sábado, 15 de janeiro de 2011

(Os parênteses).

(A confissão). Talvez eu escreva para você. Talvez você desperte alguma coisa lírica em mim. Talvez eu te torne objeto dos meus delírios. Talvez não. Talvez nada mude. Talvez continuemos os mesmos. Talvez eu continue vivendo de amores antigos. (Mas tudo pode mudar). E um dia eu posso acordar completamente seu. E você dormir completamente minha. E nós dois sendo um do outro. E nos sentindo completos. (Mas nada muda e permanece). E um dia acordaremos sendo de ninguém. E dormiremos sendo de outro alguém. E nós dois esquecendo um do outro. E nos sentido despertos. (O despertar). De rosto inchado, maquiagem borrada, bafo de uísque. De barba mal-feita, olhos cheios de remela, cheiro de cigarro. Nos despertaremos sim. (O motivo) Porque um dia você será de alguém. E no outro escapará de mim. Porque vivemos o que eu chamaria de disfarce. E eu disfarço minha culpa em você. Nós que já amamos tantos outros. Nós que não sabemos ser sós. E queremos ser nós para não sermos mais sozinhos. Mas solidão é questão de alma. E alma nenhuma se afaga. Nem se põe para dormir. (O sono). Os sonhos são todos tão belos, mesmo quando imcompreendidos. Sonhei contigo. Por toda a minha vida. Você é toda bela, fugindo da minha compreensão. (A mentira). Eu sempre escrevi para você. Porque sempre te esperei. E da forma mais corriqueira, e inesperada, você apareceu. E de repente era objeto direto dos meus delírios. (A alucinação). Suas pernas me fazem acreditar que você não existe. E seus lábios abrindo caminho para mim me fazem acreditar que nada mais existe. Nunca vi nada igual. Mas já havia te visto antes. Nunca te vi dessa forma. Nunca te vi mesmo te vendo. Nunca te enxerguei, mas agora te tenho. (A aceitação). Divido contigo meus cigarros, mas nunca meus desejos. Porque não somos os mesmos - não somos iguais e não somos os de antes. Se antes fomos, agora isso tudo eu perdi. Porque não te reconheço nas fotos antigas. Nunca fomos fotografados juntos. (O flagra). Você está com outro. Com outro e comigo. Estão juntos na cama. Diferente de nós, que estamos juntos no coração. Isso me machuca. Qualquer mínimo toque em ti me fere. Eu poderia te tocar de novo. (O passado) Seremos para sempre assim. (O presente). Fomos para nunca mais.

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