domingo, 20 de setembro de 2009

A Partilha.

O perturbador barulho de sirenes era abafado pela chuva que, somada ao calor, confundia-nos quanto ao suor de nossos corpos. Corpos que, incansáveis, atropelavam um ao outro, lutando pelo mesmo espaço, físico e além. Não lutávamos por desejo de ocuparmos juntos o mesmo lugar, mas por não deixarmos que o outro ocupasse sozinho. Competíamos pelo direito de estar. Esquecíamos de ser e do que era. Famintos, devorávamos todo pedaço de nós que víamos pela frente. Era canibalismo unido a uma matança de saudade. Nossas digitais podiam ser encontradas por todos os cantos. E, especialmente, juntas na mesma arma. Um par de vítimas, assassinas e assassinadas. Matando pelo trauma de já terem sido mortas. Esgotamos qualquer possibilidade de dor que viesse com prazer. Depois de tanto abrirmos caminhos e pernas, abrimos mão. Não tendo mais porquê morrer e o quê matar, saímos, um para cada lado, atrás de vida. Com a promessa de que, a cada vez, que encontrássemos, voltássemos, para que juntos pudéssemos partilhá-la. Voltamos uma vez só, para a partilha dos bens e da felicidade.

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