segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Primeira Fileira.

As olheiras escondiam um pouco de seus olhos cor-de-nada. Eram reflexo de noites mal-dormidas e de sonhos nublados. Falava sobre solidão com uma velha amiga. Falava-lhe de como tudo na vida era efêmero, menos sentir-se só. Rememorava outras amizades, algumas mais antigas ainda, mas que não tinham durado os invernos de sua alma. Enrolando-se em palavras, desenrolava sentimentos presos na garganta. Sentimentos e sensações. Tudo estava em sentir. Sentir o quê? A brisa fresca de mais uma partida? Uma ausência latejando em seu peito? Era descrente de tudo. Deixaram-na assim. Desconfiando do destino e de tudo que parecesse simples e leve. Tinha o peso de uma pluma, mas não queria deixar-se levar pelo vento. Quando dormia aconchegada à felicidade, deixava um de seus olhos abertos para ver até onde ela iria. Era calada ao ponto de falar demais. Fechada ao ponto de ser transparente. Transpareciam, em seus olhos tímidos, todas as suas necessidades. Precisava de mais um copo, um trago, um beijo. Precisava de um Deus e algo no qual acreditar. Precisava que parassem de acenar "adeus". Queria as palavras. As palavras que amava. As palavras de amor. Não importava em sentir-se só, contanto que fosse acompanhada. Precisava sentir o calor, sem antecipar sua partida.

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