quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Algo de você feito em mim

é estranho pensar que talvez você tenha alguém e que talvez eu tenha também
é estranho pensar que fomos o alguém um do outro há um tempo atrás e que agora
e que agora mais nada
agora eu acho que você talvez pense, às vezes, quando não te sobra mais nada quando as paredes são totalmente brancas as tardes demasiadamente quentes e o ventilador repete um mesmo movimento e você se cansa do que está lendo ou escrevendo ou do projeto em que está trabalhando e pensa em mim
acho que sim, às vezes, você pensa em mim
quando não há nada melhor para fazer ou quando você sente um cheiro e com ele a saudade
saudade que talvez não seja a saudade em si, mas é esse o nome que damos as coisas que nos faltam
mesmo as que nos faltam sem fazer falta
às vezes, acho que também penso em você
e nem sempre percebo talvez isso aconteça quando algo aperta forte no peito e eu não saiba porque
talvez quando aconteça quando peço um café e imediatamente peço uma garrafa d'água mas só então lembro que esta eu pedia para você
eu tomo e sempre tomei café puro
às vezes, acho que penso como estou pensando agora, sem ter imaginado, sem ter previsto e tendo negado que às vezes penso como estou pensando e escrevendo agora para que as coisas fiquem mais claras
que tenham letras nessa saudade que não sinto
que tenham vírgulas e pontos nessa saudade que existe, mas não como tal
que tenham letras maiúsculas e parágrafos nessa falta que se acentua nas lacunas dos dias
que tenha cidade data e minha assinatura nesses alguéns
que fomos
que somos
um para o outro
para outros
esses alguéns
que se tornam ninguém
que preenchem esse ciclo das coisas
que são naturais nesse início meio e fim
essas coisas que não foram feitas para doer
mas que doem
e apertam
mesmo assim

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