terça-feira, 20 de março de 2012

Ausência.

Eu não te vi todas as vezes que gravei na minha cabeça. Eu te reinventei de diversas maneiras. Vivo nesta possibilidade de te recriar. De te dar a vida que eu quiser. De te dar voz e, então, palavras. De tirá-las de vez em quando.
Seus olhos me ocorrem durante o ir-e-vir de corpos que não se amam. Que quase se aceitam. Que se toleram e, por isso, se entregam.
As pernas dela sempre parecerão tortas comparadas as suas.
Não foi por querer que eu te quis.
Foi um sentimento que me surgiu de repente.
Como se no momento em que te enxerguei, a vida toda tivesse se desfragmentado em coisas sem valor algum.
Como se a vida começasse ali...
Como se fosse a primeira vez e, com sorte, a última.
Seus lábios ficavam roxos demais no frio.
E eu preferia quando não usava batom.
Quando não usava salto.
Nem sutiã...
Eu te preferia, na verdade, nua. Descabelada. E já preferindo e desejando mais do que o permitido, adormecida ao meu lado.
Eu prefiro você dentre todas as outras.
As que existem e as que possam existir, um dia.
Eu te imagino a caminhar por lugares que admirei sozinho.
(Como se sua presença fosse inerente a minha).
Eu te dei vidas que, sozinha, você nunca teria.
Eu te fiz cantar.
Sem precisar, um dia, sequer ouvir sua voz.

4 comentários:

Beatriz Matos disse...

Muito bom!

Danubya Medeiros. disse...

Sempre muito bom vir aqui e encontrar coisas assim, deliciosas de se ler!

Hellen disse...

Texto pequeno simples, maravilhoso e sincero, muito sincero.

Anônimo disse...

Homens..