quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Vícios e Vísceras.

Segurava tuas seringas, enquanto tu quebravas todo meu conjunto de copos de cristal. Manchavas o sofá e o tapete. Esquecia-se de agradecer. Mais preocupante era quando esquecia-se, que desacordada, acordava-me o desespero. Apoiava teu corpo molengo em meu colo, saculejava-o. Pertubava o quanto fosse tuas vísceras, bastava-me que abrisse os olhos, ainda que eles não reconhecessem-me, e assustados, fechassem-se de novo. Não era sequer preciso que a noite chegasse, ou que o sol colocasse-se do outro lado do globo. Era só teus olhos tomarem cor de fogo, e teus braços desobedecerem, que punha-se novamente no chão. Apontava para o isqueiro, pedia-me para segurar um instante, pedia-me para que acendesse um cigarro, chacoalhava o líquido, ignorava o precipitado e pulava. Precipícios foram tantos, pudera eu ter sempre pulado e, de mãos dadas, sobrevivido. Quisera eu ter pulsado em seu sangue, como uma heroína travestida de amor.

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