
querer te olhar tanto. Não por esse
querer descabido que me explode o peito e que me expande. Me sinto universo no
meu próprio mundo. E dessa maneira que enxergo - porque só eu te vejo assim –
vou e vasculho, pelos seus olhos, esse seu mundo. Por detrás dessas paredes,
íris, retina – desconheço a fisionomia dos olhos, mas enrolo -, uma parte caos
e um inteiro acaso. E eu caso, casaria, tão bem contigo. Porque entre poeira e
tinta descascada eu ainda vejo o seu brilho. E como brilha e me traz arrepios.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu te vejo e revejo todo esse caminho – um que eu nunca
decidi tomar, pois prefiro vinho. E te tomei pelos braços e te engoli e senti,
finalmente, a satisfação de estar cheio. Não de estar completo, não acredito
nisso. Somos sempre fragmentados. Mas enfim...você me encheu, e senti, ao longo
do meu corpo – como um todo, e parte por parte – sua presença me ocupando. Eu
te ingeri com os olhos, perpassei sua boca e te instalei no coração.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Daí, naturalmente, já não sei mais onde queria chegar, pois te olhei e fui feito bicho me emaranhar nos seus cabelos, e fui feito folha cair sobre seu colo e fui feito não sei nem por qual motivo, mas com certeza entre o caos e o acaso era para vir parar aqui... o natural seria que me instalasse da mesma forma. De qualquer maneira, em essência, existo e aguardo que me receba.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-24432745666530120592013-10-27T13:51:00.000-02:002013-10-27T13:51:01.119-02:00Para onde vão os grandes amores?<div style="background-color: white; border: 0px; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: xx-small;"><i style="color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 1.7em;">*Esse meu texto foi publicado no </i><span style="background-color: transparent; line-height: 23.796875px;"><span style="color: #333333; font-family: Trebuchet MS, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>http://entreasvistas.web73.f1.k8.com.br/category/entre-linhas/</i></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="line-height: 1.7em;">Ao longo das crônicas dessa coluna, vocês vão perceber que o meu ir é sempre o voltar para esse mesmo tema. Por mais que resolva dar voltas e pincelar outras coisas, em um momento seguinte, acabarei retornando a ele: ao amor. Isso não faz de mim uma pessoa meiga, não precisa fazer barulhos agudos e querer me abraçar. Ir e voltar ao amor, à sua reflexão, não me torna afável, mas humana. Também não me classifica como romântica, e sim revela um fetiche pessoal. Sou um voyeur dos amores dos outros – e dos meus.</span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Dia desses, na internet, li algo sobre rever um grande amor. E a leitura ficou impregnada em mim. Nem tanto pelo conteúdo do texto, mas pela situação indicada. Isso, de “rever um grande amor”. Não quero definir aqui os tamanhos de cada afeto. Cabe a cada um saber do seu. Dos meus grandes amores, sei muito pouco ou quase nada – sei que não cabem no conceito de “tamanho.”</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Essa minha incapacidade de dar a eles medida, pode te levar a uma outra conclusão sobre mim: de que só amo amores sem tamanho. Sim. Amores precisam ser desmedidos. Aqui, não pretendo me direcionar a quem ame com fita métrica e horário fixo. Já nos bastam as contas que chegam em um mesmo dia de cada mês, e o número de xícaras de açúcar que vão na receita do bolo, e o número de minutos que espero até o sinaleiro ir do vermelho ao verde. Eu quero falar do amor que, em algum momento, te faz perder o Norte. Mesmo que já perto no fim. Ou, o ainda mais e melhor, no êxtase adolescente do início.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Para onde vão esses amores que nos viram do avesso? Para onde foi aquela pessoa que te fazia pular e levantar os braços, entusiasmado com a sintonia entre os dois, a cada vez que saía de perto? Para onde foi quem subiu em uma escada de alumínio, na frente do seu prédio, só para alcançar sua janela e te deixar flores? Para onde o tempo levou aquela pessoa que deu seu próprio nome a uma pinta minúscula – e que nenhuma pessoa, além dela, veria – que você tem, desde criança, na barriga?</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Como é difícil rever um grande amor. Por mais que anos passem, existe um choque que te impede de olhar firme, com os dois olhos, para aquela pessoa. E a culpa não é sua. Nem dela. A dificuldade está nessa lacuna: em que momento o “grande amor” abandona o corpo físico e se desfaz? Quando você passa a olhar aquela pessoa como um peso morto jogado no seu sofá da sala, um barulho incômodo que te impede de dormir? Com sorte, essa pessoa não sairá da sua vida completamente e retornará de outras maneiras: em pequenos afetos, trocas de favores no trabalho, ou em encontros casuais onde ambos se limitarão a conversar amenidades e trocar as mesmas informações pessoais que constam no Facebook.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Grandes amores não se refazem no convívio. Grandes amores não encontram espaços outros que não o da boa educação – isso, na melhor das hipóteses. Existem, é claro, exceções. Mas as quais não dou muito crédito. Para mim, essa enormidade de sentimentos e sensações, quando se transforma em amizade, ou em companhia para o cinema de toda quarta, mostra não ter tido a dimensão ou a profundidade imaginada. Grandes amores rasgam!</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Quando um amor desses some entre duas pessoas – seja da parte de uma, ou de ambos -, os laços entre elas se desfazem. Perdem sua natureza. E para onde vão? Não escrevo no intuito de descobrir. Não acredito na existência de um espaço onde morre o amor. Talvez ele dilua na água gelada dos compromissos e da rotina, ou na monotonia. E depois que isso se dá, terreno-comum: grandes amores só são grandes enquanto amores, depois se reúnem as miudezas da vida.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="line-height: 1.7em;">O desejo que antes não se satisfazia no gozo, a vontade que não se limitava ao corpo, a presença que mesmo presente se fazia saudade: quando isso desaparece, entre esses dois corpos, não existirá nada se não o estranhamento. O desacostume. Parece extremo, mas é como se lhe fosse amputada uma parte. Você perde um membro. A pessoa se torna outra diante de seus olhos. Em algum momento, depois que acaba, é inevitável se perguntar: agora que não somos mais um grande amor, o que somos um para outro? E o pior: quem sou eu agora?</span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.7em; margin-bottom: 1em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
