domingo, 11 de agosto de 2013

Se (eu) vim e se (alguém) virá

Quando fomos confusão:

Já era madrugada
quando dois corpos
gelados
fizeram 
calor,
do atrito da 
manta
com a pele
com as peles.
Do atrito
que dois corpos
causam
quando anseiam
por se tornar
um.
Um corpo só.
Em corpo
e alma.
Sem que haja calma:
o calor que
vem do atrito
é fruto
é folha
é em carne-viva.
Carne que revive
sem esperar
renasce
do pó
rebenta
que nem mar
regenera
em pele
em osso
em alma.
O calor
vem do atrito
afoito
fugaz
agressivo
que transborda
e remenda
o corpo
a alma
com coração
ou não.
O frio
some
quando
e qual
qualquer alma
descobrir
cobrir
redescobrir
recobrir
um corpo
além
do seu.


Quando fomos ausência:

Do passado, um apartamento quase completamente esvaziado, o último mês de aluguel a pagar, um velho álbum de fotos, um rolo de barbante esquecido em uma das gavetas da cozinha, a maçaneta enferrujada da porta da sala, a falta sua que fiz minha e um poema que subiu no muro:

Se provavelmente,
e se prováveis fossem,
todas
as coisas
que não são
e todas as outras
coisas
que se são
não se sabe,
não se sonharia tanto,
não se seria tanto.
E eu não enrolaria
tanto mais
para dizer
o que eu te digo
sem nem saber
(se quem diz sou eu
ou você)


Quando fizemos confusão:

Quando sinto
sua falta:
quando sentir 
a sua falta
te transforma
em presença,
eu me ausento.
Eu me desfaço.
Diluo.
Eu me despeço
do que,
ao meu redor,
gira.
Eu rodopio
enquanto tento
te encontrar
enquanto tento
te fugir.
Me encontrar
e fugir de ti.
Te encontrar
sem que esteja
mais aqui.
Necessidades
inúteis.
Eu me rendo:
mesmo quando se foi,
você nunca
saiu
de mim.


Quando fizemos ausência:

A vaga vazia na garagem.
A caixa amassada com farelos de cereal.
Cafeteira sem filtro.
Marcas de pneu circulando a esquina.
Duzentos e setenta e três dias riscados no calendário.
Porta incenso sem portá-lo.
Cama de lençóis brancos
frios
amarrrotados
e sozinhos.
Por que
lhe escrevo
sobre a ausência?
Porque ela quem lhe impede
de estar presente
aqui para ler.


Quando fomos interrogação:

Duas horas da madrugada
e o teu cheiro
e a tua respiração
e o teu calor
e o teu suor
e a tua
minha
falta
e a nossa
minha
saudade
vontade
de te tornar
realidade.
É quando olho
para o lado
para o espelho
para o retrato
para o fato
de que nunca te conheci
e de que
ainda assim
te abraço.
Não choro
te aceito,
imaginário,
e nem assim
te desfaço.
É quando olho
para o mundo
É quando tomo
conhecimento
de nossa
absoluta
solidão.
A partir daí
decido
se te crio
se te amo
ou se não.


Quando fomos ponto:

Saudade do seu cheiro.
Saudade do jeito
como dança.
Saudade até
de como você
me empurra
me deixa cair
e nunca me alcança.
Aliás,
esquece.
Te esqueço.
Amor:
embora sintamos
como,
não é coisa de criança


Quando fui esperança:

Eu quero um amor
bem assim:
que faça os outros
quererem
o amor
também
(tão bem).


Quando fui lembrança:

Sobre o amor,
aprendi duas coisas:
a amar muito
e a amar muito mais
quando muito já
parecer
pouco


Quando deixei ir:

Foi bom
e foi lindo
desejei eterno
e foi suave
então pesou
e revelou-se findo.
Finalmente,
te esqueci.
Antes tarde
do que nunca.
O precisar esquecer
é um relembrar
imediato.
Mas se antes arde,
depois nunca.

Um comentário:

Anônimo disse...

arrasa meu coração!
armaria <3