quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Verbalizando Devaneios.

Você deve tê-la reparado na fila, enquanto aguardava por algumas migalhas de felicidade. Felicidade barata, quase gratuita. Prestou atenção em seus cabelos amendoados, nos nós de suas pontas. Fitou os olhos em sua saia cor de Carménere, que escancarava a travessia para um outro plano. Quis conseguir, da distância em que encontrava-se, escutá-la sibilar alguma história. Aproximou seus ouvidos o suficiente para parecer atordoado. Ela poderia ter oferecido-se para ajudar-lhe em alguma coisa, mas manteve-se da mesma forma, como se nada visse. A fumaça que brotava de sua boca era esnobe, fazia desenhos abstratos que desmereciam a presença de qualquer um. Apoiava uma garrafa de vidro entre as pernas amareladas, e desdobrava-se para alcançar algo na bolsa. Você logo descobriu que era um batom, e invejou seus movimentos suaves. Você nunca reparou tão milimetricamente em algo. Então é, talvez, eu devo tê-la reparado.

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