A sorte é que haverão sempre amores. Uns parecerão maiores. Outros mais apertados. Terão os livres, os neuróticos e os grandes amores de antes continuarão circulando por esse mundo. E será sempre estranho. Até acontecer tudo outra vez. E, quem sabe, a gente se acostumar com o fato de que, mesmo que não se perceba, o amor é algo tão grande que chega e vai embora por vontade própria, sem dar nem satisfação.</div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-7281593179548297062013-09-17T21:50:00.001-03:002013-09-17T21:50:35.413-03:00Fragmento 4 - das compulsões<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">com pulsões,</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">esse amor-músculo</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">me expande </span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">e me comprime</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">Às seis horas já estamos de pé. Eu sempre te olho ainda deitada e te desejo bom dia. Bom dia, amor. E encosto meus polegares próximos aos seus olhos e limpo suas remelas. Você se agonia e contrai os braços. Se de bom humor, ri. E me pede para deixar de ser louco e eu te digo que isso só sou por sua causa. Você ri de novo e</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"> deixa a calcinha jogada pelo chão e entra para o banho. Eu tento ir atrás, mas você, mesmo depois de me deixar, não me deixa. Tranca a porta e me diz que só te atrapalho.<br />Eu sou todo atrapalhado e mesmo correndo para o banheiro, você fecha a porta na minha cara e eu quase sempre bato com o nariz. Meu nariz nasceu primeiro e cresceu mais que o resto. Quando te disse isso, pela primeira vez, você riu por vários minutos. E eu concluí que estar apaixonado dá mesmo mais graça as coisas.<br />Se de mau humor, você empurra meus dedos afastando meus braços e acaba se arranhando e me fazendo arranhar você. Diz que já está atrasada e que eu só te atrapalho. E reclama que minhas unhas estão grandes demais para um homem. Então critico seu sempre presente discurso sobre a crueldade dos estereótipos. E você me bate a porta na cara. E quase sempre pega no nariz. E eu sei que do outro lado da porta você escuta o barulho da madeira do osso e da cartilagem. E eu escuto e sei das suas costas em atrito com a madeira os pêlos e ossos e o barulho das suas nádegas batendo no chão pouco depois de escutar a pele em atrito com o esmalte da porta e seu corpo deslizando até as nádegas fazerem o barulho que fazem ao encostar inconsoláveis no piso frio de cerâmica.<br />Eu sei que fica sentada por uns dez ou doze minutos respirando com força com a cabeça para baixo e a testa apoiada nas mãos fechadas. E eu escuto você pensando que queria ser mais calma e mais controlada e que não deveria me dizer o que diz quando está irritada sem saber nem o motivo. Pensa que não deveria nem de brincadeira me dizer que só atrapalho e nem fechar a porta em minha cara porque um dia poderia acabar quebrando meu nariz. Pensa que um dia poderia, até, acabar nos quebrando. Nos fraturando. Fazendo sangrar. Pensa que então eu poderia ir embora. E eu escuto você me pedido para por favor não ir. E alguma coisa que não consigo escutar direito te desespera e você se levanta e abre a porta assustada. Sossega quando me vê deitado na cama e vem com seu corpo nu me cobrir. Respira fundo todos os seus pensamentos que acha secretos e me aperta até dormir. Me aperta até suas mãos afrouxarem e você partir. Amo quando sai para sonhar<br />e esquece seu corpo no meu.</span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-64741988485621720102013-09-16T23:01:00.002-03:002013-09-16T23:48:56.055-03:00Fragmento 3 - da distância que percorrem os sonhos<i style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">(Voz vinda da televisão) Segunda-feira, dia 20 de dezembro. Boa noite, começamos agora o Jornal Local. Relatório da Polícia Militar revela que a incidência de acidentes de carro é quatro vezes maior no período das festas de final de ano.</i><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Na noite de domingo eu disse, enquanto tomava a sopa, que na segunda eu começaria a reler Dom Casmurro. Porque na madrugada, de sábado para domingo, eu havia sonhado com um machado me perseguindo. Um machado preto e branco, duas vezes o meu tamanho, do qual eu fugi incansavelmente durante todo o sono. Foi um sonho de noite inteira. Sonho! E não pesadelo porque, quando senti o coração prestes a pular pela boca, parei, com as duas mãos para o alto e me virei em direção a ele, que desacelerou o passo, e fez o coração fazer saltar a pele, veio andando quase se arrastando e me abraçou sem braços. Me abraçou um abraço desabraçado e eu me senti mais leve. Quando acordei, pesava todos os meus quilos a menos. Era quase negativa do tanto peso que me foi tirado, mas não é esse o estado, "ser negativa" me pesa. Eu era toda leveza...</span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">No fim da tarde de sábado encontrei alguns amigos da faculdade. Depois de assistir o sol se pôr e traçar uns cigarros, decidimos prolongar a companhia, o estar-junto. Enquanto o álcool percorria seu caminho - da mesa do bar, para a quina da mente -, demos voltas e voltas por pontos difusos de opinião até desaguarmos em Capitu. Não sei mais nem como, mas chegamos até ela. Entornamos Capitu. Viramos a moça do avesso. Pegamos carona na ressaca dos olhos dela e nadamos nadamos nadamos. No final, a mesa quase toda se colocou contra mim. Que decidi que nunca seria uma Capitu. Decisão já feita antes, na escola, quando precisei ler Casmurro, e retomada, então, depois de anos passados e depois de anos esquecida. Nunca cigana, nem dissimulada e nem oblíqua. Condenei aqueles olhos que nunca vi. E que terra nenhuma pôde comer. Ainda ergui o copo e pedi para que um Bentinho fosse enviado para mim. Que todos os Bentinhos escapassem dessas Capitus, pelas quais se sentem imamente atraídos. Por detrás disso, o pedido era para que alguém olhasse em meus olhos ao ponto de querer descrevê-los - sutilezas que a linguagem não revela. Eu repeti várias vezes que jamais seria como Capitu. Teria raízes na terra, não tremularia nem por catástrofes e, sob condição alguma, teria quinas, pontas apontadas para fora de mim. </span></span><br />
<span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Fui obrigada a fazer as pazes com Capitu, no sonho. E essa paz feita me desfez. Acordei tão mais de ressaca do que qualquer mar, do que qualquer par de olhos. Estava leve feito pluma. Feito areia que vai e volta faceira na beira da praia com a menor das brisas. Pus as tripas para fora, antes de dormir. Acordei sendo só coração. O corpo fraco, mas gostoso de vestir. Parecendo pijama de avó. Aquele cheiro de talco e algodão macio.</span></span><br />
<span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por isso, enquanto tomava a sopa, sentada na mesa da cozinha, sujando a toalha toda a cada vez que servia o vinho, disse que releria Dom Casmurro. Que me debruçaria pelas páginas empoeiradas onde vive Capitu. As linhas de horizonte Arial Black tamanho oito estampadas nas folhas. Por onde andam, rebentam, dissimulam, perfuram, os olhos de Capitu.</span></span><br />
<span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu sei, não consigo me sentar com os dois pés no chão. Ficar de pé, tudo bem, me dá a sensação de estar passando pela vida, e não ela por mim. Sentada, pelo menos um dos pés para o alto, apoiado em algo ao redor, qualquer coisa, qualquer coisa que não me dê a sensação de que a vida passa por mim e de que não flutuo com ela. De que o vento levanta as cortinas e eu permaneço imóvel. As cabeças que viajam para muito longe sempre são precedidas por pés que querem correr-mundo. Não, que querem correr-universos. Atravessar galáxias.</span></span><br />
