terça-feira, 15 de setembro de 2009
Café e Cigarros.
Sentavam-se à mesa do mesmo café toda tarde de Domingo. Dividiam o mesmo maço e a mesma caneca. Conversavam usando cada fragmento de seus corpos. As bocas não acompanhavam o ritmo das pernas que, aceleradas, roçavam umas as outras. A caneca esvaziava e logo pediam por outra. Uma marca de batom de um lado, e uma gota de café escapando do outro. Cada cigarro era rapidamente substituído pelo próximo, como uma pausa para resgatar o fôlego e organizar os argumentos. Dividiam os tragos e a vista de uma W3 parcialmente nublada. A intimidade poderia ser muito bem notada por quem cruzava por eles. Tinham a postura de amigos de longa data e o fervor de amantes cujo encontro havia acabado de acontecer. Partilhavam das mais diversas opiniões, e seus assuntos vinham como chuvas de verão, refrescantes e breves, abrindo caminho para outros. A ligação que tinham, era tal como um cordão umbilical, podendo ainda ser sentida, mesmo quando cortada. Amavam-se entre um gole e outro, ao passar o guardanapo ou folhear o, já decorado, cardápio. Conheciam um ao outro mais do que a si mesmos. Eram opostos que encaixavam-se involuntariamente. Um par de ímãs difícil de separar. O que mais tinham de comum era o gosto pela demasia, o apreço pelo excesso. Nada, para eles, poderia acabar na metade. Desgastavam os assuntos, o fluído do isqueiro, seus respectivos estômagos, mais precisamente seus corpos inteiros. Ficavam sentados ali até serem convidados a se retirar. Retiravam-se, abastecidos de cafeína e nicotina. Não satisfeitos, resolviam abastecer-se com endofirna. Seus corpos lutavam. Um pelo outro. Quando ganhavam-se compunham uma sinfonia de grunhidos e paixão. Cada centímetro do corpo de um, era íntimo de cada centímetro do outro. Conheciam seus pontos fracos, de vista, pontos X, Y e G. Desfrutavam-se, embaralhavam-se, até que, sem saber o que era de quem, colocavam-se para dormir. Não dormiam. Buscavam por mais cigarros, e quem sabe, um café frio que restou da manhã. Aninhados, esperavam que todas as cinzas caíssem, uma contagem regressiva para que seu romance tornasse-se, de novo, a forma abstrata de dois corpos fundindo-se.
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2 comentários:
Fantástico, Ju. De verdade. Sem dúvida, tá entre os melhores que você já escreveu. Quando eu acho que você já chegou no seu ápice, você me surpreende, mostrando que sua habilidade só tende a ficar cada vez melhor.
Pra mim seu futuro está nas palavras que você escreve.
Sonho. haha
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