segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Quanto Conto.

Eu queria que você se interessasse. Que você viesse, por vontade própria, e me perguntasse como foi meu dia, o que eu ando lendo, se peguei chuva, se passei frio. Que tivesse curiosidade em saber o porquê de, algumas vezes, eu ser tão pessimista. Porque eu te espero todos os dias. Mas mais no fim deles. Para você colocar a palma quente em minha nuca, dizer que está tudo bem, que o mundo não é assim tão terrível, que são só dias ruins. Para que você me entenda e, de alguma forma, queira dividir os mesmos medos. Medo de que tudo acabe. De que nada, nunca, seja eterno ou verdadeiro. Afinal, estamos nós dois juntos nisso. Na tentativa de sermos um par, de sermos parte um do outro. Podemos acabar os dois sentados no meio-fio, olhando para nossos sapatos, por vergonha de olharmos um nos olhos do outro. Podemos acabar, e é isso que quase sempre acontece, com quase toda a certeza. Mas a possibilidade, não importa o quão grande seja, é só uma probabilidade. E não quero pensar nisso. Não agora. Eu queria que você entendesse. Aparecesse aqui só para checar minha temperatura. Não basta dizer que ama. Nem dizer como é imensurável o amor direcionado a mim. Eu queria que você não se satisfizesse só em abrir os botões e soltar as palavras. Afinal, de que servem? Qual o uso delas? Não vão cobrir meus pés, nem me servir de escudo. Não direi o que me foi dito e me livrarei de qualquer julgamento. De que serve um amor que não se concretiza no tempo-espaço? Amor conjugável, transferível. No fundo, eu sei que ele existe. Mas eu queria que você me colocasse entre seus braços, só para comparar nossos batimentos cardíacos. Só para trocar energia. Queria que você me trouxesse a minha revista favorita. Uma caneca fervente de chá. Essas coisas de menina. Que fica cutucando as unhas para não se render e fazer um telefonema. Que tenta disfaçar o quanto precisa de você perto. De você querendo estar perto. Aquela vontade de se esconder, só para ver se você procura. De fazer bico. Fazer birra. Eu queria que, para você, as coisas tivessem o mesmo peso que têm tido para mim. Essa âncora que me prende aqui contigo. E que eu não tenho forças para levar para nenhum outro lugar. Para mim é tudo tão original. Novidade, cheiro de plástico. Destinos cruzados. Quero morar junto e ter filhos. Só andar de mãos dadas, trocar tudo para estarmos os dois sempre juntos. Para você não é nada de novo. Nada, de novo. E você fala e deixa claro como tudo é tão fácil de esquecer. É tão fácil seguir adiante. Foi assim, sempre será assim. Num ciclo. Vários deles. Eu queria que você me desse esperanças mas, ao mesmo tempo, você me dá e não as quero. Dicotomias do amor romântico. Quem tem tudo a oferecer é, justamente, quem pode levar tudo embora. Se for isso, se for mesmo tudo igual, não se esforce em me enganar. Por favor, apenas não faça isso. Já que tudo acaba de um mesmo jeito. Cada um em seu quarto. Um pote de sorvete ou uma garrafa de vodka. Se para você não for nada de especial, se o ritmo da música for o mesmo...dureza é se permitir à insensatez de acreditar. Frieza é permitir isso a outro que se entrega sem medidas. Eu queria que você me impedisse. Mas já é tarde.

Liberdade.

Não me importo se, um dia, acabarem as primaveras. Eu ainda te colherei flores. Correremos de mãos dadas pelos jardins, nos serviremos de vinho perto do sol se pôr. Eu te amarei para sempre. Criarei este tempo, se for preciso. E se um dia você precisar virar as costas e ir, seu lugar ainda será o mesmo no meu peito. Se um dia não for mais recíproco. Se o amor não for mais o mesmo. Se esgotar o desejo. O que o amor tem de enlouquecedor se harmoniza com os pés no chão, que me foram deixados pela vida. Eu aguentaria as pontas, você sabe. Cuidaria bem da saúde e do resto das minhas coisas. Ficaria tudo bem. Quando se tem as músicas certas, nenhuma dor é insuportável. Os livros e as doses certas. As garrafas e as palavras cheias. Ninguém morre de amor saudoso. Se você sentir vontade de ir, quero que não pense muito em mim. No que restará de mim. Se sucumbirei às tentações. Livrai-me delas. Coisa que cobraria de Deus, se julgasse necessário, mas nunca de você. Isso se você realmente fosse e a dor surpreendesse, sendo pior do que o previsto. Se isso - nós dois - estiver te apertando muito, apenas peço para que me avise. Apenas me diga: não dá mais, estou indo. Para não haver susto - nem surto. Se quiser fazer as malas e sair para conhecer o mundo, eu não vou pedir para que me carregue junto. Muito menos implorar. Eu sei como você voa. Como você simplesmente abre as asas e alça vôo. Vai embora. Foge do alcance. Não olho para trás, você disse. Nunca olhei para trás, frisou. Às vezes eu me pego te olhando. Às vezes seu olhar tão triste nem me percebe ali. As coisas que você vê e guarda para si. As coisas que você vê e só não conta para mim. As inúmeras vidas que cada ser vivo vive. As horas