terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Primeira.

Tinha, no lugar dos olhos, um par de buracos negros. E a tênue linha de seus lábios era metáfora do que separa o amor do ódio. Primeiro amor, ou primeira lição de reciprocidade. Quando a conheci, parecia mais miúda do que é hoje. Grandeza nunca aplicou-se a ela, mas ainda assim meu amor foi maior que seu corpo. Havia uma pureza quase estúpida nas palavras que trocávamos. Substituída depois por um rancor primitivo. Lembro-me do toque de nossas mãos, aveludadas ainda. Lembro-me de acreditar, de forma deveras juvenil, na eternidade do pouco espaço entre nossos rostos. Vi esse espaço aumentar, e o sentimento tornar-se desprezível. Vimos várias chances de regressos e retornos, mas deixamos que ficasse, da forma como tinha ido embora. Havíamos acenado, vergonhosamente, um primeiro cumprimento. Mas dispensamos um último.

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