terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Nunca Fui Poeta.

Foi-se?
Ela se foi...
Então ela se foi?
E então ela se foi...
É isso. E mais nada. Foi-se, simplesmente. Com as roupas do corpo. Sem direito a despachar bagagens. Nem a carregar uma bolsinha entre as mãos.
O que restou...
O que ficou...
O que sobrou...
O que permaneceu!
É isso. O que permaneceu dela foi pouco mais que uma brisa. A memória de seu perfume encravada nas almofadas de algodão. Os fios avermelhados de seu cabelo que, no verão, caía e caía sem se importar. Fios no ralo. E apoiados na cabeceira - onde deixava repousar sua escova. Um fio de saudade, isso ficou. Não, muito mais. Uma corda grossa, dessas com as quais se prendem navios. Ali, meu barco ancorou. Fizemos amor, poesia. Fez de mim um porto. E um porto fui, até o fim.
O problema é que as coisas, raramente, acabam.
Não existe fim.
Tudo se movimenta em desarmonia.
Saudade de te ver chegar.
De te ver sentar à mesa.
Brincando com a comida, sem jamais comer de verdade.
Te escutar reclamar.
Dizendo estar sempre acima do peso.
Ver seus ossos quase saltando pela pele.
Você se maltratando.
Com esse desejo desumano de deixar a própria existência firmada no mundo.
De deixar, no testamento, frases para nunca serem esquecidas.
Alguns nascem mais inquietos que os outros. E são a esses que nada satisfaz.
Saudade de te ver mergulhando no mundo.
Com tudo.
Mas com muito medo de se afogar.
Suas mãos e seus pés: pequenos.
Sua coragem: muito menor.
Tem moça que mais adiante vira monstro.
Tem eternidade que é melhor deixar acabar...