a mais no trabalho. Um capítulo de um livro. Um pensamento solto no engarrafamento. Coisas que estão sempre nos alterando, nos movimentando. Algo que acabará por te movimentar para longe. Infelizmente, não tenho controle sobre os fatores. Ninguém tem - mas nem por isso deixamos de desejá-lo. O que te corrói por dentro, o que te estremece por fora. Não posso isolar sentimentos. Para que os seus sejam sempre bons, sempre grandes, sempre direcionados para mim. Não posso te forçar a orbitar em minha volta. Se você quiser ir, não hesite: vá. Mas me avise e já vá logo. Não peça nem um minuto para ver a ferida. Para checá-la ou apalpá-la. Também não tente bisbilhotar. Só quero que vivencie tudo aquilo que aguçar seus sentidos. Não quero, nunca, tentar te privar de nada. Amor tem dessa inocência derivada dos burros. Esse infantil aceitar. Se quiser viver sem fronteiras, ser cidadã do mundo. Não pense duas vezes. Zelarei daqui. Estarei aqui. Dando o braço a torcer. E também, depois, se quiser voltar. Não me importarei com vestígios, ou com os carimbos nas folhas do seu passaporte. Com a marca de mordida em seus lábios. Alguma virose. Se tiver que ir, por favor, vá. Se puder voltar, mais que agradeço.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ainda Existirá.

Você quer ser ninado. Quer que alguém te pegue para criar. Quer ser colocado no colo. Para que passem a mão nas suas costas dizendo que uma hora tudo fica bem. E ficará. É pior para muitos outros. Essa dor toda é só solidão. Ao menos, você pensa que sim. É muito pior para outros. Mas você não se lembra disso. Você sequer cogita essa possibilidade - tão gigantesca. Porque ainda vive na lembrança dela. Diz que perdeu a vontade. Ainda pior, o coração. Que endureceu. Mas chorou nos minutos finais da novela. Chorou quando viu o pote de margarina vazio, a cigarra morta na janela, quando não conseguiu atender o telefone antes que parasse de tocar. Chorou por respirar, porque aquilo ali doía. Como sobreviver na ausência dela? Você se pergunta. E planeja formas trágicas de fazer tudo terminar. Sangrar um pouco só para ter a atenção dela. Desmaiar no chão do banheiro. Arrumar briga no bar. Aparecer no jornal. Você só quer que alguém reconheça sua dor. Que alguém a legitime como dor gigante só sua. Só sua. Particular e singular dor sua. Mesmo assim, quer que se identifiquem. Que alguém compadeça do seu sofrimento. Que tomem e retomem suas dores. Num ciclo sem fim. Onde você morra sem deixar-se morrer. Quer que te falem sim que vai ficar tudo bem. Mas não quer que essa hora chegue. E se irrita. A gente nunca escuta o que precisa. Nunca fala o que quer. De que servem as palavras? Se o silêncio, dizem, fala muito mais. Se há, também, o olhar. O toque. A ausência. Se só é dito o que convém. E palavras vão e vêm. A imagem dela te perturba durante o sono. Antes. Depois também. Olhando uma foto, você se lembra dela. Olhando um conhaque, você se lembra dela. Olhando, a imagem permanece. Parece que cada dia perde mais um pedaço. Tanto dela, quanto seu. Não se compara dor de um com a dor de outros. Mas certas coisas podem ser tão piores. Você tenta se lembrar disso. Vai fazer trabalho voluntário na Nigéria. Salva um passarinho que caiu do ninho. Doa todas as suas economias para alguma causa. Se te segurassem no colo, não necessariamente você encontraria a calmaria. Você ainda odiaria o mundo. Odiaria, muito mais, as pessoas. O vazio em cada uma delas. Cruxificaria o vazio de achar-se o ser mais magoado do mundo. Perceberia a tênue linha entre se magoar e se amargurar. Salvar o mundo, quem sabe. Encontrar o significado de salvação. Deixar a barba crescer e peregrinar por anos. Perder o rumo. Sublimar em espírito. Encontrar o que estava perdido. Qualquer essência que tenha se adulterado. Navegar por desertos em busca de paz. Perceber que dores tão pequenas resultam em desejos tão grandes. Vezes ou outras, maliciosos. O meio faz o homem. Livrar-se das pavimentações. Abster-se do dourado dos cifrões. Ver o mundo com olhos perceptíveis às rotações. As fases da lua. Acompanhar o ritmo das cores. Todas elas. Poder ver o céu e não reclamar se está fechado ou se está aberto demais. Pensar que tem gente que não vê nada. Lembrar que cada homem, todo homem, é feito de porpurina e coágulos. De labirintos e flores. Que não há porquê se perder, há sempre um caminho. Amar. E não desistir nunca. Se não for um mesmo amor para sempre, que sejam novos e outros. Mas amores. Nunca menores, nunca mais algo, ou menos outra coisa. Mas completamente amores. E se seu amor parecer errado, então é amor de verdade. Todo mundo tem medo de perder. Mas é todo mundo orgulhoso demais para fazer o que é preciso para manter. Olhar para os lados, esquecer a marca da camiseta, o país de origem, o número de reais que foi desembolsado. Ser-humano. Ser-mais-humano. E ainda há quem ache possível viver sozinho.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sentidos do Amor.

