sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano Novo.

Por mais distante, por mais errante, por mais silencioso, por mais doloroso, por mais equivocado, por mais desiludido, por mais delicado, por mais tudo isso que fomos. Por tudo mais, e mais de nós. Que venham as novas estações. E os novos amores, e tempestades. Que venha a chuva. Que cubra o Congresso, e nos vista de branco, de cinza, de lama. Que abra o sol. E abra nossos peitos. Que sejam novas as dores. Que cicatrizem. Que firam. Que doam. Que cresçamos. Meu amor, que tudo isso passe. E passe rápido. Como passam os anos. Como passarão. Os passarinhos. Tudo canta. O céu se explode em cores. Ainda passo na frente do seu portão. Só para ver se te encontro. Você que nunca quis ser encontrado. Ainda procuro seu abraço na madrugada fria, nos rostos pálidos. A lembrança fica feito tatuagem na pele, e arde. Mas cicatriza. Por mais amor, sejamos sós. Sejamos sós e sejamos sós, por mais distantes. Que a distância cura. Sejamos o novo agora. E deixemos o passado para trás, por hora. Me embebedarei de esperança. Terno novo e barba feita. Passado desfeito em luz. Céu estrelado, mas amanhã chove. Há de chover. Que caia tudo, e se despedace. E se transforme. Já estive aqui. Já sentei neste mesmo chão. E fiz planos. Meia-noite e a gente pula as ondas. Não tenho ondas para pular. Não tenho mar. Nem mar! Ando tão leve, tão manso, tão juvenil e abobalhado. Meu amor, eu não quis, mas estou apaixonado! Pela vida, que é tão intocável. Pelas mulheres, que são tão atraentes. Por tudo que me cerca e que me prende. Estou tentando ver tudo de forma clara. E fumo um cigarro, folheio um ou dos livros, rodopio na cama. Eu poderia voar, você sabe. E ir para longe, tão longe que, você nunca mais saberia do meu paradeiro. E nem eu do seu. E seríamos tão breves em nossos desejos que toda a paz já bastaria para saber que você ficaria bem. Você vai ficar, não se castigue tanto. Escuto as cento e oito badaladas vindas do templo budista. Eu me daria bem vivendo essa vida de artista: um porre atrás do outro, um amor para aparar meu coito, tantas paixões alucinógenas. E carreiras e mais carreiras de pó de pombras brancas da paz. Tanta paz! Tanta paz logo virá! Virará o ano, uma nova década. A década perdida dos amores finitos. Estabeleci essa meta de sentimentos medidos. Não mais me entrego, meu amor, nunca mais. Já precisei curar tanto. Agora é só paz, e pele novinha em folha. E órgãos sacrificados, mas enfim resgastados, longe da gangrena e de qualquer podridão. Vida serena, começaremos tudo agora. Já é hora, já é hora! Meu amor, agora me despeço, vou correr em direção a luz. Você viu o céu nesta noite? Assim eu me perco, assim eu quase me perco. E se perder é tão bom, quando não se tem para quem voltar.

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