sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

P.S.:

Estrago
Não que eu tenha nascido com tendências à comportamentos violentos. Não que você fosse saber caso eu tivesse. Não que eu não tenha te contado tudo. Não que eu também não fosse um pouco misteriosa. Eu queria bater na sua cara, é isso. Porque já é dia e você nunca acorda. Sempre é dia e você nunca acorda. Você nunca vê. E você cansou de me passar os olhos, e de achar que seria sempre assim. Você pôde mudar. E fumar seus cigarros. E escrever seus poemas. E apertar suas meninas contra o peito. Em nenhum dos seus terremotos eu desci do salto. Ou me despi para outro. Ou me despedi de você. Não me matei por não ter sido sua musa. Mas me proíbo de voltar a acreditar nisso de eternidade. E eu que te dei seus banhos, e sequei seus cabelos, e limpei as privadas. E eu que aguentei toda a sua merda. E eu que te amo e sei que com isso só me fodo. E que sei que seu amor eterno ia todo para uma foda. Você precisou me amarrar nos dedos, uma fita vermelha, para não escapar da lembrança. Prefiro pensar que errava meu número, ao pensar que preferia uma outra. Mais apertada, menos angustiada. Outra que não se envolvesse em você. Que só te visse como um herói hasteando a bandeira. E não conhecesse seus defeitos, ou seus erros, os seus fetiches. Uma que te achasse perfeito. E não fosse te amar por isso. Uma que não fosse eu tateando seus defeitos, e perguntando a precedência, e beijando cada calo e cada ferida. Porque eu te amava muito mais quando você estava errado. Porque você era lindo trocando as palavras, e deixando a água cair do copo, e sujando a barba de leite. E era ainda mais lindo quando batia o dedo na porta, e gritava meu nome, e parecia que ia chorar, mas de repente se lembrava que era homem, e falava um palavrão, e tentava resistir, mas logo estava a me abraçar forte, e se sentir minúsculo. Você precisava de todo o amor do mundo. E de muito cuidado. Mas não podia admitir. Porque era cínico e orgulhoso. E se escondia atrás dos óculos de grau, fumando Marlboro vermelho, bebendo vinho do gargalo, apertando alguns traseiros, sussurrando alguns versos. Não sei o que te dava para achar que se protegeria de tudo só por ter talento. E por ter seu charme. Se um dia, ainda com força e vontade, desistiu de lutar, então não foi amor de verdade.... Portanto, eu não desisti. Continuei, aliás, insistindo. Eu corria atrás de você feito uma cadelinha no cio. Eu precisava te salvar de si mesmo. Você nunca me assustou. Eu nunca tive medo. Mas você era um escroto. Só por capricho. Porque quando era menino jurou ter perdido o coração pra umazinha que não quis abrir as pernas. Você era um gênio, mas ainda assim, tão burro. Eu tentei inventar mil coisas para você acreditar. Eu precisava tanto te cuidar. Te colocar entre os braços e dizer não-te-assusta. Mesmo tendo pesadelos com esse mundo. Não-te-assusta, porque eu tô contigo. Eu te amo, é isso que aqui eu revelo. Caso você nunca tenha percebido. Na verdade, por você nunca ter aceitado. Por quê você achou tão mais fácil ser um fodido do que ser amado? Sabe quando faltam duas paradas até seu destino final? E o trem nunca pareceu tão devagar? E todo aquele percurso parece ser parte de um filme, no qual você, silencioso, espera que alguém entre pela janela para te salvar? Porque na frente vem algo medonho e perigoso? Estou vivendo isso. Queria tanto ainda conseguir pensar em você como um herói. Mas estou me vendo daqui alguns minutos quebrando o vidro e pulando. Acho que o ar está virando pouco para nós dois. Para nós dois e as suas conquistas. Então, em meio a isso tudo, me despido. Me despeço. Eu te quero todo o bem. E te quero por todo além.
Uma vez fui sua.
Engasgo
Boa idéia deixar o envelope ao lado das garrafas. Boa idéia me deixar sem ar. O que já era pouco, para nós dois, pareceu ainda menos só comigo. A casa está vazia. Parece um deserto e, com esforços ou destilados, eu vejo bolas de feno rolando pelos cômodos. Que silêncio. Eu escuto o grafite se desgastando nas folhas. E minha respiração. Estou sozinho. Para sempre, e desde sempre, estive. Pago pelos meus pecados. À prazo. Pequeninas parcelas de vida. Caindo feito folhas de uma árvore vistosa: está chegando o Outono. Eu tenho medo de trovões. E de raios. E de escuro. Como serei daqui para frente? Me prevejo como um filhote amendrotado, escondido debaixo da cama, tremendo desde o rabo. Eu te percebi no primeiro instante. E no primeiro instante soube de tudo que você poderia me dar. Sou ingrato por natureza. Um escroto. Eu percebi no mesmo instante em que você foi embora. O sol foi coberto por uma nuvem e a casa pareceu maior e mais sombria. E as flores também murcharam. E escutei um barulho vindo do ralo. Foi o fundo do poço. A última gota. A primeira gota de lágrima agora, porque eu te imploro: volta. Que não é tarde, pois ainda está claro. Que não é cedo, pois já está maduro. Volta antes que eu fique cego, e minha pele fique manchada. E eu perca minha voz de tanto fumar. E perfure meu estômago por tanto me maltratar. Volta. Eu te peço desculpas. E, se preciso for, te peço até em casamento. Eu te amei cego. Eu amei cego meu amor saudável. Porque o amor ia, só eu não queria ver. Eu te preciso aqui comigo para me salvar de mim. Porque eu me assusto e me perco. Eu não sei aonde me encontro, porque acabo de acordar. Volta que eu preciso do seu amor e da sua ajuda. Eu preciso aprender a andar. Volta?

P.S.: Sem querer desmerecer seus esforços. Mas você podia ter tentado um pouco mais, insistido. You know, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Te sinto, saudade.

2 comentários:

Nasaneeds. disse...

Essa coisa complicada de entender chamada Amor, que de brinde no pacote vem ciúmes, (im)paciência, orgulho e quiçá dor.

Diego disse...

Eu sou meio lento pra entender quando me olham. Eu seguro o copo junto ao peito e geralmente no fim da noite acabo numa espelunca. Ou na sala de casa a vitrola riscando o pvc. Me manda uma mensagem no celular, me liga chorando de madrugada e diz que sua literatura é só minha,pra mim, por mim.