domingo, 19 de dezembro de 2010

La Fille Danse.

Meu amor,
tudo isso não significou nada. E eu quero que você saia da minha frente. E eu espero que você suma da minha vida. Por favor, se afaste. Você está atrapalhando minha saída de ar. E eu ainda não terminei de fumar meu cigarro. E o café está lá em casa esfriando. E sua cara de morta está me deixando irritado. E que se danem seus amores e seus pecados. Eu não quero saber de nada. Não me importo para quem tem dado seus beijos, e na mão de quem tem guardado seus dedos. Eu preciso sair daqui. Então se você pudesse me dar licença, e me levar até a porta, e devolver minhas coisas. Eu preciso levar tudo embora. Vê se me esquece. Isso está ficando difícil. Não me olhe com esses olhos. Isso tudo me deixa triste. Vou descer a avenida. E encontrar alguém. Preciso redescobrir sabores. E não me importo o tanto que você me toque. E não tente puxar meu rosto para o seu. Estamos nos movendo rápido demais. E eu não quero nos acompanhar. Estamos rodando. Estou meio perdido. Daqui uns dias chegará o Natal. E o ano vai virar. Cheiro de caramelo e vida nova. Hora de cortar o cabelo e aceitar as mudanças. Precisamos chutar a bola e seguir adiante. Você vê o tanto que isso vem machucando. Não negue. Nós não somos mais os mesmos. E mal aguentamos um o cheiro do outro. E você quer me dar um tapa. E eu quero te dar as costas. E que se dane se isso é mesmo amor. A gente esquece. A gente finge que sim e muda de posição. Eu vou começar a dormir do lado esquerdo da cama, e trocar os lençóis. Duro isso de fingir ser forte. Mas alguém tem que ser. Senta aqui do meu lado. As coisas estão ficando ainda mais difíceis. Encosta a porta. Eu vou ficar mais um pouco. Deita aqui no meu ombro. E vamos tentar não chorar. Somos melhores do que isso. Somos melhores do que nós. Nós...estamos atados à tantas coisas. Eu me sinto meio preso ao passado. E isso vem me embrulhando o estômago. Nos ver assim me dá ânsia. Parece que abrimos mão, e jogamos tudo fora. Mas eu sei que a gente lutou. Estivemos aqui com facas e arpões. E pau e pedra. Resistimos, enquanto pudemos. Eu vi você cansar. Você me viu desistir. Tudo isso significou tudo. Vou falar a verdade. Amor completo, de levar pela vida inteira. Não quero que você jogue na minha cara tudo que eu te fiz. Vamos ser suaves. Não deu certo, é isso. Deu certo, mentimos. Era muito cedo para nós. E não tivemos como acertar o relógio de acordo com nosso tempo. Também não pudemos inventar um tempo só nosso. E viver como dois hippies no meio do mato. Tudo girando em volta. Eu orbitando em volta de você. E vice-versa. Dois planetas distantes. Eu e você. Balançando. Você balançou comigo desde o primeiro momento. Não tenho muita nitidez na memória, e estava escuro, e ébrio. Mas eu lembro dos seus olhos, e de você só-sorrisos. Você não estava nos meus planos. Era para ter sido outra mulher. Que desconcerto. Mas uma hora eu tinha que te revelar isso. Era uma ao seu lado. Mas nossas vidas se confundiram. E você foi a melhor escolha. Que eu nem escolhi. Você foi minha festa surpresa. E que felicidade ter te encontrado. Mesmo nós dois no tempo errado. Eu perdôo essa vida, por tudo. E a culpa disso é sua, desse perdão inconsequente. Disso de colocar a cara à tapa. Ainda preciso matar muitos leões. Eu aguento mais uns anos. E vou seguir me lembrando de você. Eu juro querer ir embora. Precisando que você me peça, e eu fique. Porque a idéia de virar hippie parece feliz. Porque qualquer idéia contigo é feliz. E isso é tão triste. Porque estamos tão perto e tão longe. Empacota tudo isso, vou levar comigo o seu cheiro. E todas as lembranças. Não quero sentir saudades. O que eu mais quero é sentir seu toque. Tem me doído tanto ter que te escrever essas coisas. Essas cartas de despedida. E ter que te desejar muita felicidade. E muito amor. Dói te desejar o amor dos outros. Mas espero que te amem. Bem longe para eu não sentir inveja. E não querer socar as paredes. Eu não preciso mentir. Meu amor, enfim estamos livres. Você sempre quis voar. Mas vá com cuidado. Não poderei estar aqui para te proteger. Não quero seguir nisso de me ferir. Amar amor de longe machuca. Não posso ficar perto. Não posso ficar longe. Não posso ficar. Quero dormir e acordar lá na frente. E te encontrar comprando cigarros. Você usando o mesmo perfume, e me olhando com a mesma vontade. Faz esse tempo passar rápido. E as coisas acontecerem como devem acontecer. Não adianta negar. Fomos feitos um para o outro. E a gente se precisa. Eu queria ficar agora. Eu queria tanto que fosse agora. Não quero correr o risco de cair no esquecimento. Se lembre de mim. Por favor, prometa. Eu prometi não chorar, outra coisa que eu não vou cumprir. E você vai jogar na minha cara mais para frente. Não teremos mais para frente. Lá na frente você nem se lembrará de mim. Não aguento o gosto das lágrimas. Que vontade de você. Quebra os ponteiros, por favor. Vamos acontecer agora. Não me deixa ir. Por favor, me segura nos seus braços. Estou perdendo a força nos pulsos, não consigo mais te escrever. Estou me lembrando do seu sorriso, e estou ficando com medo. Eu vou arrumar alguém para me esmagar de madrugada, e coçar minhas costas. Não vou ser feliz. Não vão saber do que eu gosto, do que eu quero, do que eu preciso. Você podia dar umas aulas. Só para eu aguentar essa vida. Estou vendo que vai ser difícil. Já está sendo. Eu preciso te deixar ir. Vou ficar mais uns anos. Quero absorver isso tudo. E recuperar o fôlego. Vou fumar outro cigarro. É o último, e está virado. Preciso fazer um pedido. Meu Deus, como estou perdido...vou te pedir em casamento. Sei lá se isso vale. Estou com medo de morrer antes de nos recuperarmos. Então vou te escrever uma carta por dia até eu não conseguir mais. Preciso que você saiba como eu te amo. E como eu te quero. E como eu te espero. Vou fazer minha barba, e vestir uma boa roupa. E dar uma de Don Juan pela cidade. Vou te encontrar em outro corpo. E fingir que estou matando a saudade, e não a mim mesmo. Promete que um dia você volta. Só para eu dormir essa noite. Estou cansado. Sabemos que promessas não tampam os buracos. Mas eu sempre estive aqui para me enganar. Vou morrer de saudades. Vou morrer de amores. Vou morrer sozinho.
Um beijo nos seus pés de bailarina,
Partir gaiement vers mon oubli.
Com todo o meu amor, me parto e me despeço.
(e me despedaço)

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