segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Todo Carnaval Tem Seu Fim.

Todo dia acordava e logo ia alcançar, no fundo do armário, seu melhor sorriso. Vestia-o com uma delicadeza cinematográfica. Não ficava contente até que encaixasse-o perfeitamente entre as maçãs do rosto. E então aparecia na sala, leve e saltitante, e saía a cumprimentar os retratos emoldurados na prateleira. Maria tinha seus poucos anos e seu muito corpo. Todo dia exibia-o pelas avenidas. Quando o mundo dava sorte, Maria encaixava o sorriso de primeira, e saía a cantarolar. Fazia festa, fazia sol. O caminhar de Maria era sinal de bons agouros. E Maria era carnaval. Desnecessários eram os confetes e as serpentinas, quando ela aparecia, estouravam fogos de artifício no céu de cada um. Maria, diziam por aí, tinha sido o mais próximo da perfeição já visto. Olhando por detrás, assim, bem de longe, pode ser que dissessem que Maria não valia um vintém sequer. Parecia miúda, compacta. Mas a proximidade dava ênfase a sua silhueta escandalosa. Maria era mesmo carnaval, feriado extendido na beira da praia. Maria era a soma das ondas de todos os mares, inclusive - e principalmente - os de morros, e das ondas que um lago deveria ter. Maria era motivo para embriagar-se, festejar, fantasiar-se. Maria era a mais pura forma de alegria. E a mais imunda forma de alegrar-se era assistí-la movimentar-se sem perder um milímetro de seu corpo. Ah! Maria era mesmo carnaval. Quando era perdida de vista, ficavam a arrastar-se implorando por um copo d'água.

Um comentário:

Raíra Cavalcanti disse...

Nossa, eu gostei MUITO mesmo...