<span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Já me disseram inúmeras vezes que não sou daqui. Acho que até sou mas, às vezes, vou parar desembestada lá longe.</span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 18px;">Minha mãe, uma vez, me contou que quando criança, me perguntaram o que queria ser quando crescer, e eu</span><span style="background-color: white; line-height: 18px;"> disse</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">- Quero ser grande, enorme, pra poder guardar o céu em mim.</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">E me perguntaram o motivo</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">- Porque é um jardim azul cheio de nuvens, </span><span style="background-color: white; line-height: 18px;">pra onde vão as estrelas </span><span style="background-color: white; line-height: 18px;">e as pessoas, </span><span style="background-color: white; line-height: 18px;">quando viram estrelas.</span></span><br />
<span style="background-color: white; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Aliás, você escutou o jornal? "Incidência" é uma palavra muito bonita. Gostosa de falar. Fica esse gosto de incidência na boca. Outra muito boa é "estrelas", a língua sobe dura e desce mole quase desmanchando. Estrelas fazem cócegas no céu da boca.</span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-17816243201407095122013-09-16T19:14:00.001-03:002013-09-16T19:14:20.891-03:00Que eu nunca descubra a felicidade<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 18px;">eu achei estranho, mas ela veio e me disse que precisava deixá-lo</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">- eu preciso deixá-lo</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">e eu fiquei olhando com meus dois olhos abertos do tamanho das rodas de um caminhão</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">- eu preciso ir embora</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">ela disse que precisava ir embora e eu fiquei olhando com meus dois olhos arregalados do tamanho das rodas de um avião</span><br style="background-color: white; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18px;">não mais que uma semana estávamos as duas sentad</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; line-height: 18px;">os no sofá da casa dela olhando o álbum de fotos da última viagem deles<br />mal se viam os prédios ao fundo<br />as obras de arte as portas dos museus as placas no metrô mal se viam as comidas nos pratos<br />era olhar para as fotos e estar hipnotizado pela hipnose dos dois<br />a maneira como os dois se olhavam em cada uma das fotos, como se olhassem pela primeira e pela última vez<br />como se a cada vez que se olhavam, o mundo passasse a ter um significado inteiramente novo<br />como se a cada vez que se olhavam, se assustassem com a presença um do outro<br />e até quando, nas fotos, não estavam se olhando, era possível ver as veias azuis, saltando das mãos de cada um, subindo pelos braços<br />a força feita pelos corpos para olharem para a câmera e não um para o outro<br />as fotografias que ele fez dela, trêmulas, borradas, mostravam há quanto batiam os corações<br />não mais que uma semana, ela esticava as pernas e tentando alcançar a ponta dos pés me dizia<br />- eu vivo da vida que ele me dá<br />a gente se servia de chá de erva doce ao longo da tarde<br />e vendo as fotos eu lembrava dela antes dele, quando mais nova, uma força imparável<br />que girava girava girava pelo mundo e pela vida como se não fosse parar nunca como se feita para isso como se feita para fazer vento e levantar as folhas secas no asfalto<br />girava feito o mundo feito roda gigante feito todas as luzes de quartos e salas acesos pela cidade à noite<br />girava como se nada pudesse interromper seu tão seu movimento<br />girava como se tudo fosse dela<br />sumiu por uns tempos, foi quando o conheceu e por mais que a falta feita por ela fizessem as coisas mais monótonas, nada foi pior do que quando se tornou inerte<br />- eu preciso deixá-lo<br />foi nesse momento em que percebi que ela já não mais girava<br />ainda levantava as folhas e todo o tecido morto espalhado pelos cantos<br />uma força ainda vinha do fundo dela e era o que a fazia sempre tão feliz sempre com os olhos sempre pintados de vida<br />quando perguntei os motivos os olhos se encheram de lágrimas e a tinta vida escorreu suave pelos cantos<br />ela se acostumou<br />a ser feliz<br />mas felicidade<br />tem que ser mais<br />que um costume<br />a vida precisa ser essa corda que quase se arrebenta para cima ou para baixo<br />essa linha que precisa ser ondulada pontuda afiada inesperada e que precisa oscilar infinitamente em si mesma e na gente<br />essa corda faca flor a nos penetrar<br />na vida a gente tem que sentir muito de tudo para nunca se acostumar com um sentir só<br />naquela noite, ela o deixou<br />ao lado de sua deixada ausência na cama, também um bilhete:<br />que a gente sempre seja feliz, mesmo sem nunca saber o que é a felicidade<br />aliás, que a felicidade nunca se defina, para que a gente nunca pare de procurar<br /><br />mal chegou setembro e já cantam as cigarras</span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-53194616089879964852013-09-12T22:05:00.001-03:002013-09-12T22:05:14.178-03:00Fragmento 2 - o que desandou<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Presença turva, em meio a milhares de corpos. Noite de céu aberto, estrelas a serem contadas nas mãos e um frio de rachar os lábios.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu bem te olhava. Eu bem-te-vi. E bem-te-veria, daquele momento em diante. E você mal me olharia, porque certas presenças, de luz muito fracas, de lâmpadas quase queimadas, às vezes, passam imperceptíveis por olhos que podem olhar-oceano. Olhar-se-ano.</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 17px;">De alguma forma, desde aquele momento, você entrou. Você adentrou por todos os meus cômodos - internos e externos. Deixava as portas abertas e largava as roupas pelos cantos. Eu não suportava o seu descaso. Também não suportava o cheiro dos seus incensos, especialmente o de canela. Que me transportava pra um tempo passado. Sobre isso não falo, nunca te falei. Só me irritava e saía batendo pé. E você saía batendo o pé atrás. Contando assim, parece que tudo se deu imediatamente. Sua presença no mundo e ausência de algo em mim se fundindo numa soma perfeita. Meu corpo, em espírito, te pedindo para entrar. Me pedindo para me entregar. Como, se de repente, as forças do universo percebessem que a falta em mim tinha exatamente o seu tamanho.</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 17px;">Eu me aproximei. Eu me aproxi-metro até que fossem só centímetros. E ainda assim, você sentia dificuldade em me enxergar. Pressionava forte os olhos e eu me sentia a menor das coisas. Para minha sorte, eu falava bem alto, então você me soube ali. Me percebeu, ausência presente. E achou graça do meu esforço em ser notado. Achou graça, também, na minha dificuldade para pronunciar certas palavras. Por sorte, eu te causei alguma coisa, logo o riso.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 17px;">Para a sorte se tornar azar, só é preciso trocar de roupa.