sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Feliz Amor Novo.

Às dezoito horas eu te encontro. Passo aí. Posso? Quero te dar um beijo. Quero te dar um abraço também. Quero sentir seu cheiro. Promete passar aquele perfume? Sinto saudades. Mas não quero que se sinta mal. Não com isso. A gente sabe. A gente conversou. A gente até chorou. A gente sabe. Você disse. Eu sei. Eu disse. É fim de ano. Perseverança. Esperança. Perdão. Paz. Vamos ficar em paz. Mas não temos como esquecer. Então vamos continuar aflitos. Ansiosos. Ansiando. Eu te disse, sinto saudades. E quero te saber mesmo longe. E te saber mesmo escondido. Te vasculhar. Te vigiar. É que eu tenho um pouco de medo. Não quero que ninguém te machuque. Ninguém vai me machucar, prometo. Você sabe que sou forte. (Mas sou forte até quando?). Há muito tempo você foi embora. A gente tem que aprender a se apoiar. Sozinho. Acho que aprendi. Só machuquei um pouco as mãos e os joelhos. Mas nem ficaram marcas. E se tivessem ficado, eu teria escondido. Não mostro à ninguém minhas fraquezas. Mas uma vez te mostrei. Foi porque você me mostrou o caminho. Você me disse, sinto saudades. Do que mesmo estamos falando? Me conte alguma coisa. Antes que eu vá embora. Eu vou embora. Um de nós sempre vai. Dessa vez vou eu. Vou te dar as costas. E sair andando. E aí! do meu coração se você me gritar. E aí! do meu coração se eu não voltar. Vai ser difícil controlar meus pés. Vou querer um cigarro. Já te contei que parei de fumar? Pois é. Parei. Parei e voltei. Então me empresta o isqueiro. É verdade. Você não fuma. Lembrei que tenho uma caixa de fósforos. Pede outro chopp. Os dias têm estado tão quentes. Tenho preferido isso de dormir sozinho. Me tem sobrado espaço. Gosto de espaço. Falando nisso, mudei de apartamento. Um dia desses te chamo para ir lá. Mentira, não poderíamos ficar sozinhos. Não que você me dê medo. Você me intimida. É que você sabe de tudo. Você sabe onde tocar. Você sabe onde tocar para que eu chore ou para que eu goze. Dizem que é a tal da intimidade. Acho que é uma coisa só nossa. Sem nome. Órfã. Órfã porque somos os pais. E abandonamos. Abandonamos tudo. E agora, meses depois. Reencontro. Gostei do seu corte de cabelo. Jurava que você era meio loira. Está bonita. Nem parece ter perdido um amor. E foi amor mesmo? Não quero enlouquecer. Nem nada. Estou só perguntando. Foi ou não foi? Se foi, por quê então você não sofre? Desculpa. Prometemos não falar nessas coisas. É que eu não consigo só te olhar. Só te olhar e deixar quieto. Mas deixo. Silêncio e sombra. Vou fingir que, por mim, tudo bem. Vou fingir isso por você. Deus! Como me tornei altruísta! Coisa sua. Isso. Coisa sua. Isso de sentar no gramado e olhar o céu. De comer com as mãos e se lambuzar toda. Que felicidade você me deu. Que felicidade você me traz. Você é tudo. Você consegue ser tudo. E aí que talvez eu me arrependa. Você se arrepende? A gente deixou a bola cair. Né. Manobras perigosas. Né. Amar é isso. Né. Entregar coração sem conhecer o carteiro. Dá nisso. Né. Ainda dói falar à respeito. E prometemos que não. Ainda assim, eu falo. Desculpa. Outra vez. Vou me calar. Me conta alguma coisa. Acho que eu guardo mágoas. Me cura? Você sempre jogou tudo pra mim. Tudo pra cima de mim. Agora é minha vez. Me ajuda? Não vou chorar. Entrou alguma coisa no meu olho. Tá ardendo. E só não te digo. Mas sei bem onde. Não me abraça. Não precisa me abraçar. Olha o que você está fazendo comigo. É perigoso se sentir seguro. Não vou querer me soltar. Vou querer voltar no tempo. E vou querer ser outra pessoa. Vou querer ir mais pra frente. E depois voltar. Quero voltar sendo eu agora. Acho que eu seguraria a barra. Você poderia até aumentar o peso. Estou ficando velho. Ou vai ver é depressão. Odeio me sentir preso. Mas algumas partes minhas ficaram com a gente lá atrás. Eu fiquei preso com a gente. A gente foi embora. Cada um para seu lado. Eu fiquei. Eu. Quem sou eu? Desculpa. Não comi direito. Não cumpri nossa promessa. Estou falando. E falando. E meu estômago está ardendo. Eu reclamando. E você aí inteira. Nenhuma parte faltando. Quer dizer que nenhuma parte sua ficou comigo? Acho que eu estive me enganando. Jurava ter sido mais forte. Forte para você. Como foi para mim. Estou eu mesmo aqui me machucando. Remoendo. Cutucando. Sofrer uma vez só não basta. Nada basta. Pra mim. Né. Bem que eu suspeitava. Estou por me tornar cada vez mais amargo. Há pouco eu era até agridoce. E você sequer sente minha falta. Posso fingir que não dói. Agora que tudo faz sentido. Jeito bom de acabar o ano. Daqui a pouco é vida nova. Faltam dois dias e três horas. Passou o Natal. Aumentaram as esperanças. Vida nova. Não temo em reencarnar. Mas em perder a carne que está agora comigo. Quero te abraçar forte. E abraço. Revivo. Ressuscito. Reencarno. Renasço. Não importam quantas sejam as vidas: você sempre estará comigo.

2 comentários:

Natália Valle disse...

Bom... muito bom, na verdade. Parabéns loirinha. (:

Nasaneeds. disse...

Reencarnar é algo se faz toda hora, se for parar para pensar.