domingo, 11 de agosto de 2013

Vá para a coletânea que te colete

Da ameaça:

E se eu for embora?

E se for de vez?
E se for agora?
E se a ausência,
for o necessário
para que a presença,
se (des)faça.
Sombra
contraste
sermos luz
seres de luz
que depois apagam.
E se para nunca,
o mais?
Somos pele
osso
e alguma coisa
que nos apunhale.
Por dentro
ou por fora.
Somos
o espaço em branco
entre o para sempre
e o para sempre
ir embora.


Da paixão:

Acordava com os cabelos desalinhados.
Olhos sujos de sono.
Bafo de preguiça.
Movimentos de lagarta.
Desejos de borboletas.
Sempre distante do chão.
Corria até o banheiro.
Saltitava de volta para a cama.
Abraçava por trás.
Mordiscava a nuca
beijava as costas
alisava o peito.
E ia descendo
ao mesmo tempo
que provocava
uma subida
aos céus.
Não importava
a cama
o corpo.
Pela manhã,
se não era eu,
sempre haveria um outro.
Se não minha,
sempre de alguém.
Se não aqui,
sempre em outro lugar.
Eu girava
em torno dela,
mas ela só vinha
quando lhe convinha.
Eu me despedia
esperando
que ela resolvesse,
um dia,
voltar.
É como nos filmes,
onde a gente se dilacera
fingindo
saber
amar.

Do amor:


Amor:
é preciso morrer de
para viver com.
Não me esqueço
de sua imagem
de sua passagem.
Somos pele
osso
e alguma coisa
que pulse.
Amor:
é uma das coisas
que te mata
pra te ensinar a viver.
Distantes
ou não
do poço.
Somos amor
e osso.
Eu quero morrer de amor
e matar.


Da origem:

A inspiração tem a ver com o fim.
Com a ruptura.
O vinco.
O não mais vínculo.
O rompimento.
A inspiração vem da quebra
da dobra
da queda.
De um buraco
ou de um precipício.
De onde se salta
mas não se morre.
O fim de onde se renasce
se reencontra
se recupera
se redescobre.
O amor não dói.
A gente é que dói.
Nós fazemos
a dor
que somos.
Somos
a dor
- ou o estanque –
que queremos ser.
Minha inspiração
vem da falta
do fim.
Ela veio
de onde eu vim.


Da constatação:

No final, 
quando já havíamos
nos tornado
gritos
farrapos
cacos
e só
e nada mais
e não mais
e para nunca mais.
Você bateu forte
na porta
o punho
no coração
os verbos.
Você disse:
o amor dói.
Não!
A gente dói
- retruquei.
O problema é
o sujeito.
Termos nos
sujeitado
a isso
tudo
por
quase
nada.


Do esquecimento que não esqueci:

Eu te esqueci.
Eu te deixei para trás.
Eu te vi bem de longe,
fazendo sombra 
com o horizonte.
Mas você sempre me vem.
Nas noites de lua cheia.
Nas canecas cheias de café.
Na presença de um homem.
Na barriga de uma outra mulher.
Você sempre me vem
porque permiti
que morasse em mim.
E em todas as coisas.
Que me rodeiam.
Que me incendeiam.
E se apagam.
Até hoje,
nunca soube onde morava meu amor.
Porque tinha o medo infantil
de te (re)
descobrir.
E assim me perder.
Me perdi
de uma forma
ou de outra.
Já bem antes,
num tempo em que não quis enxergar.
Aconteceu desde o momento
em que te conheci
e os arrepios na parte baixa da coluna
- que se estendem até agora.

Um comentário:

N. disse...

Ah, o amor e a não dor que ele proporciona...