terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fora.

"Que morram todos os amores, mas nunca a poesia", disse embriagado de tristeza. Abandonado pela musa, enfraquecido pelos anos, esquecido pelos amigos, estava ali, sentado no balcão do mesmo bar no qual jurou nunca deixar-se levar dessa forma. Não eram as perdas que, latentes, doíam-lhe. Era a falta de tinta na caneta recém adquirida, e o branco cansativo e insistente das folhas de seu caderno. Fora sempre poeta, nunca apaixonado. Precisava sugá-las, não amá-las eternamente e dividir-se em almoços dominicais e decoração de berços. Fora poeta e nunca soube ser nada além. Fora artista plástico, fotógrafo, amante e gourmet, mas respirava a poesia do oxigênio alheio. Mas agora encontrava-se ali, asmático. Sua taça de vinho tinto, marcada pelo batom de uma moça que encarava-o do outro lado do bar, havia tornado-se apenas um contentamento. Tinha perdido as palavras e a si. E agora, o homem poeta que fora, era apenas um simples homem, embriagado, perdido, descascado.

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