segunda-feira, 17 de maio de 2010

Patati Patata.

Era feio, aliás, horroroso. Mal ocupava suas calças jeans, parecia um fantasma de camiseta branca. Era todo destruído, invadido pela tristeza, mas sabia portar-se como ninguém. Sorrateiro chegava, e assim ficava. Pedia um copo, logo depois a garrafa. Tirava do bolso três maços. Hollywood vermelho, por quê? Ah! gosto do nome, "Holly Wood", "Holly would?", "Would she?", e também acho que Holly teria as bochechas avermelhadas de sol americano, yes, she would. Talvez fosse assim, meio lunático, divagando sozinho. Mas algo nele fazia sentido. E apreciava sua inconstante companhia. Abria a boca e desentupia-me os ouvidos. Não era isso que queria dizer, mas ia e dizia, quer dizer ele queria sim, e desculpe-me a sinceridade e a descrença - falava extremamente sério. Todo dia vinha com uma idéia nova. Ontem cortei eu mesmo meu dedo, e então eu ficava perplexo. Queria saber o porquê. Ele ria da minha ignorância - era isso mesmo? Queria saber se a dor era a mesma de um acidente, e explicava tão calmo, falando feito brisa. E doeu? Pedi desculpas pela ignorância cada vez mais profunda.
- Cara, não doeu! Não doeu! Não doeu e eu chorei! Chorei mesmo, parecia um bebê desmamado.
- Chorou?
- Sim, chorei! Se você tivesse me cortado, talvez doesse! Talvez sangrasse tanto, e tanto que eu nunca pudesse esquecer...mas sangrou feito brincadeira, duas horas e parou! Mais outras duas e eu esqueci! Dá-me um tapa, um forte! Vai doer, e eu vou chorar, mas vou chorar escondido! Porque você pode me machucar e...
- Eu?
- Cala a boca! Você pode foder com minha vida, coagular meu sangue, arrancar minhas lágrimas com uma faca de cozinha! E nem isso eu posso...por quê eu não posso me machucar? Por quê isso tem que ser trabalho dos outros?



Ele é um cara que sabe muito como falar do medo, da solidão, não é?

Um comentário:

Anônimo disse...

ele é um cara que sabe muito como sentir o medo, a solidão, não é?