quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sadomasoquismo.

Enviaram-me uma tal carta, sem destinatário, é claro. Pus-me a pensar sobre a necessidade de saber de que mãos vieram. E de que mãos vieram as tantas outras. Talvez o prazer esteja nisso, nessa perda - de identidade -, nessa impossibilidade de contê-la. Talvez também, eu esteja errado. Como estive quanto aos beija-flores que passavam por aqui de manhã cedo. Para mim, que estavam sempre aqui pela permanência ainda do cheiro dela, mas o cheiro ainda não se foi - acredito. E os tais bichinhos nunca mais apareceram. Talvez eles tenham vencido essa parte dolorosa, na qual, feito um feitiço, seguimos instintivamente - e cegos - qualquer rastro. Enfim, deles não sinto falta. Quer dizer, não tanto como sinto a falta dela. A tristeza mais feliz é que o cheiro permanece. Não mais tão forte, mas aqui preso entre os pêlos das narinas, do bigode, da barba. O cheiro dela ainda está preso na minha língua. E é por isso que nada mais sai e nada mais entra. É, e pensando bem, talvez o prazer não esteja na perda. Pois a perda é dor. Se bem que assim, desmereço todo os sadôs, masôs, sadô-masôs, entre outros insanos. Quer dizer...até que um tapa na cara às vezes dá-me a vontade de pedir por mais, e um beliscão dá-me a vontade de ver rasgar a pele. Mas não...não é dessa dor que falo. A dor de que falo não cabe em ataduras, anti-sépticos, elixires de mil coisas, florais, massagens terapêuticas. A dor de que falo mal cabe na fala. Foi inventada para ser calada, no máximo gemida, dor contida. A dor presa entre as extremidades de um corpo. Excitada a ponto de querer sair pelos poros, em forma de choro e de noites mal dormidas. Essa é a dor conquistada pela falta, pela saudade, pelo prazer de martirizar-se pelo que não se pôde segurar com as mãos. Está bem, estou mais do que convencido. Dor é prazer. Mas como defino a saudade?

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