Era ela. Eu sempre sabia quando era ela. Ela sabia como ser por somente estar neste mundo. Ser daquela forma inigualável. A imprevisível existência dela. Que, primeiro, surgiu para mim na forma de mistério. E refletiu-se, em mim, como curiosidade. Aqueles ombros preguiços, aqueles cachos caídos. Não sorria, mal abria a boca. Mas existia. Digo, existia nos mesmos ambientes que eu. Nos corredores da repartição, queimando a ponta dos dedos com o café da lanchonete, balançando os quadris para outros homens. Na verdade, quando muito inspirada, balançando-se até para outras mulheres. Tudo para ela era assim, muito simples por não precisar ser explicado. Não devo, dizia. Em voz alta, e só assim eu podia escutá-la. Berrando, com um copo em cada mão, e um cigarro, quase na ponta, pendurado nos lábios. Não por deselegância, mas é que, geralmente, ela precisava repetir várias e várias vezes tudo que dizia para poder ser ouvida. Na copa, toda manhã, às oito, os homens se reuniam para discutir a final do Brasileirão, as quedas na bolsa, o comprimento das saias que desfilariam ao decorrer do dia. Ela era sempre colocada em pauta. Diziam que era difícil escutá-la enquanto seu decote berrava. Acho que ela só podia não perceber para tentar fazer-se entender tanto. Ou ela gostava desses jogos de desejo e carne. De vez em quando ela me olhava. E eu sempre lá, olhando-a de volta. Olhando-a mesmo quando estava de olhos fechados. Não sei o diagnóstico, mas sei que bateu forte lá no fundo do coração e, ao contrário do que se espera, nunca mais voltou. Sei que naquele dia, de sol insistente, ninguém imagianava que a chuva desabaria tão repentina-e-intensa-mente. O que se seguirá depois deste imprevisto, não tem nada de previsível, daquele tipo: ficamos os dois nos protegendo da chuva na portaria e aquela umidade toda nos arrepiou mais do que pelo frio e acabamos os dois atravessando a madrugada investigando nossos corpos, não. Não há nada disso. Antes houvesse. Pois ouvi dizer que, quanto mais se tenta guardar um desejo, empurrá-lo para dentro, para que ele não transpareça, mais ele vai se ocupando de nós. E multiplicando-se também. Então desejos crescem numa progressão mais que geométrica quando tentamos nos desviar deles? Bem, não sei do resto do mundo, com ele não me importo, mas comigo foi assim. Então, quando pus minhas mãos, pela primeira vez, na pele dela, meu corpo todo entrou em ebulição. Meu coração quis sair pelos olhos. E antes ficasse só na superfície. Isto de querer e ter e, se quiser de novo, repetir. Não. Precisou me roubar a atenção, a vontade, os olhos e...veja bem, até parte dos meus colhões. No dia da tempestade, ela só quis saber meu nome. E eu quis fingir não saber o dela. Depois dali, os bons dias e boas tardes, as conversas quando nos encontrávamos, uns drinques no fim do expediente, as pernas por debaixo da mesa. Uma sinfonia de aproximação. Um dia eu não bastei mais. Mas ela nunca nem falou nada. Esteve sempre quieta, me escutando. Enquanto eu ficava sem fôlego elogiando cada uma das coisas que mais amava nela. Ela nunca sequer disse se havia algo em mim do qual ela gostava. Mas eu entendia que sim, eu precisava que sim. Até parece que foi fácil. Depois de uns meses caminhar por aqui. Tendo largado o emprego. Mas saber que era o carro dela, estacionado na vaga favorita dela. Uma marca de sola de sapato, possivelmente também dela. Umas lembranças do perfume. E o saber ser sem estar com ela. Que através de anos mantiveu-se calada. Só estando ao meu lado. Ouvi mesmo falar que o amor era cego, mas nunca que fosse mudo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Amor Morreu.

O homem usa as palavras da forma que lhe convém.


