segunda-feira, 17 de maio de 2010

Amor.

Já era pôr-do-sol em seus olhos, e eu tendo acabado de acordar. Braços, costas, pernas e coração doloridos, o que foi que aconteceu? O cheiro caramelado da cafeteria ao lado, e seus pés pedindo aos meus para que tivessem pressa. Seus pés dizendo aos meus que saíssem logo dali. Mas era bem eu quem não queria. Queria ficar, e talvez dormir mais um pouco. Na esperança de que minha feição sonolenta fosse angelical o suficiente para que você fitasse os olhos em mim, apoiasse o rosto com um braço, e com o outro contornasse meu corpo comprimido. Eu sei, não era culpa sua que eu fosse velho e cansado. E também não era minha. Tentamos acompanhar os anos, como tentamos, meu amor. Mas ali, do lado de fora, entre as brechas da persiana, algum outro eu que saiu de mim, observava-nos com destreza. Éramos dois péssimos velhos, cujas rugas e fraquezas não cabiam. E ainda vinham-me aos olhos aquelas suas olheiras. Queria pedir para que, por favor, saíssem dali. Mas meu amor, elas não saíam. E tampavam aquela sua doçura que acompanhou-te por vários dos muitos anos. Como eu queria dormir, como eu precisava dormir. E sonhava - acordado - em acordar desse pesadelo. Não acompanhamos nossa idade. Não prosseguimos com nossa vaidade. Você ali, com um copo de chá gelado, vestida em uma camisola estampada, seios quase à mostra...você, meu amor, tão não-quem-amava. Eu logo ao seu lado, estraçalhado na cama, com uma cueca manchada de tanto uso, com cabelos acinzentados em volta do umbigo. Aonde estava seu copo de vodka? Seus saltos altos? Meu amor? Aonde estava meu amor, meu não-tão-amor?

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