segunda-feira, 26 de março de 2012

O Que Foi?

Lembra de quando a gente disse que as coisas todas acontecem por um motivo?
Daquela maneira doce, quase ingênua, de questionar coisas, mas afirmando, para não ter que escutar a resposta...
Lembra, você se sentou na grama, eu reclamei da umidade da terra, e você riu dizendo que as coisas ruins é que são realmente as boas...
Eram tempos em que as coisas pareciam verdadeiramente boas. Mesmo quando tudo parecia errado: eram tempos em que a gente não fazia muita questão de olhar para fora.
Foi de tanto espiar pela janela, você disse, que encontrei você.
Ainda bem que encontrei você - uma exclamação tímida.
Você apontava bem em direção ao peito, e dizia que há tempos era só vazio. Que há tempos era só vazio e que não entendia como eu poderia ser capaz de fazer tudo aquilo em você. Tudo aquilo que eu não sabia o quê.
Que você não sabia explicar.
Que nem eu e você sabíamos. De onde vinha, como agia, o que causaria...
Lembra, naqueles tempos eu ainda escrevia poemas, fazia natação, e meus cabelos quase alcançavam a cintura.
Lembra?
Eu lembro que escrevi assim:
Se acordasse um dia sem pássaros cantando, eu aprenderia a assobiar só para amanhecer contigo.
As coisas todas pareciam desvendadas,
pareciam caber em nossas mãos.
Pareciam pertencer a nós.
Parecíamos pertencer um ao outro.
A gente acreditava mais na imutabilidade das coisas.
Ou só tentávamos nos enganar.
Porque não sabíamos o que fazíamos ali.
Se hoje, você viesse me perguntar:
aquilo lá, foi mesmo amor?
- Não sei, mas, às vezes, coça, então, o que quer que tenha sido, ainda é, nunca cicatrizou.

terça-feira, 20 de março de 2012

Ausência.

Eu não te vi todas as vezes que gravei na minha cabeça. Eu te reinventei de diversas maneiras. Vivo nesta possibilidade de te recriar. De te dar a vida que eu quiser. De te dar voz e, então, palavras. De tirá-las de vez em quando.
Seus olhos me ocorrem durante o ir-e-vir de corpos que não se amam. Que quase se aceitam. Que se toleram e, por isso, se entregam.
As pernas dela sempre parecerão tortas comparadas as suas.
Não foi por querer que eu te quis.
Foi um sentimento que me surgiu de repente.
Como se no momento em que te enxerguei, a vida toda tivesse se desfragmentado em coisas sem valor algum.
Como se a vida começasse ali...
Como se fosse a primeira vez e, com sorte, a última.
Seus lábios ficavam roxos demais no frio.
E eu preferia quando não usava batom.
Quando não usava salto.
Nem sutiã...
Eu te preferia, na verdade, nua. Descabelada. E já preferindo e desejando mais do que o permitido, adormecida ao meu lado.
Eu prefiro você dentre todas as outras.
As que existem e as que possam existir, um dia.
Eu te imagino a caminhar por lugares que admirei sozinho.
(Como se sua presença fosse inerente a minha).
Eu te dei vidas que, sozinha, você nunca teria.
Eu te fiz cantar.
Sem precisar, um dia, sequer ouvir sua voz.