Amor. É como um dia te chamarão. Eu te chamarei. Que serei chamada. Nome que, antes de sê-lo, é conjugado. Em primeira pessoa, com a esperança de não ser apenas uma só. Só mais uma. Paixão. É aquilo que dá, mas passa. Que, na maioria das vezes, não se sustenta sozinho. Que, muitas vezes, ninguém vê acontecer. Mas que não precisa realmente ser visto. Desde que seja mútuo e, então, muito provavelmente, concretizado. Concreto é aquilo que sufoca a gente. Que transforma, molda, ergue, ou nos enterra junto aos vermes. Nos prende por lá para sempre. Sempre no sentido de eternidade e, por isso, ingenuidade. Como acreditar em santos, sem nunca ter assistido um milagre. Como ser que nem todos os outros, e alimentar em si o que há de mais indigesto: a eternidade. Eternos serão todos e tudo, desde que não vivam em nós. Qualquer ser, que for realmente humano, tende ao pessimismo. E até prova da depressão. Nada do que é belo pertence a aquele que tem a palavra. Só é o ideal se não for meu. Como se nossas próprias mãos só fossem capazes de manchar e destruir as coisas. De desvirginar as flores. Através das flores a gente diz as coisas que não sabem ser ditas sozinhas.
Bom dia, amor. Meu amor, em carne, osso, com cheiro de lavanda, abrindo a boca perto da minha nuca. Nossa, como eu te amo...já disse isso hoje? Contei desse amor tanto? Pois se ainda não, é porque o dia só começou agora, há uns cinco minutos. Hoje eu acordei mais apaixonado do que nunca, percebe? Eu cosigo achar lindas até as remelas enfeitando os seus olhos. Se eu nos tivesse previsto, eu não teria me assustado. Se nos tivessem visto, isto não seria contado. Não teriam me acalmado. Sufocado por tanta pressa e concreto, você ainda conseguiu me apertar mais. Contra mim, contra seu corpo ossudo, suas voltas retangulares. Por todo o sempre é somente metade do tempo em que eu te quero comigo. Todo o tempo do mundo de um mundo que não tem mais tempo. Nada na vida vigora. Mas você é tudo para mim. Seu rosto de porcelana se arranha na minha barba mal feita. Eu te estrago, quase te anulo. É o medo de te perder. É um tremendo medo de te perder. Que me faz querer estar sempre contigo. Todo o tempo contigo. Eternamente só eu e você. Mas eu sei que tudo acaba. Sei que quase com certeza tudo acabará. Sei que não sou dos males, o pior. Também que não sou dos mais atraentes ou interessantes. E vivendo a gente se depara com tanta gente. Eu não te trocaria por nada neste mundo. Nem em um outro. Suas mãos miúdas, tenho certeza, são aquilo que me mantém de pé. De pé, cabeça erguida, vontade de ir adiante. Suas mãos, seus olhos, você dá cor a tudo. Bom dia, amor. Eu poderia repetir isto pelo resto desta vida, e das próximas que estejam por vir.
Bom dia, amor. Sinto muito mas, ontem, me ocorreu que nada disso existe. Nada. Nada de amor, nenhum resquício. Não só em mim. Em mim por você. Mas no ser-humano. No mundo. Não é amor. É uma relação de interesse. Não queria te entregar assim, logo de cara, já nas primeiras palavras, a verdade. Te dizer assim, como se não me doesse, que eu nunca te amei. Que nunca foi nada disso. Troca de secreções, sensibilidade nas genvivas, lábios inchados, o atrito entre nossos corpos, o afago. Nossos troncos dormindo encaixados. Um sono que parecia nos elevar para algo muito além da realidade. Distração, amor. Mesmo tendo dito, nunca senti saudades. Achei que sim. Egoísmo é querer que alguém seja seu para sempre. E a gente se prometeu ser assim por tantas vezes, né. Encostados na sacada, uvas moscatel e seu cheiro de flores recém-colhidas, eu apertava os olhos e jurava que não seria possível existir uma vida sem você. Eu me apertava contra suas dobras e te pedia para que, por favor, não escapasse. Nunca, nunca, em hipótese alguma, me deixasse. Confundimos tanto as coisas. Deixamos que elas nos confundam. Amor é coisa que dá e passa. Que só dá quando a gente quer que algo fique. Algo fique ali conosco para suportar a existência. Porque existir pode se tornar tão doloroso ao ponto de parecer insuportável. Não, não julgo a crença dos outros. A gente faz o que for possível para nos manter sãos. Agarra com unhas e dentes. Eu achei que precisava tanto de você, só de você. A única coisa que é natural ao homem é a sobrevivência. E a gente enfeita tanto. Porque não basta beber da fonte, não basta ter a mesa farta, temos que enfeitar a existência, torná-la mais agradável aos olhos. Quando na verdade só precisamos percorrer do começo até o fim. Inventamos problemas e, para isso, sentimentos. Nunca fomos amor, nem muito menos seremos eternos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Agradável.

Nada dura para sempre porque ninguém está imune a mudanças - em si e no mundo.