</span><span style="background-color: white; line-height: 17px;"> </span>Foram meses, e a passagem latente de um dia após o outro. Os joelhos barulhentos se arrastando pelas horas. O coração vindo até a boca e o gosto de ferro.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu sempre soube que iria embora. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu sempre soube que, mesmo tendo acabado de chegar, estava de partida.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E que me partiria, num momento seguinte.<br />Mas te segui, mesmo assim. Pelos corredores pelos quartos as calçadas das cidades ruas estradas avenidas becos. Eu te segui de joelho correndo repetindo, a cada movimento, o quanto sua existência me movia. E eu te via e me via indo para frente </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E eu te amava. Nossa, como eu te amava. Como eu te amei. Como eu te quis e me refiz, só para caber. Só para tentar me prender em você. Porque assim, quando estivesse de partida, pronta para abrir a porta, pegar o elevador, e sair mundo afora, me carregaria junto. Me carregaria junto porque eu te pertencia. E você não poderia me tirar dali. Nunca me tirar de você.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Desmoronamos, eventualmente. E essa história se repete, com uma melodia que nos parece familiar. De algo deixado para trás ou imaginado.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As histórias se repetem, é assim com todas elas. Eu fraquejo, agora, ao tentar encerrar o que escrevo aqui. Parece desnecessário. E a</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">ssim são todas as coisas. Repetições desnecessárias.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sofro as dores desse amor-fratura:</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">exposto.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mas que se repete,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">de dor em dor</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">de história em história</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">de amor em amor.</span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-43911421809923996542013-09-09T15:52:00.000-03:002013-09-09T15:57:24.501-03:00Fragmento 1 - sobre a parte ou perda da nossa existência que se rompe<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><i>como ser</i></span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><i>sem ser</i></span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><i>seu?</i></span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><i>como seu</i></span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><i>sem ser</i></span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><i>céu?</i><br /><br />Sempre escutei que tudo acaba. Absolutamente tudo, sem exceções de qualquer tipo. Variam os motivos, as razões, a falta delas. De repente, começo a escutar que até o mundo vai acabar. O mundo. Digo, justamente o mundo - se eu pudesse escrever, aqui, as palavras de forma a representar o exato tom com que devem ser lidas, certamente você teria arregalado os olhos. Não me espanto. Não </span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;">me deixo espantar. Já sabia que nenhuma terra é completamente firme para os pés. Mas quando o vento parece trazer sorte, a gente até se deixa acreditar.<br />Naquela tarde, dirigia o carro pela estrada, e me atravessavam todas as cores, todos os cheiros e todos as sensações. Na paisagem em volta nada que fugisse muito do verde, azul, e branco - soma das terras com o céu -, mas eu era bem maior. Naquele momento, naquela tarde, em que eu saí com o carro pela estrada sem rumo, onde me encontrei, eu fui bem maior. Eu fui e nada mais do que era ficou.<br />Às vezes a mente escapa e vai dar voltas em torno de um astro qualquer. Coisas absurdas parecem sensatas e pequenos detalhes deixam de ser contornáveis. Passo a observar o mundo com uma lupa.<br />Parei o carro. No meio da pista. No meio do - que pareceria - nada. Estacionei na grama e como se algo falasse por mim, fui descendo pela mata baixa. Não gosto muito de insetos, nem da natureza, mas não me detive. Mesmo coçando dos pés a cabeça. Mesmo com o rosto pingando suor.<br />A copa das árvores foi se tornando cada vez maior, ou eu passei a vê-las assim, mais verdes, mais altas, e de repente aquela natureza foi se fechando e me fechando nela.<br />Estava só. Fui sol. De cabeça para baixo.<br />Parei o corpo. No meio da mata. No meio do - que pareceu - tudo. Deitei na grama e como se algo falasse por mim, fui soltando os músculos. Eu parecia prestes a escorrer a qualquer minuto. Eu era tão parte daquilo tudo. Fui flor, e como for, fui terra, pedra, musgo, cheiro do verde, cheiro de cor. Que eu nem conhecia, mas soube de cór. De coração.<br />Ali, eu quase te esqueci. Deitado sob as sombras, escutando o que deveria ser um riacho.<br />Ali, eu quase esqueci que estava tentando te esquecer. Deitado, sem sombras que não me escutariam e nem me diriam o que eu deveria ser.</span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os raios de sol que conseguiam atravessar, tornavam as folhas quase translúcidas. O mundo nunca tinha sido servido aos meus olhos de maneira tão crua. Estávamos nus, eu e ele, um de frente para o outro. Girando, girando, até nos vermos ao avesso. O mundo, num espasmo, pareceu um reflexo meu. E eu, finalmente, nos reconhecia. Ou conhecia, genuinamente.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ao estar deitado ali, eu era apenas um pedaço de algo. Mas aqui, dentro, eu me sentia inteiro.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nunca tendo sido fácil te esquecer, mesmo leve e desprendido, algumas imagens me vinham à cabeça. Você perdendo o bíquini no meio do mar, seus cabelos molhados e cheios de sal cobrindo seu rosto desesperado. Quando subia nas cadeiras para alcançar os objetos nos armários. Quando ralou o joelho ao cair da bicicleta. A primeira vez que bateu o carro. Eu só lembro de ter a certeza de que me amava quando precisava de mim. Quando eu me fazia necessário e você me olhava uns olhos arregalados, os braços em volta do meu.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu caí no erro de achar que só se ama uma vez na vida. E aí eu te amei por uma vida inteira.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Me desesperei, quase entrei em colapso. Os prazos se acumulando na mesa e você me dizendo que estava de partida da minha vida. Vida da qual achei que até eu queria sair. </span></span><br />
