quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Parquinho.

Sentei-me no pequenino balanço do velho parquinho enferrujado. À minha volta estavam três moleques, todos avermelhados de sol, sujos de areia. Abri meu caderno, e fiquei a rascunhar algumas de suas expressões. A mãe de um deles fez cara feia quando acendi um cigarro, tentou afastar a fumaça do filho, como se eu estivesse dando-lhe um sopro de câncer. Não dividiria minha enfermidade assim, ou partilharia minha queda de cabelos, ou a oscilação de humor. A fraqueza, tão minha, era indivisível. A mesma mãe, esticou o pescoço tentando enxergar minhas folhas, como se fosse assim tão suspeito sentar-se para um desenho. Pressionava meus pés contra a areia para fazer com que o balanço balançasse-me, mas o máximo que consegui foi escutar o barulho agudo de suas correntes mostrando-se parcialmente imóveis. Sorri para um dos moleques, depois de ter atirado uma miniatura em minhas costas. Não queria amizade, apenas uma resposta para rabiscar. Senti no olhar das mães, a vontade instintiva de chamar a polícia, "Veja bem, senhor, há um louco no parquinho, talvez seja demente, talvez um estuprador...". Pedofilia era sim um crime, talvez acusassem-me disso, talvez eu parecesse mesmo suspeito. Mas eu ali, sentado, caderno e lápis em mãos, ousado a ponto de não levar uma borracha. Poderiam talvez imaginar que eu estivesse ali a arquitetar um plano, fantasiar alguma situação. Pediria desculpas pelo engano. Não nego, sou louco. Mas antes, antes e depois, poeta.

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