terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Metrô.

As luzes das lâmpadas pareciam movimentar-se mais que o trem. Submerso estava eu. No meu silêncio, na minha quietude revogada. Meu destino era qualquer um, e eu ia e vinha como se não saísse do lugar. De fato, não era eu quem saía. Nem muito menos era o trem. Nem muito menos eram as luzes. As pessoas que saíam, dos lugares que sequer eram delas. Saíam, como se soubessem seus destinos. Como luzes com a certeza de serem refratadas. Imóvel era eu, não os trilhos. Eu precisava daqueles ires e vires para virar-me para mim. Independente da velocidade do trem, dos passos, veloz era o tempo. E fazia tempo que não dava-me o tempo. Ele havia atropelado-me. Via em meu rosto as cicatrizes, eram rugas, eram linhas, eram desorganizadas. O tempo tratou-me com repúdio, mas fui eu quem tornou-o inexistente. Sentado e sozinho, sozinho e acompanhado. Sempre estive sentado junto ao tempo. E o tempo sempre esteve comigo e desacompanhado. Na falta de Deus, fiz uma prece ao tempo. Fiz com pressa o meu tempo. Tempo todo meu. Nas minhas idas e vindas, ele ia e ficava. Ia e continuava. O tempo prolongava-se nas linhas do meu rosto, e descia até meus pés. O tempo deixou-me torto, assimétrico, enfraquecido. O tempo deixou-me qualquer coisa, mas nunca deixou-me só. O tempo chegou e vai comigo. Nas minhas idas e vindas, até que numa dessas idas, eu deixe-o só, para contar aos outros, o tempo que foi meu e ficará para eles.

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