domingo, 28 de fevereiro de 2010

Farinha.

Poucas eram as horas do dia quando sentava-me à única mesa na varanda da padaria. Dava ainda para sentir a brisa fresca da madrugada, e os rastros da lua nas pequenas lamparinas acesas. Mal era preciso erguer o braço, e logo vinha, em uma caneca de barro, meu sossego sem açúcar. Vinha acompanhado do calor de um forno à lenha, uma farta bolinha de trigo, que feito pecado derretia em minha boca ansiosa. Aquietava-me ler o jornal, com o cheiro novo de atraso. Acostumei-me com o pouco, com a solitude, e era com eles que saía, toda manhã, para tomar o café.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dir-te-ia que esse meu costume havia se tornado um prazer. O jornal ainda repetia as notícias. Ou talvez eram as notícias que se repetiam. Naquele tempo, a palavra política estava em uso, e escândalo era outra palavra que não fugia das mãos dos jornalistas.

Meu sossego vinha do trigo e do café que, suaves e fracos, me acompanhavam sem resistência.

E ali me quedava, com minha caneca ainda quente, que acariciava calorosamente minhas mãos.Quedei-me escutando as estórias que o silêncio tinha a contar, e aprenciando a delicada solicitude daquela solitude.