quarta-feira, 28 de agosto de 2013

E agora que sou Zé?

zé era zé, mas não era josé e também não era de sobrenome ninguém
zé era zé e ponto, porque assim são as coisas: são e ponto
zé era sem explicações, para ser e para dar
era de poucas palavras ou quase nenhuma 
o corpo de zé era mais de setenta por cento de água e o que sobrava, preencheu de silêncio
ele existia a partir de uma mesma existência dos sacos plásticos que rolam, tranquilamente, por vias de 100km/h
indiferente a pressa do mundo indiferente ao mundo, como um todo, muito disso por viver em outro
- esse menino é de outro planeta
primeira lembrança que tem de seu pai
- por que, zé? por que você é assim, menino?
primeira lembrança que tem de sua mãe
mas quando zé ensaiava abrir a boca e esboçava as primeiras palavras para explicar as tons de azul e branco e as ocasionais variações de vermelhos laranjas e amarelos que via lá bem atrás de seus olhos azuis da cor do céu, sua mãe já preparava um chá forte de camomila e alcançava a caixa de lexotan que nem sugeriu a irmã dela
- sua tia é médica da cabeça, zé, só engole esse trem menino

engole esse mundo, zé
e tome aqui um copo d'água
antes que ele te engula




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