quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Inexistir.

Você não pôde me odiar o suficiente para me amar. Você não pôde me amar. Porque não houve tempo. E se houvesse, teria arrumado qualquer outra desculpa. Porque estava com pressa e amor leva tempo, dá trabalho. Nessa parte eu discordo, o amor tem seu tempo sozinho. Podemos esperar com as mãos para o alto, dançando pelos campos, bebendo um vinho, dormindo abraçados. O amor percorre suas próprias linhas através de nossas curvas e nossas mãos. Mas você tinha pressa e não podia ficar. Nem por mais um instante. E nem deixar para depois. Você sabia que iria me amar. E isso te dava medo. Porque não foi amada antes, quando um dia quis. E você sabia que eu te amaria. Mas não sabia até quando. E isso te dava mais medo. Porque não poderia acabar antes que você saciasse todos os seus sonhos e desejos comigo. Antes que você já estivesse curada. Mas amor não é doença. Aliás, às vezes é, até, cura. Porque, quando amor dupla-face, que cola - mesmo que um dia, talvez, desgrude -, nos salva do maior mal do mundo: a solidão. Na cidade grande, e suas avenidas com nome de mulher, e suas estações de metrô, e sua garoa épica, o que mais mata é a solidão. Infecciosa, dividida nos goles de copos sujos nos lugares mais sujos com os seres mais sujos - e estranhos. Um dia desses dividi uma cerveja com uma prostituta. Uma das pessoas mais limpas que já conheci. Embriagada de sensatez, à procura do amor. Em busca. Desprendida das morais - até mesmo o amor foge das regras de bom convívio e costume. Naquele dia, eu ganhei o que havia perdido há anos: a esperança. Pois por detrás da íris dela, estava um mundo que só ela via. Só ela via porque só ela se permetia. O acreditar. Como é difícil acreditar, não é fácil se permitir voltar anos atrás e regredir aos sonhos infantis e inocentes. É preciso acreditar na inocência, para que ela retorne. Sem ela estamos sempre aflitos, estamos sempre apressados. Você amadureceu tanto, e endureceu tanto. E se proibiu à entrega. Ainda que eu não apresentasse perigo, até por ser tão mais sozinho, e por carecer tão mais de tanto mais amor e carinho. Eu te amaria, e você sabia. E eu sabia. Portanto, te amei. E ainda amo, achando que, assim, talvez você confie. Confie, pois não é todo dia que alguém insiste em cavar um buraco com as próprias mãos. Um buraco, pois estão dizendo que o mundo acabará em questão de centenas de dias. E eu quero te proteger disso. E se eu não puder fazer isso, quero, pelo menos, que você não assista. Porque é tão triste assistir o fim. Você não confia em ninguém. Mas eu sou alguém, alguém que te quer bem, e que te quer muito. Se o mundo acabará, suponho que tudo também se esvai. Mas o processo é tão longo e lento, que nós dois poderíamos ter valido à pena. Se não fosse esse seu medo. Se não fosse essa sua desconfiança. Se não fosse o fato de mal nos conhecermos - mas isso, perante a tudo, é tão pouco, e pequeno. Eu queria saber o seu nome, ter estado mais próximo do seu rosto, ter te conhecido antes de tudo que te aconteceu. Deus, estou sofrendo de amores que não existem.

2 comentários:

Anônimo disse...

amor não é doença. eu ia comentar isso num dos posts recentes onde uma de suas admiradoras comentou algo parecido. a solidão nao é antônimo de amor.
18 anos? senhoras e senhores, abram alas.

Julianna Motter disse...

A solidão não é antônimo de amor. Mas é fácil entendê-la como tal (em alguma situacões)...