terça-feira, 4 de maio de 2010

No Caminho.

Chamava-me de visitante, dizendo que eu havia vindo, mas nunca para ficar. Olhava-me esperando que eu abrisse a porta, e num segundo qualquer, sumisse dali. Olhava-me assim achando que eu não soubesse, mas a desconfiança era gritante em seus olhos fitados nos meus. Gostava de assustá-la balançando as chaves e alcançando o casaco detrás da porta. Mas o que conseguia era seu sorriso apreensivo apoiado em seus lábios trêmulos. Nas noites de monotonia plena, queria sentar-me ao lado dela e dizer cheio de um cinismo ébrio: apaixonei-me por outra, mordendo-me para saber se daria-me um tapa com uma de suas mãos finas ou diria-me vá-em-frente com sua voz de violeira mansa. Mas continha esse meu desejo sádico de vê-la doer-se um pouco, e abraçava-a com meu corpo carente de sol.

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