quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

2035

Trajada de dor foi procurar frescor reconhecendo a cidade. Fazia tempo que não punha-se a vasculhar cada subterrâneo, cada comercial, cada milímetro de seu espaço terreno de céu. Duvidava de onde havia surgido a mudança, se era de sua miopia incorrigível, ou do rejuvenescer de uma W3 idosa. Não reconhecia os primórdios urbanos, o paleolítico Mercado Central, que estava ali antes mesmo de um centro. O tão polêmico metrô leve, que de forma grotesca, pesava a vista cinzenta. Não sabia mais daquela avenida à beira-mar, a última vez em que passou por lá, fora para pular as sete ondas e abrir seu peito para o ano que estava por vir. Doze anos haviam se passado, e a poça d'água no asfalto refletia seu rosto que nunca mais fora o mesmo. Desejava ter acompanhado todas as mudanças. Diziam-lhe que, antes, ali não havia mar, era um oceano de pequenas casas, todas cinzentas ou mal-tratadas. Queria ter visto, queria ter entendido como o mar foi ali desaguar. Mas compreendia, era coisa daquele céu, que um dia, abriu-se tanto que acabou parando lá.

Nenhum comentário: