segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Tua carta.

Quando reli tuas palavras, tão mal fixadas num velho papel cor-de-nada, uma dor veio-me ao peito. O passado abriu o portão, bateu na porta, e o som ecoou pelas paredes. Teu riso gargalhou em meus ouvidos, e a cor de teus cabelos atravessou as cortinas. Em tuas palavras, eu era sempre tão grande, como um herói de guerra. Mas relendo-as, diminuí de tamanho. A distância com a qual via-me - através de todos os carros, prédios e concretos -, possibilitava que segurrasse-me na ponta de teus dedos. Como será que escreveria-me agora, agora que tuas palavras desgrudavam-se da tinta que evaporava da folha? Como será que contaria-me tuas notícias, que sem dúvidas, já chegariam envelhecidas? Como será que falaria-me de meus olhos, se mal podes ver minha silhueta com nitidez? Tu fostes, por tempo pouco, meu espelho adulterado, cujo reflexo era de meu agrado. Quando perdi-te de vista, e perdi também no tempo, perdi-me um pouco. Como será que falaria-me das minhas tormentas, se os obstáculos entre nós impedem-nas de chegarem a ti? Como falo de saudade se ainda és tão presente? Passo nova tinta em tuas palavras, e escrevo outras mais: "Querido amigo, esquecemos de mim".

2 comentários:

Anônimo disse...

Não esquecemos,só foi bem guardado.

Julianna Motter disse...

Hm...