segunda-feira, 21 de junho de 2010

Teoria.

Apressada, entrou na sala. Sentou-se na primeira cadeira, na exata fila que demarcava o centro. Desastrada, derrubou seu estojo e um pacote de balinhas. Costas à mostra, denunciavam sua pele pálida pintada por sardas. Nem gorda, nem magra, robusta. Longas e grossas pernas, lábios abençoadamente recheados, fios negros e encaracolados. Com ela, nunca troquei sequer uma palavra, ou sorriso, ou qualquer coisa que expressasse que ambos sabíamos da existência um do outro. Acho que se não fosse por minha insistente tosse, ela nunca perceberia que eu estava sentado há duas cadeiras de distância, tirando as cutículas com os dentes, pensando em toda a tristeza humana. Não sei se achou-me engraçado, mas deu uma risada. Era aguda, sem desafinar. Tinha rosto de mulher vivida, e mãos que pareciam já ter tido um dono. Não sei porque falo sobre ela, não sei porque chamou-me a atenção. Talvez a tal tristeza na qual pensava enquanto a ponta dos meus dedos envolviam-se em sangue levou-me até ela. Porque sabe...aqueles lábios, tinham cor de sangue fresco.

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