segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Encolha.

Dá para fugir. Ainda dá. A porta está destrancada, e ainda não estamos sentados tempo suficiente para nos sentirmos indispostos. Eu olho em seus olhos e, de repente, você me escapa. E eu diria que isso é medo, se não fosse falta de vontade. E eu diria que aceito, se não estivesse disposto a te arrastar comigo. Junto comigo pelos tempos que estão a vir. Mas você tem outro, com o qual divide a vida, há tanto, tanto tempo. E eu tenho outras, com as quais divido os corpos, por pouco, pouco tempo. E eu te vejo falar. E eu te vejo cantar. E eu te vejo dedilhar as cordas de um violão antigo. Eu acendo a luz, mesmo entrando sol. E acendo um cigarro, mesmo não estando só. E seu vento voa contra seus cabelos. E seus cabelos voam contra o vento. E você rege as rotas do universo. Com sua voz de algodão doce. E eu quero me esconder no seu sorriso. Mas eu não posso. Nós não podemos. Não nessa vida que estamos vivendo. E você me beija com vontade. E eu quero te falar da minha vontade de largarmos tudo. Para irmos para algum outro lugar. No qual não hajam outros, nem tempo. Porque em duas horas você tem que voltar para sua cama, e beijar seus outros lábios, e até dizer que os ama. E eu vou ficar sozinho. Porque Deus me quis assim. Porque se não for você, não será ninguém. Ou até será. Mas agora é você. E mais uma vez, a gente não pode. Porque nosso amor é feito de pequenos momentos. Que não vingam, nem crescem. Amor que só mostrou as caras agora, quando um beijo foi roubado. E nós não sabemos quem foi a vítima e quem foi o ladrão. Porque aconteceu de ser mútua a vontade - como deveria ser a minha de largar tudo. Nosso amor mostrou as caras em um mundo inexistente. Um mundo que nós criamos. Para um amor que seguramos. Eu te esperei por tanto tempo, mas agora você vive algo que não me pertence. Pertencendo a alguém. Que eu mal conheço, mas que juro ser tão melhor. E juro poder te dar muito mais, porque eu sonho esses meus sonhos de poeta. E vivo essa minha vida de artista. E tento escapar pelos buracos. Mas não estão neles a minha verdadeira saída. Eu só quero ser segurado de noite. Eu escrevo minhas palavras no ar, e elas ficam. Não me deixe ir embora. Porque eu não quero, e você também não. Eu não posso viver sofrendo por um amor que nunca foi meu. E espero que um dia você seja. Porque eu te coroei rainha do meu castelo de palavras, e a gente flutua nesse pequeno espaço de destino que nos colocou para longe. Levamos tanto tempo para nos encontrar, e Deus sabe o tanto que te procurei. Nos fundos dos copos, e no horizonte. Eu não posso olhar para você porque isso aumenta o meu querer tanto. Eu quero tanto te querer bem. Eu quero tanto que você se queira comigo.
- Escolha uma música, e eu toco.
- Escolha outro corpo, e eu morro.

2 comentários:

Diego disse...

"Eu só quero ser segurado de noite. Eu escrevo minhas palavras no ar, e elas ficam. Não me deixe ir embora. Porque eu não quero, e você também não. Eu não posso viver sofrendo por um amor que nunca foi meu. E espero que um dia você seja. Porque eu te coroei rainha do meu castelo de palavras, e a gente flutua nesse pequeno espaço de destino que nos colocou para longe. Levamos tanto tempo para nos encontrar, e Deus sabe o tanto que te procurei. Nos fundos dos copos, e no horizonte. Eu não posso olhar para você porque isso aumenta o meu querer tanto. Eu quero tanto te querer bem. Eu quero tanto que você se queira comigo.
- Escolha uma música, e eu toco.
- Escolha outro corpo, e eu morro."



Parece a Inspiração falando com o Poeta.
Lindo.

Anônimo minado disse...

Oi.
Não andei comentando e lendo o que você tem escrito por aqui. Digamos, por motivos de natureza maior. Você viu como está a região serrana do Rio, né? Pois é. Triste. Mas voltei aqui, e tenho uma pergunta. Como foram a exposição das palavras e as declamações?