quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Senhor.

Estava sentado na maior poltrona da sala de estar. Os poucos feixes de luz que escapavam pelas cortinas, davam-no um ar desgraçado, uma melancolia manjada, uma sabedoria invisível. A fumaça marcava seu território, e o cheiro forte de café confirmava sua presença. Ao seu lado, estava um livro que acabará de folhear. "Apenas desinteressante", diria caso perguntassem. Apoiado na prateleira, o velho toca-discos ameaçava quebrar o silêncio. "Deixa o homem quieto!", exclamaria a enfermeira rechonchuda e queimada de sol que havia despedido mais cedo. Perturbava-o mais a falta de apetite do que o corpo coberto de pêlos esbranquiçados. Senhor de muitas mulheres, agora era senhor de idade. E sozinho ali, segura firme seu cigarro, como se isso fosse poupar-lhe a vida.

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