sábado, 23 de janeiro de 2010

Trompe L'oeil.

Teus olhos, apavorados, fuzilavam-me o coração. A porta, entreaberta, dava-nos a esperança de fechar-se com o vento, mas permanecia da mesma forma que nós, parados no meio do caminho. Tuas mãos, angustiadas, agitadas, suavam pelas minhas. E ficávamos a espiar a porta mover-se, embora imóvel. O tempo que levou-nos a sentar-se naquela sala, era o mesmo que havia levado-nos a passar por ela, três mil noites antes daquela, ignorando a porta, as poltronas, as quatro paredes, que naquele momento sufocavam-nos. Levantaria-me, fecharia a porta, querendo estar do lado de fora. Teus olhos, apavorados, fuzilavam-me o querer.

Um comentário:

Raíra Cavalcanti disse...

Me lembrou de:
"Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero e não queres como sou
Não te quero e não queres como és...

Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor..."
C. Veloso.