segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
(Des)esperando.
Dezoito primaveras de idade. Com seus jardins floridos e sol macio. Eu vivendo meus trinta invernos. Poucos flocos de neve a caírem do céu, um chão branco de solidão, não de paz. Em um quarto escuro, com somente um abajour aceso, e a fumaça saindo de uma pequena brasa circular. Eu não consigo parar de pensar nela. E eu tento. Porque tenho coisas para fazer. Como reler livros ou me enganar com bons goles. Viver um engano, como se fosse uma escolha. Só uma redenção ou belo porra para me salvar de mim mesmo. Porque ela é só uma projeção da minha cabeça. Da minha cabeça direto no coração. Que dói, lentamente. Como se eu tivesse algo há tanto tempo e, subitamente, tivesse perdido. Eu nunca a tive. Como é possível sentir tê-la perdido? Nunca tive seu toque por mais de dois dias - somando todos os minutos. Nunca nem provei todos os gostos de sua pele. Ou tive aqueles olhos amendoados olhando só para mim. Ela sempre olhava para os lados. Não a culpo, o mundo é tão interessante. De repente, podia mesmo aparecer coisa melhor que eu. Claro que apareceria. Quem seria eu para impedir? Quem se não uma coleção de cacos? Ninguém quer para si algo que fere tanto. É arriscado. Pois que ela soubesse que um dia fui um vaso de flores. Muitas flores procuraram abrigo em mim. Algumas das mais belas e vistosas. Um dia, uma delas pesou demais e eu quebrei. Mas ainda existem os remendos. Existem, claro que sim. Eu não consigo me desvencilhar dela. E ela aparece, e eu sumo. Estou vivendo nisso de procurar a cura, e só encontrar mais veneno. De todas, talvez ela fosse a mais bela. Talvez não, talvez fosse alucinação. Ou meus olhos a enxergaram mais alto. Tão alto, ela parece uma estrela no céu. E tem nome de estrela - e estrela lá tem nome? Pose de estrela também, inalcançável com seus anos-luz de distância. Algo nela me puxa, me suga, me consome. Porque parece, agora, tão inacabado. Um encontro de duas línguas distintas, para formar palavras tão simples. Por debaixo de um céu, de um nada. E também não havia chão. Senão não teríamos caído. Eu caí. Porque ela alçou vôo e voltou para onde veio. Eu caí no velho truque de vamos nos apaixonar, mas um acaba se apaixonando sozinho. Não chamo de paixão. Talvez mais encantamento. Ou fissura, ou nada disso. Foi tão breve, mas queimou. E borbulhou. Não acreditava nisso. Ainda não acredito - o que torna tudo tão mais difícil. A gente se prende a umas coisas tão bobas - e um toque de mãos de repente pode parecer amor eterno. Nunca foi preciso amar ninguém. Porque é tão difícil ser realmente devoto de algo. E se prender. O sonho mais velho do qual me lembro é o de ter asas. Nunca tive. Mas vivo com essa sensação de estar solto no mundo. Não pertencer, não pertencer é o segredo. E voar, e flutuar, e fluir. Deixar fluir é uma saída. Não esperar nada, não esperar por ninguém. Há um tempo atrás, ouvi uma história de uma mulher que morreu esperando no saguão de um aeroporto. Sei lá se esperava por alguém, ou por um vôo. Mas esperava, eu sei que esperava porque morreu sozinha. Quem morre sozinho viveu na espera. Que nem ela. Ninguém quer morrer assim, mas ninguém pensa nessas coisas. É preciso ter cuidado. É tão perigoso se entregar a si mesmo. Porque nós somos feitos de tantos labirintos. E eles dependem tanto de outros. Bom é fugir. De tudo, absolutamente tudo. Para não acabar acabado. Para não acabar, não deixar nem chegar no meio. Só o começo já é satisfatório. Mas com ela foi diferente, e eu esperei - como ainda espero, mas não quero confessar assim tão rápido. Algo nela. Algo nela ou em mim, porque eu causei essa perda. Essa perda de sentido e interesse. E a elevei. Ela está acima de qualquer coisa que eu possa controlar. Entreguei tudo, pus as cartas na mesa. Com as cartas na mesa, concreto, com tudo em jogo, eu estou sentado com o tabuleiro sozinho. Ela é justamente a pessoa pela qual eu tanto não-esperei. E por isso somos aquilo desesperado. Desesperançoso. Porque eu não posso tê-la. Nem sabê-la. Porque mal a conheço. Só me lembro de seus lábios fazendo mais belos os meus. E de querê-la bem, e querê-la perto. Eu fantasio algumas coisas absurdas, mas isso não é esperar. Eu sei que vou morrer sozinho. Mas, às vezes, espero encontrar alguém...
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20 comentários:
Tá, antes eu gostava dos textos. Passei a gostar de cada palavra. Depois, achava uma ou outra coisa com o que me identificar. Agora, quase me vejo aí. Qual é o meu e o seu problema? Caramba.
Que bonito! Anônimo Minado, você é meu favorito! Tá, qual é o problema? Bem, eu não sei, e é difícil dizer assim.
E como se não bastasse, ela me diz que sou o seu favorito. Tudo bem, tudo bem. Eu me recomponho.
Não disse nada demais. Disse?
Disse. Porque, sabe, em estado de espera ou desespero, ser reconhecido como o preferido de algo é muita coisa, mesmo que eu seja apenas um mero comentarista e admirador. E você, bom, você é tudo isto aí, todas estas palavras.
Eu, espero. Eu, desespero.
Que bom que foi muita coisa...
Caramba!
O quê?
Não sei. Faltam-me palavras, eu acho. Elas também faltam a você, de vez em quando? Ou sempre saem como nos textos?
Eu nunca tenho palavras, para ser bem sincera...
Ah, podes crer que uma vez ou outra, pelo menos, você tem, sim. E se tem!
Tutto bene, se você diz...
Pra finalizar, se me permite: não pensa seriamente mesmo em escrever um livro, não? Mesmo que não seja um romance, mas um livro com vários textos, ou por aí.
Ok.
Bom, deveria pensar, pelo menos.
Até o próximo.
As frases tão mais curtas. Tem mais ponto final. Amor. Amor. Amor.
Isso é ruim?
Não...isso é muito bom até. Na verdade, diria que é ótimo, essa coisa de amor, de se sentir inundado por outra pessoa e tudo mais. É ótimo... quase perfeito. Ou perfeito?
Diz aí, você escreve o que vem de dentro, sendo verdadeiro ou não, ou você constrói histórias e eu líricos?
Porque, de verdade... Você acaba de descrever tantos sentimentos meus aí nesse texto. Tantos.
Parabéns.
Bravo!
Melhor.
Olha, muito obrigada, de coração.
Eu escrevo o que vem de dentro, e reconstruo na forma de outras personagens.
Obrigada, obrigada.
Sua escrita é parecidíssima com a do Caio Fernando.
Deve ser muito bom mesmo escrever e ter esse mesmo papel dos grandes escritores(esses que tiveram fama, porque você tem sucesso, cara, e é uma grande escritora)de fazer as pessoas se identificarem, de retratar um mundo no papel.
Já te coloquei na minha biblioteca!
Beijo.
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