Eu não te esquecerei. Não porque foi um amor maior do que os outros - pois isto não foi. Mas porque será impossível me decidir se não sei viver sem você ou se não sei viver sozinha. Isto, é claro, num destes momentos em que a solidão parecer insuportável. Um destes momentos em que qualquer coisa parecer solidão. Coceira, dor de estômago, fome, parecer solidão. E esta "solidão" parecer saudade. E tudo ficar confuso. É verdadeira essa curiosidade sobre a cor da grama do vizinho, eu vou pensar. Vou pensar que quis sair para ver, e não mais te quis, e então te perdi. E a grama? Você iria perguntar, e eu perguntaria a mim mesma, imaginando você me perguntando. Diria: era tão esverdeada quanto a minha, quanto a nossa. E se eu me arrpendi? Você me perguntaria: e você, se arrependeu? Por enquanto, parece que sim. Porque até o som das folhas lá fora me lembra sua voz. E me dá saudade. E parece que vou me arrebentar de saudade. De tanto me sentir tão longe. Uma saudade que queima, que arde. E o pior é que, depois de um pouco, talvez depois de três horas, já quando estiver finalizando o dia, pode ser que nem seja mais saudade. Digo, eu posso descobrir que não seria, não era, não havia sido, saudade. E concluir que era só solidão, e o medo de me sentir para sem assim. Para sempre em si. Em mim. Digo, para sempre só. Não sei se não posso viver sem você, ou se não posso viver sozinho. Não sei a origem do meu medo. As raízes das quais ele brota. Nunca mais te ter ou só ter a mim mesmo. Será se daqui uns anos a gente se rencontrará? Se tudo aconteceu para terminar assim, e recomeçar mais tarde? Ainda assim, nada nos impede de escapar dos planos. De conhecer outros corpos, de tatuar novos nomes. De sentir vontade de passear de mãos dadas, de ter filhos, e comprar uma casa na praia. De sucumbir as tentações. Iremos nos afastando. E diremos que o tempo foi quem quis que desse tudo errado para nós. Mesmo pensando que, afinal, se ele quis, é porque deve estar certo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quase Infinito.

Escrever é como pincelar o retrato de uma mulher, completamente nua, de costas, sem se deixar esquecer de uma pinta ou sarda sequer. Depois, esta mesma mulher de lado, de frente, inclinada sobre um escorregador, plantando bananeira, agredindo alguém. Novamente, sem se deixar esquecer de uma pinta ou sarda sequer. Sem deixar nenhuma pincelada para trás. Nenhum traço, que alongue ou diferencie o contorno dos olhos. Sem omitir, ou disfarçar, nenhum detalhe.
Escrever é expôr. Tornar comum – e até familiar - ao leitor aquilo que, anteriormente, era secreto ou sagrado. Seria, usando ainda o exemplo da mulher, como aproximar o rosto do leitor ao corpo dela, e abrí-la toda – desde as pálpebras, até as pernas -, para que se possa, enfim, conhecê-la tão profundamente a ponto de afirmar: não há sequer um ponto preto em seus pulmões – ou algo do tipo.
Antes, ultrapassaria qualquer uma das minhas piores intenções, pensar em expô-la desta forma. Ultrapassaria qualquer conceito que eu havia adquirido de valor moral durante a vida. Digamos até, ético. Ultrapassaria, também, qualquer um dos meus impulsos mais tenebrosos.
Eu precisaria pensar cento e cinquenta vezes – no mínimo – para decidir se conseguiria arregaçar, de graça, para o mundo, aquilo que eu havia de mais precioso. Ainda assim, mesmo depois de cento e cinquenta pensamentos, de listas e mais listas de prós e contras, de noites mal dormidas, de pele e olheiras arrebentadas, eu não me renderia. Eu te manteria, para sempre, como o meu segredo.
Você era mais bonita preservada por mim.
Os sentimentos se contradizem mais do que nós mesmos. Os sentimentos são, na verdade, a raiz de toda a contradição humana. Não dá para ignorar a forma imbecil como os ratos se mantém sempre os mesmos.
Que óbvio.
Liricamente, eu podia, e te chamava de segredo – fingindo ser o único conhecedor de seus sabores, ao negar qualquer passado seu. Mas este meu segredo só tinha a forma de um quando éramos apenas nós dois encarceirados por quatro paredes. Quis manter as coisas assim, mas é claro que não pude evitar que todos soubessem – o amor tem dessa dicotomia entre intimidade e exibicionismo.
Caminhávamos durante a tarde no parque, com sorrisos maiores do que nossas próprias pernas. E, à noite, você me agredia, e vinha com suas críticas severas, com seu punho fechado. Nos atracávamos, e nos violentávamos – na comoção do sexo ou do sangue. Por mais que viver contigo fosse sempre guiado por um repertório novo ou inesperado, nós tínhamos nossos rituais.
Não posso dizer que deixávamos de ser felizes quando estávamos sozinhos. A violência, por menos sádico que o agressor seja, tem um quê de felicidade. A alegria de controlar um outro. De ser mais forte. E tem mais, sobre nós dois, todo ritual tem sua finalização, e a nossa era jurar eterno ódio com nossas línguas rigorosamente entrelaçadas.
Mas, afinal, o que é a felicidade? E sem sequer saber definí-la, será se conseguimos – ainda que por um instante – a proeza fazer um ao outro feliz?
