quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Meu Bem Querer.

Meu bem, te achei! te achei! te achei! Exclamando, repetitiva. Mal sabia que, por entre todas as partes do mundo que não faziam parte do meu, procurei. Por entre todas as estantes de todas as livrarias - e bibliotecas. Cavando todos os buracos dos jardins e escavando descobertas milenares, andando por aí à esmo, procurei. À espera, estando à espera. Fazendo da vida uma enorme sala em que eu aguardaria, ansiosa, com uma música instrumental ao fundo e um aquário cheio de lodo muito mal projetado e iluminado. Sala na qual as luzes piscam, possibilitando uma visão um pouco turva e uma provável enxaqueca daquelas. Te achei e era todo meu, completamente meu. E se eu não tivesse te encontrado, provavelmente em tempos depois estaria completamente sem rumo. Porque, sem mim, a vida nada mais era do que uma série de episódios tragicômicos, seguindo a simplória sequência do de-mal-à-pior. Você conseguia tirar uma risada daquilo tudo, é claro. Porque quando a vida é uma desgraça, e apenas uma desgraça mesmo, é claro que encontramos uma graça que, no fundo, bem no fundo mesmo, só existe para não nos congelar o rosto naquela feição de puta-que-pariu-fodeu-de-novo. Afinal, é impossível para qualquer um manter, para sempre, a boca entreaberta e os olhos contraídos, e estar, para sempre, preparado para expelir...expelir, que palavra engraçada. Expurgar, expurgar também. Enfim, não existem formas de estar sempre produzindo lágrimas, nem de estar sempre procurando soluções. Você não precisou procurar, esta parte ficou comigo. Você só foi levando na ponta dos pés, cuidadoso sobre os cacos de vidro. À despeito do que acham, é realmente no fim do poço que você encontra sua saída. Você, sendo todo meu, se nunca soubesse disso, provavelmente não aguentaria mais nem dez anos e desistiria da vida na primeira oportunidade, pulando de cabeça da ponte, ou se jogando nos trilhos de um trem de metrô que estivesse a anunciar a aparição em poucos instantes. Meu Deus! meu bem, que bom que te achei. Porque se eu nunca tivesse te achado, seu corpo nunca mais seria resgatado - por sorte, ou ironia, ainda te encontrei com vida. Imagine só, não te velariam, chorariam, enterrariam. Que bom que eu cheguei à tempo. Meu bem, não haveria mais ninguém que aparasse suas pontas, que coçasse suas costas, que te amasse infinitamente, ou que acendesse seu cigarro quando estivesse sem fogo, como eu. Neste mundo, nesta vida, não, não haveria. E não se pergunte o porquê. Porque não saberei te dar motivos. E não peça para mudar agora, porque temos um trato. Um trato com sei lá quem, talvez com o diabo, porque, às vezes, você consegue ser, para mim, insuportável. E tudo bem esse seu jeito imundo de levar a vida pelas mãos junto com uma lata de cerveja e um cigarro sem filtro. E tudo bem se você quiser levar também, comigo e contigo, umas outras que apanhe pelo caminho. Porque não importam os belos cortes das roupas delas, ou os sorrisos poupados do amarelar da nicotina, esmaltados por uma branquidão libidinosa - junto às suas pernas, especialmente coxas. Nenhuma delas teria com você, nem metade do que eu tenho. Elas, ao contrário de mim, não conseguiriam te manter vivo. Porque é preciso muito mais do que orgasmos múltiplos e charme de atriz francesa decadente. É preciso muito mais do que te dar branco e pós mágicos. O que você precisava era de paz. E aqui estou eu. Turbulenta, ainda que serena. Porque sou eu quem te acolhe nos braços a cada vez que você estoura e tenta dar pelos canos - e tudo estoura, afinal, você não sabe lidar com suas veias e artérias. Você precisa de muito cuidado, meu bem. De alguém que abdique da própria vida apenas, e tão somente, para se dedicar à sua. Alguém que te acalme em suas crises de insuficiência - renal e psicológica e, até, às vezes, artística. E que te inspire, e cumpra com os deveres de musa. Sendo sempre intacta e sendo, às vezes, inalcançável - para os outros, estando sempre ao seu alcance quando for de seu interesse. É preciso babar por você, mesmo que você cuspa no prato em que comeu e, muitas vezes, repetiu. Meu bem, te achei! te achei! te achei! e, exclamando tão entusiasmaticamente assim, posso pensar que eu mesma estava sem rumo. E penso um pensamento deveras correto. Porque estávamos, afinal, no mesmo buraco - aquele em que te encontrei. E tudo bem esse meu jeito de levar a vida à procura da sua, porque amor é isso mesmo, adoração. E eu te adoro, e te amo, desse meu jeito infalível e infindável. Porque, em algum momento, que nunca descobriremos qual, me deram essa missão - quase impossível - de te amar. Incluindo, principalmente, todos os seus defeitos. Que, por acaso, são incontáveis. E que posso, inclusive, dizer que são basicamente tudo aquilo que te compõe. Você é o ápice da desgraça, é a própria em êxtase numa trama inconfundível. Porque, duvido, que existam outros por aí como você. E se existem, eles não possuem nem um terço do potencial que você tem. Meu bem! como você consegue acabar com tudo. Então continuemos assim, meio encontrados, meio sem rumo.

4 comentários:

Anônimo minado disse...

Meio desencontrados, meio sem rumo, meio minados, meio sem fumo, meio errantes, meio inconstantes. E totalmente à procura. Acho que com esse texto, agora, você me fez entender por que venho aqui. Estou tentando achar algo, tentando me achar. E suas palavras parecem um quebra-cabeça, que monta uma história sua e complementa o que eu penso sobre a minha. Deus, estou empolgado! Quero mais!

Julianna Motter disse...

Que mais? Já?

Anônimo minado disse...

Não. Esperar para pensar faz parte. Não sou nenhum dono de uma grande corporação exigindo o máximo de meu recém descoberto talento. Você também pode parar para pensar.

Diego Nathan disse...

Os espelhos mais comuns são formados por uma camada de prata, alumínio ou amálgama de estanho, que é depositada quimicamente sobre a face posterior de uma lâmina de vidro, e por trás coberta com uma substância protectora. Por sua vez, os espelhos de precisão são obtidos depositando, por evaporação sob vácuo, a camada metálica sobre a face anterior do vidro. Estes espelhos não podem ser protegidos o que implica que se realizem metalizações frequentes.

Existem diversos tipos de espelhos. Os mais utilizados são: os espelhos planos e os espelhos curvos. Um espelho plano é uma superfície plana que produz imagens virtuais e simétricas dos objectos. Assim, a imagem dada por um espelho plano é do mesmo tamanho que o objecto, é virtual, uma vez que não se pode projectar num alvo, é direita e é simétrica, ou seja, invertida lateralmente (enantiomorfa).