<span style="color: #37404e; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;">Eu joguei, muitas vezes, para cima de você o peso das suas próprias palavras. Antes, sem nem saber que as palavras não tem peso. São entes leves. O peso é o que está na gente. </span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #37404e;"><span style="line-height: 18px;">Eu te cobrei o número de vezes que repetiu "para sempre". E só depois fui perceber que a</span></span> eternidade está no coração de quem sente. Foi o que deveria ser - e assim são todas as coisas.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Parei o coração. No meio das recordações. No meio do - que virou - nada. Encostei com as mãos no centro do meu peito e como se tomasse posse de mim outra vez, fui te soltando. Te vi ser borboleta e te vi voar de mim para bem longe. Me vi ser raio de sol, no maior esforço para atravessar e tornar translúcidas as folhas, e voltar para mim.<br />Ali, eu fui tão maior. Fui tão eu. E eu é uma palavra tão pequena para o ser. Fui o que deve ser a existência rompendo os limites de seu próprio corpo para, eventualmente, abrigar um outro.</span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-22582696952970362142013-09-09T10:07:00.003-03:002013-09-09T10:07:32.665-03:00Rascunho esquizofrênico<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">Vontade de sair. Procurar você. Sabe, seguir pelas ruas. Te assistir pedindo um café com leite. Achar bonito até isso. Preciso parar com as repetições. Segurar mais firmemente os olhos. Tudo mudou. Agora, imagine, se antes de desejar um bom dia, eu já te abordasse com uma confissão. Nós dois cairíamos na gargalhada. Desespero traz risos. Mas ouça, agora eu sei, errei. S</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;">ei exatamente onde. E mais ou menos o porque. Não deveria ter sido aquele tempo. Merecíamos ter ficado para depois. Tudo era bem bonito, mesmo que, por ser sempre tanto, acabasse se desperdiçando.<br />Sem drama, eu vim por meios da sinceridade. Mesmo que isso nunca chegue a seus ouvidos. Eu converso contigo falando sozinho. Fico sentado no escritório. Calor absurdo e o barulho ineficiente do ar-condicionado. Alguém abre a porta e se assusta: sou só mais um convivendo com os fantasmas das coisas que me arrependi.<br />Eu preciso trabalhar na minha narrativa descritiva. Anotar melhor o que se passa no mundo.<br />No hall de entrada, quatro quadros, três deles com paisagens urbanas - uma mesma cidade vista de diversos ângulos, suponho -, o quarto é retrato de algum santo. Uma mesa no canto, com uma variedade de revistas. Três sofás em tons de marrom, uma poltrona azul-marinho, uma mesa-quase-bancada, com uma cadeira torta, e Maria sentada. Maria é a recepcionista, senta nesta mesma cadeira há cerca de dezessete anos. Exibe o cabelo em um coque frouxo, e acho que isso nunca foi diferente. Varia as cores do blazer, mas usa sempre calças pretas, de cós alto. Tem as pernas desproporcionais ao resto do corpo, são longas demais. Mas nem a consciência disso afetaria seus olhos atenciosos e satisfeitos. Passa o dia intercalando livros espíritas com a agenda do escritório. Deveria deixar o cabelo crescer.<br />Eu trago saudade? Quando você pensa no rumo que toda a coisa tomou...em algum momento você já pensou que poderia ter sido de outra forma? Digo assim, agora que tudo parece só passado. Que "seguimos em frente", e somos praticamente outras pessoas.<br />Eu penso nisso.<br />Aliás, esse tipo de pensamento não tem saído da minha cabeça. Tenho me sentido na obrigação de mastigar as lembranças,<br />- O amor é um erro que todos nós cometemos.<br />Nesse dia, seus cabelos estavam especialmente longos vistos por trás. Pareciam um véu a ir se arrastando pelos corredores. E os corredores pareciam muito maiores. Seus ossos, sua estrutura óssea, você estava mais larga, forte, firme.<br />- O amor é um erro que eu cometi com você.<br />Eu deixo essas palavras repetirem várias vezes, fazendo cócegas nos olhos até aparecerem lágrimas. Os dias que se seguiram desandaram.<br />Nada tinha cor. Nem gosto. Nem cheiro. Eu não tinha vontade. Não levantava da cama se não me puxassem. Não trocava de roupa. Ignorava completamente o espelho. Me arrastava num esforço<br />Eu senti muita falta da falta que você me fazia quando estava logo ao meu lado.</span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-41077098937242643982013-09-05T08:33:00.002-03:002013-09-05T08:40:46.317-03:00O não-texto sobre o envelhecer<div class="p1">
Tudo o que começo, começo pela manhã. Todas as histórias. Traço, entre as linhas, o desejo de que tudo se dê da mesma maneira que se dá um dia: com início, meio e fim. Eu sei que, na verdade, as coisas, ainda que não se queira, são assim: um começo, um desenvolvimento e uma ruptura. O desejo em si é o de poder saber em que momento o sol das coisas bate mais forte, quando haverá sombra e em que momento elas anoitecem. Eu quero ter uma previsão, já que o tempo, enquanto acontece, passa em seu próprio tempo. E não existem chances de enxergar, desde antes, o derradeiro minuto final.</div>
<div class="p1">
Dessa vez, começo de noite, no meio da tarde, na hora do chá ou de um café, em plena madrugada, ou à parte dos períodos do dia. Começo, aqui e agora, uma história sem hora. Agora que já não existe. Pois é uma história sem tempo e que, sem avisar, eu já comecei.</div>
<div class="p1">
Há tempo. Um tempo onde não cabem números e que se define por "muito", há muito tempo, quando ter energia elétrica era coisa raríssima e muitos dependiam apenas do seu próprio corpo para ter luz, ela vivia na beira do rio.</div>
<div class="p1">
"Na beira do rio", até hoje ela conta assim, como se só houvesse um rio no Maranhão. Um rio no Brasil inteiro. Como se os Oceanos fossem, aliás, todos um rio só. Como se toda vida desaguasse nesse mesmo rio. E fala desse rio dela, desse rio que ela traz pra quem estiver a seu redor, e se ri, e se põe a rir e sorrir por horas, com a cabeça balançando circularmente, cabeça que vai lá longe, lá para aquele há muito tempo - que, de repente, ali para ela, parece logo ao lado.</div>
<div class="p1">
Quando moça, ela conta que nadava pelada no rio. Contra a vontade de seus pais. Ela e uma de suas irmãs, a que dentre os seis, veio logo depois dela. Com nome de flor, mas pose de cactus. Magnólia, dos cabelos amarelados que nem algumas de suas irmãs-planta. Elas iam para o rio mesmo que o pai delas deixasse ordens claras para que não saracoteassem por aí. "Saracotear", é assim que ela diz, e se leva um tempo para entender, é o verbo que usa, e que usam todos daquele tempo, para definir o que duas moças fazem ao andar sozinhas pela cidade. Hoje, não poder saracoetar a faz rir, mas naquele tempo, conta, ficava vermelha de raiva. Fazia uma trança no cabelo e assim que seu pai saía de casa, pegava Magnólia pelo braço e lá iam para a beira do rio. Ela diz que cheiro melhor não existe, se existe, nunca sentiu. Cheiro da água cristalina, gelada. Tiravam suas vestes e ficavam nadando por horas, podiam passar dias ali. Depois ficavam um pouco debaixo do sol, se dividindo entre as árvores, se vestiam e voltavam para casa. Vez ou outra davam azar de chegarem depois do pai e enrolavam com alguma mentira. Apanhavam um pouco menos se conseguissem convencê-lo de que estavam em qualquer lugar, menos no rio.<br />
Tutu, como era chamado, que nem a massa feita de farinha e feijão. Tutu, na verdade, havia sido batizado como Manoel, mas com o tempo, era só Tutu, um homem moreno, alto, barrigudo, dos olhos verdes e os cabelos brancos que nem nuvem. Conhecido pela cidade toda como Tutu, o homem dos barcos. Ele trabalhava nas balsas, na manutenção e na navegação. Também construía uns barquinhos, com os quais tirava fotos toda vez que terminava, posava sempre ao lado esquerdo deles, de calças e camisa branca. Falo das fotos porque ela, sempre que fala e ri do rio, alcança uma dessas fotos da bolsa e fica apontando. Diz assim, "vou te mostrar um homem que era osso, olha aqui papai". Ela não se lembra com que idade ele se foi, assim como já não lembra da sua própria idade, mas como decidi que essa seria uma história sem tempo, essas coisas não importam. Ela conta sobre uma outra família que ele tinha, mas muito rapidamente, por não saber quase nada, descobriram depois que ele já estava debaixo da terra. E termina dizendo que tem tanto irmão pelo mundo que nem sabe quanto. "Mais irmão do que o tanto de água que passava pelo rio!".</div>