Éramos mais sensíveis a nós mesmos do que ao resto do mundo. Acho que talvez fosse isso. Mas, no final, por mais que tentássemos escapar da rotina, acabávamos sendo um casal como todos os outros. Felizes para sempre. Felizes para algo que não existe. Felizes por nada.
Embora os sentimentos tenham mudado, e a idade nos evoque a posicionação de questionadores mais do que tudo, eu ainda consigo afirmar: você me fez feliz. Ao menos, aquele estado eufórico e taquicárdico, parecia felicidade. Nunca fui ver um médico para confirmar. Mas sei que isto só acontecia – e se repetia - quando eu estava contigo. Então são duas as opções, ou você foi a minha única experiência com a felicidade, ou você poderia, facilmente, ter me levado à morte.
Bastava que quisesse, você bem sabe que, de verdade, poderia.
Às três horas da manhã, quando você, sonâmbula, me acordava, era quando eu mais tinha certeza: meu amor ultrapassava os limites humanos.
Não, não era mesmo saudável. Você deve sim ter entupido algumas das minhas artérias.
E leve em consideração que, para os humanos, parecem não haver limites.
Hoje, com mais fios grisalhos na cabeça e no coração, não tenho mais garantias de nada. A gente vive achando que crescerá e aprenderá. E eu acho que ainda estou engatinhando. A verdade é que eu precisaria de mais vidas para sanar minhas incertezas. O ócio deve ter sido o procriador da Filosofia.
Quem sou?
De onde eu vim?
Que merda é essa?
Do que estou falando?
Que horas são?
Cadê você?
Para onde você foi?
Será se você volta?
Será se está com outro?
Alguém realmente já amou?
Ou foi tudo mesmo solidão?
Se nossos corpos inteiros se movimentassem por, pelo menos, metade do dia sem precisarem de nossos pensamentos, sentimentos, idiotices, ou decisões, eu acho que nossas vidas seriam mais fáceis.
E eu não teria te beijado naquela quase tarde de Dezembro.
E nós também não seríamos humanos. Seríamos o que poderíamos chamar de semi-humanos – por funcionarmos na forma de um por apenas metade do tempo.
Acho que seria melhor até do que ser um semi-deus.
Se releio isto, parece que estou escrevendo como uma forma de me livrar de você. Pois juro, você já se foi. Mas, se por acaso, me engano, e você ainda está aqui, ao menos, dorme. Dorme um sono longo e profundo. E por favor, não acorde. Estou melhor assim, mais leve...
Durante anos eu afirmei que, depois de você, nada mais faria sentido. Afirmei mil outras coisas, como se me desfragmentasse estando naquele estado febril da paixão. Eu só não afirmava minha loucura por não ter tido, tão cedo, conhecimento dela. À respeito do sentido, por enquanto, só consigo me provar que estava certo. Não há nada que, ainda, faça sentido. Mas acho que, mesmo com você, nada fazia.
E é quando tudo perde o sentido novamente – feito houvessem graus de razão para as coisas.
Eu realmente te amei como jurava que sim?
Parece impossível agora. Ninguém tem o direito de agir de tal forma sobre outra pessoa.
Deus, como você era cruel. E como me pesava.
Eu tirei meus sapatos, me acomodei no sofá, e te dei o controle da minha vida.
Mas, se tudo não se passou de um engano – o amor e sua dramaticidade toda -, eu não preciso me dar o trabalho de me desculpar. Sabe, eu tenho a certeza de que, para mim, ao menos, tudo que vivemos foi verdadeiro. E, por isto, valeria à pena perder algumas horas e, já de antemão, me lamentar.
Lamento termos chegado nisto.
Quero dizer, lamento termos vivido o que vivemos para, finalmente, chegarmos nisto. Lamento, primeiramente – e infelizmente -, por termos vivido. Pois, antes não tivéssemos, e então, agora, eu não passaria por esta crise de meia-idade - que passou uns dez anos presa no engarrafamento até chegar aqui.
É de rasgar o peito pensar que, para você, tudo pode ter sido apenas uma brincadeira.
Você tem que me dizer que ficará tudo bem.
Você precisa fazer isso.
Como sempre fiz, te imploro.
Montei em você para, só no fim de nosso passeio, perceber que se tratava de uma montanha-russa – e eu nunca conheci uma na qual fosse possível brincar eternamente, sem intervalos. Então, se eu tivesse percebido o que você era antes de ter embarcado, eu teria palpites de que chegaríamos, logo, logo, ao fim – como toda brincadeira. Ou, logo de cara, entenderia que era tudo uma armação.
Toda moeda tem dois lados.
E você só pode ter planejado tudo.
Caberia somente a mim decidir se estava disposto a me divertir – apenas me divertir – um pouco. Obviamente, tendo em mãos esta decisão, eu teria recuado. Impossível resistir ao seus olhos. Ainda mais impossível, desvencilhar-se deles.
