segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Poeta.

O café tinha gosto de liberdade, e cada trago era o desprender de um nó. O tempo passava ligeiro, quase despercebido. Não havia um bom motivo para fazê-lo acordar, portanto não punha-se a dormir. Sentava-se na velha cadeira de balanço e pescava alguns sonhos de cabeça caída. Os sonhos eram pesadelos e cada pesadelo um fruto maduro da realidade. A efemeridade dos balanços mostravam o quão fraco acabará tornando-se. As pernas não obedeciam a cabeça, que teimava na hora de mandar. A idade ia aumentando de acordo com os segundos, e o peso de seu corpo - tão volumoso e distraído -, tornava-se mais um empecilho. De todos os caminhos que foram-lhe oferecidos, nenhum tivera sido tão certo quanto o que levaria-o à morte. Os que levariam-no. Mortes, até então, haviam sido várias. Morreu o moleque, o rapaz, o homem, o otimista, o romântico. Por diversas vezes, viu-se ser coberto de terra e ser comido por vermes. Mas nenhuma morte era tão incontestavelmente difícil quanto a do poeta, que no balanço, permanecia forte na fraqueza do luar e das pernas. O corpo queria enterrar-se, e o poeta queria ficar. Poeta sem corpo era poema do vento. Mas de janelas fechadas, o vento não poderia entrar, nem tampouco sair.

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