<div class="p1">
Sobre a mãe, ela fala um pouco menos, reforçando o papel que a mulher tinha naquele tempo - e não nego, se estende até hoje. O de uma personagem secundária, silenciosa, quase um fantasma. Dona Maria, que amarrava os cabelos das filhas em trança todo dia pela manhã, buscava um peixe no rio para a "mistura", descascava mandioca, que rezava o terço ao acordar, no meio da tarde e antes de dormir. Dona Maria que morreu na cadeira de balanço da casa da filha - a que ainda não dei nome - já aqui, na cidade grande. Morreu feito boiasse no rio. Feito molhasse de vida a brisa. Feito pudesse voltar se quisesse. Mas que se pôde, não quis.</div>
<div class="p1">
O nome dela não é de flor. É Maria, como sua mãe e que, embora para ela tenha sido, não era flor para os outros. Digo, certamente para alguns, mas não todos, mais gente concordaria das pétalas que viviam transparentes, imaginárias, em volta da existência dela. Maria, mas que chamam de Tita. E ela não lembra o motivo. </div>
<div class="p1">
Tita era menina do rio, sempre vai ser, e mesmo tendo saído antes que crescesse ao ponto da água bater logo abaixo de seus seios, nunca se acostumou com os outros lugares em que viveu. Ainda via o mundo batendo forte com pernas e braços para que o rio batesse, ao menos, abaixo de seus lábios. Ainda via o mundo meio embaçado, da água que entrava nos olhos quando se cansava e afundava um pouco. Ainda procurava o cheiro do peixe fresco e o gosto da farinha. Ainda atrás do sol para se secar antes de voltar para casa. </div>
<div class="p1">
A história de Tita, uma história sem tempo, que se repete pelos apartamentos. Zona Sul ou Norte. Asa Sul ou Norte. Rio de Janeiro. São Paulo. Curitiba. Brasília. Uns rostos com histórias escritas. De umas Titas que não lembram se já tomaram banho hoje. Que esqueceram a chaleira no fogo. E que não lembram o dia, o mês, o ano. Titas que trocam o nome dos filhos com nomes de outras pessoas "daquele tempo" e que eles nem conhecem. Esquecem do nome dos filhos, se assustam quando eles chegam para visitar aos domingos, por esquecer até que eles já não são mais meninos.</div>
<div class="p1">
Às vezes, até elas se esquecem que não são mais meninas a saracotear. E tiram a roupa, e saem desembestadas pela porta de seus apartamentos, atrás do rio.</div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-33418478682570585592013-08-28T20:56:00.001-03:002013-08-28T20:59:06.560-03:00Cotidiado das partes<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>O chão que o tempo treme/o teto que o tempo teme - </b><br /><br />o tremor do tempo<br />e alguma explicação<br />que distancie<br />os laços<br />dos nós<br />os outros<br />de nós<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />e o que tivemos de especial?<br />a ambição de normalidade<br />sextas e sábados vinho cinema parque cerveja quente apoiada na barriga cócegas transas café na cama beijos no pé do ouvido transes banhos quentes preguiça<br />lençol sob edredon<br />braço esquerdo sob o pescoço<br />braço direito sobre a cintura<br />para que não caíssemos de barriga dos sonhos<br />para que não caíssemos de cara na realidade<br />de que, logo, seria segunda outra vez<br />e os corpos cansados<br />que mal se perceberiam nas próximas noites<br />e os corpos cansados<br />um sobre o outro<br />peso mole<br />peso morto<br />amor que, estranhamente,<br />não abria em dias úteis<br />paixão morna de finais de semana<br />doeu<br />aceitar<br />separar<br />desencontrar<br />subtrair um de dois<br />mas fomos, acima de tudo, soma:<br />fomos concreto e qualquer coisa que pulse</span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Conto já pela metade do que te apanha depois bate -</b><br /><br />A vontade, primeira, foi pular em seus braços. Nem sabia seu nome, só queria, de alguma forma, estar em você. Me aproximei e elogiei seus olhos. Você me olhou com eles estranhos. Me atravessou, com o eles, até o outro lado. Me vasculhou com os olhos. Antes estranhos, depois familiares, à procura de algo esquecido por ali. A sua não estranheza m<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">e fez estranhar: me olhou ao avesso e nem um susto, nem sinal de disritmia. Você teve - e isso eu vi porque vi, antes, em mim - a mesma vontade de pular em meus braços. Ainda que eu fosse duas vezes menor que o seu tamanho, você teve vontade de pegar impulso e pular em meus braços. Seus olhos estranhos, familiares e, agora, risonhos, me diziam que você queria, de alguma forma, estar em mim.<br />Eu tive certeza: não tem como errar com as coisas tão certas. E te carreguei comigo. Ou você me carregou contigo. A verdade é que não importa a ordem. O tanto que ventava nesses dias teve relevância: éramos um par de penas escrevendo nossa história no gramado da praça municipal.<br />A história do meio - o desenrolar - é feia e bonita. É tão real que nem difere do que imaginei - durante e depois. É tão real que posso tocar nela. Está guardada no vão entre os seios. Às vezes, acho que é de pelúcia. Em outras, sinto estar tocando num carpete sujo. É estranho quando digo em voz alta, mas eu fico, todo dia, me lembrando de esquecê-la.<br />Olhos, vez ou outra, se dissimulam. Os seus estranhos, familares, risonhos, paravam, de repente, de rir. Pareciam animais famintos, destes que te seguram pelos braços e te prendem pelo pescoço. Que me apertavam contra a parede, vasculhavam atrás de algum segredo oculto: eles queriam me tirar tudo, me despir toda, até que não restasse mais nada. Nada trazido da rua, nada que já fosse meu. E me atiravam ao chão.<br />A vontade, de repente, era de pular dos braços para qualquer lugar, qualquer precipício.<br />A vontade final, e afinal, um poeminha que se despede e que se dispensa:<br />a vontade era de ir embora<br />pegar o sol<br />o trânsito<br />a chuva lá fora<br />e ele dizendo:<br />você não consegue viver<br />sem mim,<br />para agora e pensa</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span></span>
<span style="color: #37404e; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;"><b>Sou céu, sou seu -</b></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O céu que a gente vê<br />é reflexo do céu</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que há na gente.</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O céu que a gente vê</span></span></span></span></span></span></span></span></span><br />
<span style="color: #37404e; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;">é reflexo da imensidão</span></span><br />
<span style="color: #37404e; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;">que a gente sente.</span></span><br />
<span style="color: #37404e; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;"><br /></span></span>
<span style="color: #37404e; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;"><b>Amor do cerrado -</b></span></span><br />