Você tinha cara de quem não se deixava guiar pela ordem das coisas, mas era capaz de fazer qualquer um implorar por bis.
Enfim...
É sabido que montanhas-russas se sustentam em cima da idéia de oscilação – uma coisa meio ying-yang, meio clímax e resto do enredo, meio ups and downs. A mesma idéia que, de certa forma, se criou em você.
Só agora eu percebo como teria sido fácil ter escolhido te odiar.
Achei que viveríamos um romance. Achava que vivíamos. Mas, depois que terminou, pude me virar para e perceber que se tratou de tudo, mas menos de um.
Tudo bem, posso admitir que este foi um julgamento meio raivoso. Era sim um romance, com intervalos publicitários – você sempre foi bonita, e sempre soube disso -, uma mescla de romance com suspense, às vezes com drama, outras um romance policial. Um romance com trilha sonora de filme de terror. Um filme educativo. Um documentário sobre animais selvagens. Um pé no saco. Um berro. A maior felicidade do mundo.
Eu gostaria de ter sido o autor da nossa história.
Mas quando eu era pequeno eu também gostaria de ser invisível. A realidade
é que é bom sonhar.
Eu gostaria de ter sido o amor da sua vida.
Olhando para trás, eu sei que foi tudo muito bonito. Mesmo quando trágico, ou desnecessariamente triste.
Para mim, relembrar “felicidades” foi sempre algo muito duro. Ainda mais triste do que relembrar de qualquer outra coisa – outros momentos ou sensações. Relembrar, na verdade, é algo que me dói muito. Sempre fui covarde. E um dos meus maiores medos é nunca mais sentir alguma coisa que me envolveu profundamente.
E se eu nunca mais me sentir “feliz”?
E se eu nunca mais amar alguém da forma como eu jurei te amar para sempre?


Eu nunca fui bom em colocar tempo nas minhas histórias. Assim sei que tudo sempre sairá alheio aos dias e horários, como se minha vida nunca tivesse seguido uma ordem cronológica. Então, por exemplo, pode parecer, em algum momento, que eu tenha te amado antes mesmo de te conhecer.
E eu amei.
Só não sabia.
Mas, racionalmente, as coisas nascem – antes de poderem sentir qualquer coisa, aliás, de terem consciência -, depois crescem, aperfeiçoando o tato e a sensibilidade e, finalmente, se percebem sendo o que realmente são.
Como eu não quero me prender muito aos fatos cronológicos – por não ter memória, nem disposição -, esta análise poderia muito bem ser como uma esquematização atemporal da minha vida. E assim, chegaríamos, rapidamente, aos fatos que importam – será que algo, nesta enrolação toda, realmente chegará a importar?
Eu jurei que nunca mais amaria ninguém na primeira vez em que “partiram meu coração”. Fui excessivamente fraco e covarde ao afirmar uma coisa como esta, mas, ao mesmo tempo, só confirmei ser igual a todo mundo. Quem nunca acordou de ressaca jurando que nunca mais colocaria um bombom de licor na boca? Sempre juramos não poder suportar mais nenhuma dor, quando recém-casados com outra. Mas, ao menos, uma vez na vida, atingimos maturidade suficiente para entender que um coração é pouco perto do que, realmente, pode ser partido.
Ou para entender que há uma diferença entre corações e empolgação.
Por anos me rendi às tentações. E, doloroso mesmo, é se perder de quem te quer bem. É perder quem sempre te quis bem. Nada como uma vida partida para te ensinar que, aos 15, 16, anos, coração algum se parte. O que acontece, no máximo, é um arranhão no ego.
A gente passa a dar valor quando tudo já foi perdido.
A gente passa a dar valor quando já teve que dar adeus.
Não poder voltar atrás para, quem sabe, ter a oportunidade de salvar algo que realmente importasse, talvez seja a maior forma de ter algo verdadeiramente partido.
Engraçado como coisas pequenas podem salvar coisas tão grandes que nem sabemos dar a elas um tamanho.
Eu lembro, ela tinha olhos verdes, e neles, umas manchas amareladas. Olhar nos olhos dela era quase como dar uma volta na praia. Mas aos 15, 16, anos, tudo que a gente menos quer é a sensação de tranquilidade. Na metade do recreio, ela disse que preferia um outro, que já tinha carro, e me deu às costas, carregando uma lata de refrigerante. E eu, com lágrimas nos olhos, permaneci parado por uns minutos. Jurando que sabia o que era amor, jurando que a amava. Jurando que sabia o que era sentir dor, jurando que estava acabado.
Ainda bem que, alguns de nós humanos, crescem.
Melhor ainda: ainda bem que eu fui um desses.
No primeiro encontro você me perguntou tudo que era possível de alguém querer saber sobre a vida de uma outra pessoa. Meu nome, qual número eu calçava, meu lugar favorito na cidade, minha cidade favorita no mundo, a música que me definiria, as coisas que eu gostaria de ter feito e não fiz. Em contrapartida, você não me contou nada. É claro que, pensando bem, parecia mais um interrogatório do que uma conversa. E, se estivéssemos em um lugar mais vazio eu, com certeza, estaria fantasiando com algemas e uma arma bem aquecida entre suas coxas. E talvez uma cautelosa revista e um tipo mais delicado de tensão.
