quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Branca de Neve.

Eu te seguro, e eu te protejo, e eu te cuido. E te prometo que para sempre, que paro-raio, que para sempre. E você desvia o olhar, e sua pele branca me acalma, e chega o silêncio, e se instala. A gente conhece a agonia de não saber quando o nosso para sempre acaba, de não saber para quem vamos contar quando isso acontecer. Porque temos a certeza de que mesmo dividindo mil segredos e cruzando nossos dedos mindinhos e dando o primeiro bom-dia e o último boa-noite e os melhores beijos: não vamos contar um para o outro que percebemos o fim. Vamos esperar. Existe o impulso, mas todo mundo espera. Todo mundo sabe bem antes, a gente sente. A gente sente quando, de repente, uma hora, a gente se entreolha e se entrega à Deus, e seja-o-que-ele-quiser. O estômago é, subitamente, comprimido e tudo vira um sufoco, e as olheiras ficam mais profundas, as contas ficam mais caras, a casa fica mais bagunçada, os roncos ficam mais altos: a gente se cansa. Eu não quero me cansar de você. Nunca. Eu não quero. Quantos outros antes já não devem ter estado na frente de alguém, e ter tido o mesmo devaneio, e chegado ao mesmo suspiro-conclusão. Eu não vou me cansar de você. E cansar é uma palavra tão feia, tão fria, tão feita de plástico. Você não é uma boneca, embora pareça. Eu não tenho mais doze anos, embora pareça. Eu te quero assim, desse jeito para sempre. Você com as mesmas bochechas rosadas, eu com o mesmo frio na barriga por te olhar de perto. Eu quero pertencer à você para sempre. Eu não quero pertencer à mais ninguém. Você me faz tão feliz. E tudo mais é tão efêmero, e tudo mais sequer me importa. Ninguém segura minha mão como você, é por isso que eu te amo. Porque até pelas coisas mais bobas e, até, mecânicas, seu amor me basta. Constato agora que não há nada mais belo: nem as gérberas, nem o mar. Constato também que, não sei se sou eu quem te mereceu, mas de alguma forma, eu te tenho. Porque seus dedos estão segurando os meus, e suando um pouco frio. E eu estou te pedindo o eterno. E eu estou te prometendo o mesmo. E você está desviando o olhar, e o sol está batendo em seus cabelos e olhos: você me traz tanta paz. E tanta sensação de ano-novo-vida-nova. Seus olhos têm tanto medo. Agora. Seus olhos com medo me dão medo e um calafrio sobe minha coluna. Não sei se você viu ou está vendo alguma coisa. Fiquei com medo. É algo ruim? Eu quero te proteger, me conta. Você está me assustando, me fala. Está tudo bem? Me ama. Por quê você não respira? Volta. Eu te seguro, eu te protejo, e eu te cuido. Eu te preciso, não sangra. Eu não consigo te perder, nem para a idade. Eu não sei como te perder. Só se passaram quarenta anos e já querem te levar embora. Mas eu te prometi a eternidade. Tem alguma coisa errada, me leva contigo. Eu estou com medo, me abraça. Me abraça porque seu abraço sempre me salvou de tudo. Você me segura, você me protege e você me cuida. Branca-de-neve, fica. Eu preciso que você fique até a hora do chá, para me coçar a cabeça e perguntar como foi meu dia. E rir. E rir muito quando eu te dizer sério que senti uma coisa esquisita que achava já conhecer: branquinha, você não sabe o quão mórbida é a sensação de segurar uma outra vida nas próprias mãos. Que sensação delicada a de não deixar que ela caía, ou que ela suba - isso de paraíso e inferno faz tremer os braços. Olha para mim, a gente prometeu nunca passar por isso. Olha para mim, o para sempre não pode acabar comigo. Não me deixa com esse peso e me leva contigo. Eu vou sentir tanto a sua falta, branquinha. Eu vou sentir só a sua falta. Eu te amo para sempre, me espera? Perdoai todos os nossos pecados: meu amor foi avarento, branquinha. Eu te seguro, eu te protejo e eu te cuido daqui. Me espere lá, eu prometo que chego até a hora do chá.

A.M.J.

4 comentários:

Anônimo disse...

ok, esse foi, UAU!

@hannahvelloso

Anônimo disse...

Você é uma das pessoas que eu vejo escrever, que mais transmitem ALMA nos textos. (E olha que eu leio muito). Espero ver algo seu, por aí, espalhando-se pelo mundo, e que todos reconheçam teu dom. Porque pessoas como você, não merecem menos do que serem conhecidas. Linda.

Anônimo disse...

Tipo, me deu calafrios na espinha.

Anônimo disse...

Além de gostar tanto da branca de neve pra chegar ao ponto de ter uma tatuagem dela, esse texto mostra tudo que eu penso e tenho passado ultimamente. so tenho a agradeçer por esse espelho. ahaha