<span style="color: #37404e; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">amor tem que ser</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">que nem ipê:</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">florescer</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">toda vez</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">que parecer morrer</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por onde seguir - </span></b></span><br />
<span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">o caminho claro para o amor é solidão</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">o caminho claro para o amor é escuro </span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">o caminho</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">é claro</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">para o amor:</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">escuro</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">aéreo</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">é passarinho</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">que não precisa</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><br />passar<br /><br />um caminho<br />quando esbarra<br />em um outro<br />é claro-escuro<br />e solidão -<br />a dois<br /><br />o caminho claro para o amor<br />é não cansar de caminhar<br />mesmo quando<br />os pés<br />precisarem<br />retornar ao chão</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Na ponta da sua língua -</span></b></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">viver de palavras<br />sentí-las<br />mastigá-las<br />apertar<br />engolir<br />lamber<br />dançá-las<br />transar-me<br />transá-las<br />transcender-me<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />atravessá-las<br />viver<br />ser palavras<br />uma parte<br />de desejar-ser eternidade<br />que nos toca<br />mas que não pode<br />ser tocada</span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Quimera -</b><br /><br />que a poesia nos complete onde a esperança falta<br /><br />que a poesia nos empurre onde a realidade falha</span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Glossário e fragmentos -</span></b></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">suscinto:</span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">nada sinto</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">só escrevo</span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">(e minto)</span></div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">amor:</span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">a poesia que os olhos vêem,<br />o coração sente,<br />e a palavra desmente</span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">poesia:</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">é aquilo</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que nos abraça até</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">em lugares</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que nem sabíamos</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">existir</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sem poesia,</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">nada rima com alegria</span></div>
<div class="p2">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">feito num poema de amor,</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">te encontro</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">quando o verso</span></div>
<div class="p1">
</div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">acabou</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sinto muito,</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">só não sinto mais nada</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">saudade é que nem coração de mãe:</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sempre cabe mais uma</span></div>
Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-75035513514929382032013-08-28T20:47:00.001-03:002013-08-28T20:47:31.798-03:00Partes do cotidiano<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><b>Ipê-rmaneça -</b><br />ipê</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">ipê</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">ipê</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">a quantos olho</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">como olho</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">você?</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><br /><br />ipê<br />ipê<br />ipê<br />meu coração-vermelho<br />salta do peito<br />quando<br />amarelo-você<br /><br />ipê<br />ipê<br />ipê<br />quando eu crescer<br />quero ter<br />ao menos metade das cores<br />e metade das vidas<br />que você me faz ver</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Das coisas mais belas, nada sobrou daquelas -</b> </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">das coisas que são<br />quando já não devem ser -</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">nas coisas mais lindas do mundo</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">ainda vejo você</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>O poema que escrevi sem amor -</b><br /><br />tentei escrever um poema<br />que não falasse de amor:<br /><br />não-amor<br />desamar<br />desarmar<br />o amor<br /><br />o não-amor<br />é uma forma<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />assimétrica<br />de amar<br /><br />o não-amor<br />é um amor<br />ausente<br /><br />poemas<br />são feitos de amor<br />e gramática<br /><br />poema<br />é uma forma<br />geométrica<br />de amar</span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Meio Gal, meio Tom - </b><br /><br />meu amor,<br />mansidão<br />de madrugada<br />vindo para a cama<br />se arrastando<br />por debaixo do lençol<br />pingando<br />na pia<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />torneira frouxa<br />ao longo dos dias<br />meu amor,<br />primavera<br />céu azul<br />domingo no parque<br />dormindo no parque<br />meio sonho<br />meio acordado<br />debaixo das árvores<br />das sombras<br />umidade<br />seu amor,<br />sertão<br />carente<br />faltoso<br />por destino,<br />raso<br />duro<br />e a isso,<br />condicionado<br />seu amor,<br />metrópole<br />canto dos pássaros-carros<br />e dos pássaros-vozes<br />seu amor foi aflito<br />amor-relógio<br />amor-pressa<br />esquecido<br />amor é um constante deixar-ir<br />e quem sabe volte...