segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Catedral.

Hora de respirar fundo, camarada. Segura esse copo, porque é a última coisa que te resta. Está na hora de começar tudo de novo. E vai doer. E você vai querer chorar. E você vai se sentir sozinho, e se afundar na cama. E vai procurar por aí, mesmo que inconscientemente. Se você vai achar, eu não sei. Mas está cedo demais para prever e desistir. Olha para frente. E diz que está vendo uma luz. E esse não é o fim do túnel. É a saída do buraco. Você vai ter que se arrastar, e perder algumas unhas na subida, mas valerá o esforço. Eu digo, mas não te prometo. Eu só quero te ajudar. É preciso que você se mantenha de pé, e perca um pouco dessa postura. Nada virá fácil. Então se levanta. Estamos prontos.


Vou morrer de amor, ou tesão. E te querer por perto. De pernas e braços abertos. Sem te conhecer. Já passei por quase tudo nessa vida, mas nunca perdi a inocência, e ainda acredito nisso de amor à primeira vista. E vou andar pelas ruas sem perder um rosto sequer. Eu vou te encontrar. Eu preciso de amor e carinho. De amor, amor, amor. E um pouco de carinho. Na proporção de três por um, de outra forma vou me sentir preso. Não gosto de ter ninguém pendurado no pescoço, ou ninguém pendurado nas costas. Não sei segurar ninguém além de mim mesmo. Não sei nem me segurar. Eu vou sair por esses Eixos desordenados. Atravessar o concreto à nado. Eu sei que você está por aí. Eu vou descobrir seu nome. E segurar no seu ombro e dizer como eu precisava de você, me dê um abraço. Nós estamos predestinados à esse encontro. Eu sinto. Eu sinto que você está por aí, pensando que vai morrer sozinha com oito gatos, assistindo novela. Mas eu vou chegar antes disso. Porque as coisas foram feitas para serem assim: eu e você e o concreto. E o céu de Brasília, arco-íris sem cor. Vou te achar, meu pote de ouro. Passei por muitos anos e canos antes de tomar coragem. E tentei me enganar. E me enganei com mulheres tão belas, as quais eu jurei meus amores mais tenebrosos, quando na verdade eu só precisava de alguém para abraçar em noites de chuva. Eu sei que você está por aí. É o tipo de coisa que a gente sente, de não ter vindo ao mundo sozinho, de que vai sair dele acompanhado. Sabe, a solidão enlouquece. Por isso eu falo com os muros. Tudo branco ou sujo. Tudo sujo de branco. Eu vou te salvar dessa monotonia de cores, desse silêncio que ecoa. Eu vou te encontrar nos meus planos. E vou ser seu piloto. A gente não sabe se é borboleta ou avião. Mas a gente voa. Eu estou voando, te procurando aqui de cima. Preciso saber aonde você se esconde. Não estou mais aguentando levar essa vida com a barriga. Vem cá me dar forças. Tenho todo esse amor guardado aqui dentro. Estou pronto para te entregar. Me encontra na metade da ponte. Acho que não vai estar chovendo. É bem ali onde o lago parece mar. E o horizonte nos alcança. Eu vou te olhar com meus olhos e alma. E tudo vai ficar certo. Eu preciso de você para cuidar, para ficar de bem comigo. Eu te perdi nessa cidade, e estou envelhecendo. Não vamos demorar, e acabar logo com isso. Eu sei que você está por aí, em algum lugar. E está difícil, mas até lá eu aguento. Eu vou salvar seu dia. Você vai salvar minha vida. E vamos sair para dar uma volta. No meio de todo o concreto, é ali que nosso amor se concretiza.

4 comentários:

Gabê Araújo disse...

Só posso dizer que os sentimentos, no texto, pareceram bastante "concretos". Parabéns!

Nasaneeds. disse...

Há a sensação que de que li uma confissão de um futuro amor da minha vida. Que ele estava me descrevendo quando disse que acho que morrerei sozinha, com oito gatos, assistindo à novela.

Diego disse...

Meu deus, te achei, meu bem, te achei! te achei te achei te achei!

Bianca B. disse...

Morrer sozinha, com oito gatos, assistindo a novela. Duas eu já tenho.
O texto tá lindo de água. E doído, mas cheio de esperança. Lindo!