Não ouso dizer que você era bonita quando posso dizer que você era inexplicável. Pois bonita você podia ser – e era – para qualquer um. Ninguém podia fugir disso, você era bonita, uma beleza meio esteriotipada, mas inesperadamente presenteada por alguns detalhes únicos e, só por inveja, alguém seria capaz de negar isso. Inexplicável era uma coisa que você só podia ser comigo – como é imbecil a inocência envolvida no acreditar amoroso. Pois nisto de “inexplicável” estavam envolvidos seus traços faciais, seu sorriso, seu bumbum entre minhas mãos, seu talento para as artes plásticas, nossas afinidades e, principalmente, todas aquelas coisas sobrenaturais que você despertava dentro e fora de mim.
Quem diria que, em menos de um ano, estaríamos dividindo um apartamento de quatro quartos. Só nós dois e alguns transtornos. Quem diria que seria tão sério a ponto de não nos mudarmos nem para o seu, nem para o meu apartamento, mas sim para o lugar onde eu fui criado.
É que, veja bem, é um sonho e tanto reinventar vidas novas nos mesmos ambientes de vidas anteriores – de mesmas pessoas. Você disse, e eu me ajoelhei no milho, e te preguei junto as estrelas, lá em um tal de céu.
Às vezes nós nos questionamos a respeito dos nossos próprios santos, né? Ou eu nasci com defeito?
Eu tive que me livrar de alguns mimos e de algumas lembranças materiais para que encaixássemos um ao outro, os dois à cama e, principalmente, para que aquele padrão de vida se encaixasse ao que queríamos viver.
Por muitas vezes abri os olhos no meio da noite só para ter a certeza de que você ainda estava lá.
Já quando eu te vi pela primeira vez, eu tive a certeza de que você daria trabalho. Você tinha nos olhos mais do que eles já tinham visto. Com isto, eu não precisei ser nenhum gênio para entender que você ainda iria querer conhecer muita coisa – só não imaginava que não seria eu a te mostrar muitas delas.
Era o primeiro dia de chuva depois de uma seca que durava cento e sete dias. O primeiro momento depois de meses que casacos finalmente veriam o céu depois de tanto tempo de fumaça e bolor. No seu corpo eram claros os reflexos daquelas gotículas caídas do céu. O cabelo castanho-claro escurecido e despenteado. O rímel circulando e descendo pelos olhos. O sorriso aliviado. Finalmente, fez-se chuva. E fez-se dela esperança.
Você falava demais. Rápido demais, alto demais, animada demais. Mas sua excitação descia bem. Dos ouvidos ao estômago.
Algo havia possibilitado meus pulmões de incharem com mais folga.
A tão esperada, e dançada, chuva. Ou tão inesperada você.
O que você está lendo?
Vem sempre por aqui?
Ou está se protegendo da tempestade? Como eu...
Como você...
Como você eu nunca havia visto nenhuma outra.
Reta, se inclinava para mim e me apertava contra a parede.
Mesmo reta, e mesmo sem parede para exercer a força contrária.
Tinha um presença que não sufocava, mas que, também, não tornava a existência dos outros mais fácil.
Deus, como era linda de morrer...
Deus, como eu já quis morrer por você...
Toda vez que me olhava e eu sentia meu coração inflar.
Minhas pernas se afastarem por mais outra inflamação.
Meu corpo todo inflamar.
Toda vez que descíamos a avenida e pescoços só faltavam quebrar pra te assistirem girar em volta do mundo.
Toda vez que, nua, se estirava pela cama.
E se retirava da cama.
E dizia que não mais, nunca mais.
Deus, como eu quase morria...
Somando todo o tempo que gastei te implorando por eternidade, antecipei a chegada dela.
Adeus.
A gente se vê.
Só levou parte das roupas e uns cinco livros.
A gente se vê por aí.
A gente se viu.
Com ou sem vontade.
Se viu.
Reviu.
Reviveu.
Difícil largar de mão.
Trocar os lençóis.
Da cama em que nos deitamos tantas vezes.
Em que deitou-se tantas vezes.
A maioria delas comigo.
Umas três vezes com três outros.
E dizem que o perdão é o que nos torna humano.
Pois eu cheguei até o limite do ser.
E ultrapassei.
Engraçado é que foi você quem desistiu.
Queremos coisas diferentes.
E serviu-se de um copo de whisky.
E serviu para embaralhar minha vida.
Não é você.
Não sou eu.
Não é um outro.
Nem uma outra.
É que as coisas se confundem.
Logo mais se perdem.
Nunca mais se encontram.
Achei que fosse mesmo doer pra sempre.
Agora eu sei que não.
Mas, ainda assim, continua doendo.