</span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Amor a qual me rendi -</span></b></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">seus olhos<br />e a forma como segurava o garfo<br />o sorriso<br />como corria inclinada para frente<br />os dedos do pé<br />quando caía exausta na cama<br />quando caiu de bunda na neve<br />como beijava minha nuca<br />como passava o guardanapo na boca, num movimento circular<br />quando apareceu na minha vida<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />verão de mil novecentos e nunca nos importaria o tempo<br />das vezes em que quase te perdi<br />a geografia<br />- a distância que, às vezes, nos atropela sem ver -<br />a geometria<br />- as quinas que a vida nos talha -<br />o tempo<br />- teimando em passar contra nossa vontade -<br />a vida<br />- que passa e fica -<br />era te ver<br />era só sentir<br />sua presença<br />seu cheiro<br />era só pensar<br />era nem pensar<br />um flutuar<br />em cores tranquilas<br />a céu aberto<br />na beira do mar<br />amor<br />que brota da terra<br />mas que parece suspenso no ar</span></span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Poema que completa e que não se entende -</span></b></span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">a gente vem sendo<br />a gente vai sendo<br />a gente vencendo<br /><br />- e toda a felicidade<br />na gente e no movimento<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />e no momento<br />áspera austera<br />aspiração de<br />eternidade</span></span></span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Integral ou desnaturado - </b><br /><br />você me disse assim:<br />- meu amor, não esquece o leite<br />pouco antes, sentados em silêncio, não sabíamos o que fazer estando um ao lado do outro<br />não sabíamos o que fazer sendo nós dois e mais aquela quietude<br />eu não entendia o que aquele silêncio nos dizia<br />e você não entendia o entender<br />desde muito tempo<br />desde muito antes<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />mais ou menos ali, naquele fragmento de tempo onde nos conhecemos e nos estranhamos<br />eu lembro de te dizer meio mal dito:<br />- parece cruel, mas sonho num dia, que nem filme, sair pra comprar algo e nunca mais voltar. Mas cigarro não, cigarro nunca...de repente um litro de leite. Sair para comprar leite e nunca mais voltar.<br />você me disse assim:<br />- meu amor, não esquece o leite<br /><br />nunca mais ouvi nosso silêncio<br /><br />nunca mais nem ouvi falar do nosso silêncio</span></span></span></span></span></span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-739514322136740108.post-23836286636206680882013-08-28T20:36:00.004-03:002013-08-28T20:36:44.273-03:00Os discos e os disses<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;"><b>Pelo leite derramado -</b><br /><br />quando esquecia teus olhos em cima dos meus, como se morássemos por entre as páginas de Chico</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">como se morássemos um no outro</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">como se morar fosse um estado eterno quando, na verdade, havendo eternidade, seria um jamais estado, mas sim uma condição imutável </span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">como se estivéssemos condicionados a isso</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">a procurar sempre morada</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">a procurar sempre abrigo</span><br style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 18px;">sempre ombro um no outro ma</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;">s nunca amigo<br />sempre choro e ocasionalmente riso<br />muitos beijos<br />e mordidas<br />e arranhões<br />e poesias<br />ao pé do ouvido ao pé da cama<br />- me devora ou me ama<br />quando esquecia sua vida em cima da minha<br />quando esquecia<br />quando vida<br />quando minha<br />quando<br />ando<br />quando<br />caminha</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pelo corpo esparramado -</span></b></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">carta descartável ou<br />das maneiras inventadas para avisar um ente querido que a morte foi encomendada mais cedo ou<br />das rimas que inventamos para dar graça as desgraças da vida ou<br />de como é engraçado costurar desgraças só para dar à rima: graça<br /><br />um dia, talvez, eu volte para casa,<br />mas hoje não<br />pus minhas tripas para fora,<br />e agora sou só coração</span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Caetano, não encha o que já esvaziou - </b><br /><br />não vou cair no seu papo<br />vou cair no seu colo<br />despencar na sua cama<br />quem sabe nessa hora<br />nessa exata hora<br />eu perdoe seus pés<br />e seus dedos tortos<br />e o cheiro de naftalina que vem do seu armário cheiro que não se esconde e nem se tranca já que a porta empenou<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />eu vou arrebentar a sua porta e entrar pela sala e entrar pelo banheiro onde te descobrirei pelo vapor quente e o som da sua voz cantando "nada mais de nós"<br />vou girar a maçaneta sem você se assustar sem você nem notar você vai demorar pra perceber e só perceberá quando eu estiver encharcada ensaboada esticada em você<br />e vou te beijar as costas antes que você termine a música<br />"vou me livrar de você"<br />vou te impedir que cante antes de te beijar a nuca<br />tem coração pontiagudo coração ponte viaduto tem coração que amansa que amassa e que perfura<br />é como no ditado<br />carne mole<br />em alma dura<br />tanto bate<br />até que cura</span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Poemanda -</span></b></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">delícia é viver nessa corda bamba<br /><br />que separa o precipício da poesia<br />e a poesia do samba<br /><br />pois a vida<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />pois é vida<br />pois é ia<br />pois ficou<br />a poesia<br />essa que me balançou</span></span></span></span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></span></span>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Me disseram ter sido o que tinha de ser -</b><br /><br />você fala tanto dela você ri tanto pra ela<br />você a chama quando é escuro e madrugada e você rola pela cama e acorda suado de um pesadelo<br />você olha para o lado e se dá conta de que eu aqui não sou ela<br />você olha para o lado e se dá conta da ausência dela<br />olha para o lado e diz para si mesmo não dar conta de viver sem ela<br />você tenta olhar pra ela mas só vê a <span class="text_exposed_show" style="display: inline;">mim<br />e eu te leio<br />você olha pra mim mas só vê a ela<br />você abre a porta a geladeira uma garrafa de cerveja um livro a janela<br />você olha para baixo e os carros e os pedestres o som dos outros apartamentos e um silêncio o silêncio todo seu<br />você procura por ela<br />e se volta vez ou outra para dentro e me olha e eu pareço morta<br />e você nada<br />e você voa<br />e você some<br />e você nem nota<br />e não diz mais nada e acha que eu não percebo que enquanto passo um café você espera o gosto do açúcar dela<br />o doce dela<br />a cana<br />a canela dela<br />o corpo dela inteiro ou o pedaço que fosse<br />você não diz nada<br />mas eu ouço mas eu leio mas eu vejo tudo<br />tudo que você me dá é nada<br />e eu não choro<br />e eu não rio<br />e eu não nado<br />nesse rio nesse lago nesse apartamento nesse contentamento flutuo enquanto posso e depois me afogo<br />vez ou outra você me abraça<br />me esfrega feito fosse lâmpada e eu me acendo<br />feito fizesse mágica você faz um pedido<br />mas ela não aparece<br />e você perdido me encontra<br />me esfrega me acende me encolhe e me monta<br />me abraça e é quando abraço seu abraço sendo só nós dois e me desmonto<br />você finalmente dorme ali corpo quente apertado espremido<br />amo quando você esquece seu coração no meu</span></span></span></span></span>Julianna Motterhttp://www.blogger.com/profile/02564339943704808792noreply@blogger.com0